Capítulo 5

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Fiquei sentada no banco em frente a fonte de concreto, observando o gigantesco mundo que Adam deveria ter criado e pensando em tudo que tinha acontecido.

Como Adam se mostrou totalmente diferente daquilo que eu tinha pressuposto, na verdade, ele era sim muito ignorante e arrogante com todos que eram seus empregados. Foi rude comigo em muitos momentos, mas no final daquela noite, eu não vi o mesmo Adam, o mesmo monstro que todos temem nessa mansão. Ele foi gentil e até um pouco cuidadoso com o episódio de limpar toda a maquiagem do meu rosto.

Percebi então que minha estadia ali poderia não ser tão terrível quanto eu imaginava.

— Bela? — uma voz masculina me assustou. — Vai com calma, princesa. Sou eu, Gilbert.

Ele saiu de trás do chafariz, as luzes azuladas que iluminavam a água que jorrava já tinham sido apagadas. Então eu só vi uma sombra andando em minha direção.

— Oi, me assustou — bufei.

— Calma. Atrapalhei algum pensamento aleatório? — ele perguntou sorrindo.

— Na verdade sim — disse olhando para o meu horizonte.

Onde o portão provavelmente ficava, mas não conseguia ver, pois a distância da saída para a mansão era uns dez minutos de carro pelo menos, imagina andando.

— Ah, qual é. Pode me dizer — ele disse se sentando ao meu lado.

Eu respirei profundamente, me preparando para mentir, mas algo dentro de mim me fez recuar o que resultou em um silêncio que demorou bastante.

— Você sabe o porquê meu pai me vendeu?

— Ele não te vendeu, Bela.

— Óbvio que me vendeu. Você lembra como ele nem esboçou qualquer emoção de que se importava? Lembra como ele nem se deu o trabalho de me avisar?

Gilbert desviou os olhos dos meus para o chão. Parecia que estava pisando em ovos para não me chatear ainda mais.

— Tenha mais paciência, Bela. As coisas serão explicadas gradativamente — ele disse tentando me confortar, mas notei que ele sabia de algo que eu não tinha ideia.

— Talvez. Eu só quero sair daqui. Como consegue ficar aqui sempre?

— Eu não fico aqui sempre. Eu tiro férias e nos feriados eu saio daqui. Não sou um escravo do Adam — Gilbert disse parecendo satisfeito com sua vida, e remeti a última parte a uma piada, mas ele não riu.

— Mas, você — eu disse repensando no que falar, me senti pisando em ovos. — não quer sair daqui um dia?

— Não sei. Talvez um dia. Me sinto bem aqui, o serviço é bom, o senhor por mais que seja rígido é um bom patrão. E não tenho motivos para partir — ele disse melancólico.

— Não tem nada mesmo que não te atraia fora daqui?

— Havia uma pessoa. Mas não importa mais — ele disse com um súbito raio de tristeza em sua expressão.

Mais uma eternidade de silêncio com um misto de climão.

— Acho que vou subir. Já está tarde e amanhã é outro dia. Boa noite, Gilbert.

Acenei com uma das mãos e virei as costas rapidamente.

Só queria desabar naquela cama macia, e refletir sobre os meus problemas em paz. Sem me sentir culpada por ter raiva do meu pai, sem me preocupar com alguém que se contenta que o fim do horizonte seja os portões dessa mansão. Por mais que eu tentasse dormir, minha mente não parava de processar tudo que tinha acontecido. Então me levantei e fui até o local na mansão que mais me familiarizava. A biblioteca.

Eu e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora