Quatro anos depois...
Os anos cursando Inglês haviam passado como um estalar de dedos aos meus olhos, e eu não podia estar mais bem comigo mesma sabendo que aguentei quatro anos dormindo no alojamento feminino da universidade, que sobrevivi aos professores perseguidores, que trabalhei por tudo que eu tinha que podia não ser muito, mas era meu: meu apartamento cubículo e agora meu diploma da Universidade de Denver.
A beca preta pinicava por cima da roupa que eu estava usando, mas era o único incômodo que estava sentindo no dia. De longe, vi meus irmãos e suas respectivas famílias, meus sobrinhos estavam tão fofos usando roupa social. Dava pra ver Bruce, o mais velho de todos, filho de Mary, cutucando o nariz e soltei uma risada.
— Você tava tão bonita lá em cima — Giselle disse após a cerimônia da formatura.
— Eu tava tão nervosa, pensei que não sabia mais ler — eu disse.
— Quê isso? Você tava tão plena como a primeira aluna da turma de Inglês. Bem que eu queria não ter repetido tantas matérias para estar me formando com você — Giselle fez biquinho no fim da frase.
— Nisso eu tenho que concordar com ela — uma voz masculina me fez pular.
Olga, Victor e Gilbert apareceram atrás de mim com os sorrisos grudando nas orelhas.
— Que susto, Gilbert — eu disse dando um tapa nele. — Obrigada por vir, gente — terminei de dizer abraçando cada um deles.
Gilbert estava com um corte novo de cabelo, era bem curto e abusava de listras nas laterais, antes ele deixava os cachos crescerem um pouco o dando um aspecto de novo, mas aparentemente era passado para ele.
— Não na parte de você não se formar, só pra você saber — Gilbert terminou.
Pude ver um clima se manifestar ali, bem que eu iria gostar dos meus melhores amigos juntos. Embora, tivesse muita chance de eu ficar sobrando depois. Mas a ideia disso acontecer não me incomodava tanto, eles felizes me fariam ainda mais feliz.
Embora, nada pudesse me fazer tão feliz quanto ter mantido o contato com o pessoal da mansão, em todos os anos nos encontrávamos nos feriados de final de ano e em todas as férias eu estive por lá. E em todas as vezes, inventávamos coisas diferentes. Teve um ano que foi maratona de bicicleta, nossa maratona foi só um quarteirão, considerando que só Gilbert e Adam não eram considerados sedentários. No ano anterior, foi rodízio de camarão (todas as comidas eram de camarão), e todos nós ajudamos na cozinha, tanto cozinhando tanto limpando. Lembrar de Adam limpando as janelas da cozinha sem camisa me fez arrepiar o corpo inteiro de repente.
— Cadê o seu bonitão? — Giselle perguntou quando todos se afastaram.
— Eu espero que o bonitão seja eu — uma voz familiar disse atrás de mim.
— Não, tô esperando ele chegar ainda — eu disse, sorrindo.
Adam exalava perfeição, embora nenhum ser humano possa ser. Seu cabelo estava penteado para trás, o terno que ele usava era um pouco mais justo do que os que ele usava com frequência.
Cheguei mais perto pronta para enlaçar meus braços no pescoço dele. O perfume dele me fazia lembrar a sensação de estar em um lar, e eu sabia que o meu agora era ele.
— É claro que é você — eu disse. — Sempre foi, meu bonitão.
— Você também é minha bonitona — ele disse beijando o meu pescoço.
— Que brega — Giselle provocou.
— Sua hora vai chegar, minha amiga — eu disse.
— Tinha chegado né, mas seu irmão resolveu me trocar — ela disse cruzando os braços e apontando para Filipe.
Meu irmão estava agora muito bem casado, ele e Giselle até tentaram por um tempo, mas Giselle sempre se demonstrou inconsequente em relação a relacionamentos e Filipe acabou terminando com ela. Mas, independente desse namoro deles continuam se tratando com respeito o quê impossibilitaria a ação de Adam.
Ele convidou todos para um jantar na mansão depois da formatura, até Giselle e os meus irmãos. Todos pareciam festivos, e isso gerou paz dentro de mim, as crianças estavam correndo ao redor da mesa e Adam entrelaçou seus dedos nos meus depois da sobremesa.
— Gente, me deixa só falar uma coisa — eu disse, quase gritando para que me ouvissem. Esperei que todos fizessem silêncio e continuei:
— Eu tô me sentindo no direito de discursar, só pra quem ainda não entendeu o recado — dei uma pausa para umas risadinhas abafadas. — Todos aqui conhecem a minha história, e sendo bem franca, o inicio dela não foi nada agradável. E o meu fim estava fardado ao fracasso, mas todos os dias em que eu escolhia me levantar e encarar a minha realidade eu podia ver a minha trajetória mudando, um pouquinho a cada dia. Mas, em quase todas as vezes que eu me vi largando tudo, que foram muitas vezes, vocês me deram força e apoiaram os meus sonhos e tenho tanta sorte em ter vocês — meus olhos se encheram de água, e senti a voz embargar. — Obrigada, obrigada por tudo que fizeram por mim — disse terminando o pequeno discurso.
Houve alguns suspiros e olhos transbordantes, mas Gilbert soltou uma piada sobre mim que todos acharam graça e o clima meio tristonho voltou a ser alegre. Estava tão grata, e me sentia realizada embora soubesse que nada havia acabado, na verdade, tudo estava prestes a começar.
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Quando todos se despediram para irem para suas próprias casas e outros para seus quartos na mansão, eu e Adam estávamos sentados no banco do jardim, onde foi o nosso primeiro beijo. De inicio eu pensei que ele nem se lembrava mais, porém notei que ele se lembrava até melhor do que eu. Aprendi a não subestimá-lo.
— Eu queria poder consertar tudo — ele disse, me fazendo sobressaltar com um leve susto.
— Como assim?
— Ah, desde as coisas com o meu pai até o jeito que tratei você quando nos conhecemos.
— Adam, me responde uma coisa? — perguntei atraindo a sua atenção. — O quê é mais importante? Remoer os problemas do passado ou aprender com os erros do passado e se esforçar para não cometê-los mais?
Ele balançou a cabeça em concordância e me encarou com as suas esmeraldas cintilantes.
— Ás vezes eu não sei o que eu faria sem você — ele disse, me puxando para mais perto dele.
— É, eu também não sei o que você faria sem mim — eu disse soltando uma risada.
Dei um beijo estalado em seus lábios, mas ele não me deixou afastá-lo depois. Me segurou e os nossos lábios se tocaram em harmonia e ritmo perfeito. Senti sua língua encontrando caminho entre os meus lábios, e todo o meu corpo se acendeu como se Adam tivesse apenas ligado um interruptor em mim.
— Você quer casar comigo? — ele perguntou quando se levantou de repente assim que nos desvencilhamos.
— Mas é claro — disse revirando os olhos e soltando uma risada abafada.
Ah, ta! Casamento. Eu, uma recém formada em Inglês, prestes a encarar a realidade do mercado de trabalho e me casar. Eu o amo, mas não podia ser sério.
— É sério, eu quero me casar de verdade com você — ele disse com seriedade, mas ainda muito amável.
Quê? Espera, casar? É sério? Adam quer casar comigo. Não dava pra acreditar que alguém como ele estava comigo, mas agora casar? Tive uma grande vontade de dançar como ele no pátio da minha faculdade a quatro anos antes.
— É claro que eu aceito — aceitei abraçando-o e pulando em seu colo. — Eu te amo, e eu quero me casar com você.
A sensação de estar em casa voltou, e eu tinha certeza que ela nunca mais iria ir embora.
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FIM DO LIVRO 1...
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Eu e a Fera
General FictionAposta ou venda? A verdade é que nem ela mesma sabe. Sabe somente que sua vida pertence á Adam Hayes. 🌹 Annabela, uma jovem de apenas 17 anos acabou indo parar na mansão da Família Hayes. Sem entender quase nada de sua situação, Adam, seu novo tuto...