Capítulo 14

7K 556 10
                                    

Analisei rapidamente meu pai, ele estava três vezes mais magro, com os ossos quase que a mostra. O corpo dele era a perfeita definição de pele e osso. Seus olhos cintilavam a me olhar, mas notei tristeza neles também.

— Minha filha, que saudade — meu pai me abraçou.

Eu não sabia exatamente como reagir. Não sabia se o empurrava, se o abraçava de volta. Então, eu só permaneci ali. Petrificada. Sem qualquer reação.

— Annabela? — ele disse se desvencilhando do abraço, como se estivesse verificando se estava viva.

— Annabela? O quê? Primeiro, que você ta fazendo aqui? — cuspi as palavras tão rápido que meu cérebro mesmo não captou o que eu disse.

— Minha filha, eu vou lhe explicar tudo — ele disse em meio a uma crise de tosse repentina dele.

Eu não seria amável e perdoaria facilmente como ele esperava. Ele tecnicamente me vendeu, pra alguém que nem mesmo ele sabe quem é. Eu o amava. Mas não iria facilitar nem um pouco.

— Minha filha? O quê? Eu não quero ouvir nenhuma explicação. Você me vendeu pra um cara que nem você mesmo conhece. Que tipo de pai vende a filha? Qual o seu problema? — senti as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. — Sai de perto de mim — ele tentou me segurar um de meus braços. — NÃO ENCOSTA EM MIM — gritei ao sair daquele quartinho, que provavelmente era onde Olga guardava e organizava todos os produtos de limpeza da mansão.

Um nó muito forte se fez na minha garganta, quase me impedindo de respirar também. Eu só queria gritar. Corri tirando meus sapatos de salto e os segurando em uma das mãos, pelo corredor que eu já nem sabia aonde iria, pensei que daria na cozinha, mas só deu em outro quarto de limpeza daquele mesmo formato. Quanto mais eu me perdia, mais eu sentia as minhas lágrimas. Passei uma das mãos nas bochechas, e a tinta preta causada do rímel derretido em meu rosto parecia se tornar maior pela minha interferência em secar minhas lágrimas.

Meus pensamentos estavam confusos.

Eu não sabia que tanta mágoa do meu pai habitava em meu coração. Por alguma curva que trilhei entre os corredores, acabei pairando sobre o gramado do jardim.

Alguns grupos de pessoas estão rodeando o jardim, alguns casais também, todos ainda muito elegantes. Ao longe vi o chafariz e consegui me localizar novamente.

Entrei pela porta principal novamente.

Assim que pisei no salão, vi Adam exibindo sua mais nova antiga nova namorada para sua madrasta, e senti ainda mais vontade de chorar. Não por ciúme ou outra coisa assim, mas porque me fez lembrar por quanto tempo eu ainda ficaria naquela mansão.

A música soava ao longe, alguns convidados me fitavam com curiosidade.

— Bela, o quê aconteceu com você? — Gilbert se aproximou já com suas mãos no meu rosto limpando mais resíduos de rímel. — Você sumiu, e está descalça? — ele perguntou desviando os olhos do meu rosto para os meus pés.

— Meu pai.

Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto. Eu não queria chorar, não na frente de tanta gente e de tanta gente com o sangue azul. Mas eu não conseguia parar. A mágoa estava entalada entre a minha garganta e a minha boca.

— Meu pai ta aqui.

— Onde? Ele fez alguma coisa com você? — Gilbert aumentou o tom de sua voz.

— Não. Ele só... — consegui dizer sem chorar.

E soltei mais um choro engasgado. Provavelmente estava com a minha pior cara de choro, e pensar nisso me fazia querer chorar mais.

Eu e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora