Capítulo 18

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Adam me levou para todos os cantos externos de sua propriedade, e em três vezes eu pensei que me perderia se estivesse sozinha. Ele me mostrou a estufa, onde eram cultivados muitas rosas vermelhas e outros tipos de flores e plantas das mais variadas. Lá tinha um cheiro gostoso de terra molhada. Ele me levou também a área da piscina, e Gilbert estava lá, mais emburrado impossível, limpando a piscina. Tinha tirado seu terno de trabalho e estava com sandálias de borracha, bermuda e uma blusa de manga, bem casual. E parecia até mais novo.

Andamos também pelo pátio, onde havia mais rosas vermelhas plantadas em vasos luxuosos e alguns bancos que eu não havia reparado antes.

Pensei em meu pai. A mágoa ainda estava lá.

A preocupação por sua vida começou a me perturbar, e Adam pareceu notar, mas acabou por optar não falar nada.

De volta ao interior da mansão. Adam me mostrou os quartos vizinhos do meu, alguns deles eu já havia invadido. Um deles era escritório, e eu pensava que a biblioteca fosse seu escritório. E era aquela mesma porta a qual estava trancada quando eu tentei entrar.

Me mostrou o seu quarto, e eu, com meu jeito estúpido, não pude deixar de corar.

— Você tem uma sacada? Não acredito.

Observei por assim dizer no momento que entrei no quarto.

— No quarto dos meus pais tinha também — eu concluí.

— Você gosta? — ele riu.

— Sim... — eu disse me contendo e virando para olhar para ele. — Sua vista é linda.

— É sim — ele disse desviando o olhar para algo atrás de mim.

Ficamos em silêncio por um bom tempo depois disso. Parecia que nem eu, muito menos ele, gostaria que o assunto sobre o beijo viesse à tona. Adam despertava uma variedade de sentimentos e sensações em mim. Ao mesmo tempo em que tinha vontade de correr para longe dele, sentia uma excruciante curiosidade em conhecê-lo um pouco mais.

— Vamos. Tenho uma coisa para te mostrar — ele disse, de repente, despertando-me.

— Ah, claro.

Ele me leva para onde eu tinha quase absoluta certeza que ele me levaria novamente. A biblioteca. Linda e intocada, como da primeira vez que a vi. Ele me guiava para uma ala da biblioteca que eu não tive coragem de explorar. Ele tirou um livro, de capa dura preta, de uma das prateleiras esquecidas e empoeiradas.

— O que acha de clássicos? — ele me indagou.

— Ah, como não amar? — disse, até espirituosa.

— Seu preferido eu presumo que seja...

— É, Romeu e Julieta. Bem previsível, não é? — eu interrompi.

— Meloso demais — ele fez uma careta.

— E qual é o seu?

— Os miseráveis.

— Ah, claro. Como eu não adivinhei?

Nós dois demos risada, sincronizada eu diria. Com certeza. A ironia de um riquinho mesquinho prefira ler entre todos os classificados clássicos, Os miseráveis — em resumo, a história de um homem que roubou um pão para alimentar sua família e foi preso por isso. — era tão grande que cheguei a achar graça disso. Por incrível e contraditório que isso seja, Adam pareceu entender sem eu tivesse que falar nada.

Nossos olhos se encontraram brevemente.

— Mas eu nunca cheguei a ler — confessei. — Só vi o musical.

Eu e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora