Depois de tudo, não consegui mais pregar os olhos. A insônia me abateu, me deixando completamente rendida com meus próprios pensamentos.
Ninguém mais conseguiu dormir. Andrew zanzava para todos os lados da casa o que deixou Brooke, esposa de Andrew, de cabelos em pé. Damon se sentou em sua antiga cama vislumbrando a parede descascada, Cristal foi direto para o hospital sem esperar por ninguém encontrar com Mary e Filipe foi logo atrás.
Acho que cada um estava reagindo da maneira que conseguia, que aguentava. Porque a verdade todos tínhamos assuntos pendentes com meu pai.Toda vez que olhava ao redor, percebia que a cada momento a casa parecia estar desmoronando mais.
Não conseguia chorar, nem gritar ou ter qualquer reação natural. Deve ser coisa de família. O nó ficava engasgando na garganta até não conseguir engolir nada. Mas as lágrimas simplesmente não surgiam.
Alcancei meu celular na cômoda quebrada, rolei pela lista curta de contatos, provavelmente Mary se ocuparia em cuidar de tudo. De chamar os parentes distantes de papai e os de mamãe, de fazer uma pequena recepção logo após o funeral, de servir e cumprimentar todos sem ao menos pedir ajuda.
Eu deveria querer ajudar, mas tudo que eu queria era sair logo dali. Aquele filme eu já tinha vivido uma par de vezes, e sabia exatamente como acabaria.
Mary se ocuparia tanto para não deixar o luto transparecer através dela. Já Cristal, se debulharia em lágrimas. Talvez gritaria "Não, meu pai não!" Era esse o jeito dela lidar com isso tudo. Meus irmãos iriam continuar olhando para algo atrás das pessoas, incapazes de olhar nos olhos de alguém.
Apenas em imaginar isso tudo acontecendo pela manhã, embrulhou meu estômago e os nós que se instalariam na garganta me sufocaria a qualquer momento me forçando a chorar. Eu queria me encontrar novamente há algumas semanas atrás, onde eu estava conversando com Adam depois de sua desastrosa festa de aniversário. Onde finalmente nos entendemos uma vez. Eu queria de qualquer forma me apegar aquele momento.
Mas infelizmente, eu estava ali, sentindo uma das piores dores que qualquer um pode sentir.
Minha atenção tinha que ser no agora, não no que poderia ter sido ou no que eu queria que tivesse acontecido. Doa a quem doer.Passei diversas vezes pelo mesmo nome: Adam. É para ele que eu ansiava ligar, e chorar o tanto que eu conseguisse, mas ao invés disso eu liguei para a pessoa que realmente me atenderia, não no que Talvez Me Atenderia.
— Gilbert?
— Alô?
— Desculpa te ligar tão tarde... É que... — Não pude conter a voz de choro e as lágrimas. — Meu pai não suportou essa noite. O enterro será amanhã, às 10h. Eu queria que vocês estivessem.
— Tudo bem.. Estaremos aí pela manhã. Meus sentimentos, Bela. Você não merecia passar por tudo isso.Eu não soube o que responder, eu só fiquei ouvindo sua respiração pela linha.
— Bela? — Gilbert me despertou novamente.
— Desculpa... Bom, é complicado.Eu não tinha certeza porque disse aquilo, saiu entre os dentes. Complicado? Era bem mais do que complicado.
— É, então, você está bem? — ele indagou.
— Uhum — eu disse, sem querer o cortando impiedosamente. — Eu preciso desligar, Gilbert. Até amanhã — concluí apertando no botão de encerrar a chamada.
Não sabia exatamente como seria, mas sabia que eu odiaria a manhã seguinte.🌹
Mary não parou de ser gentil em servir os convidados, eu me ofereci em ajudá-la, mas recebi um olhar frio como resposta.
Alguns dos funcionários da mansão vieram, eles me trataram com tanto carinho, como se fosse família. Diferente dos meus irmãos, que a maioria estava agindo como os individualistas de sempre. Como se ninguém fosse parente, ou família, de ninguém. Victor, Gilbert e Olga individualmente vieram me abraçar e dizer que já estão com saudades de mim.
— Bela, minha filha, você está comendo direitinho? — Olga perguntou.
— Estou sim, Olga — tentei lhe dar um sorriso, mínimo.
Meus olhos chegaram até a janela, que me entregou uma vista de um dia maravilhosamente ensolarado. Com o vento impetuoso balançando as árvores, tudo com a cor alaranjada com o quase final do outono.
Alguém segurou uma das minhas mãos, me puxando para um abraço acalentador e quente. Me trazendo a lembrança do carinho que tive uma vez da minha mãe.
— Não sabia que estava aqui — eu interrompi o abraço.
— Não tinha me visto? — Adam indagou.
— Acho que não.
Como eu poderia não ter visto aquele cabelo ruivo sobressair aos dos outros. Acho que na maior parte do funeral, eu fitei o chão, com medo que ele se abrisse e me engolisse ali mesmo. Contudo, seria melhor do que aquela cerimônia terrível.— Eu quero voltar — afirmei, com a voz firme.
— Voltar?
— É, quero voltar.
— Bom, eu pensei que iria quer... Bom, é... Ficar aqui.
— Eu não posso voltar mais? — minhas lágrimas finalmente emergiram pelos meus canais lacrimais.
— Claro que pode, Bela. Você sempre será bem-vinda. Mas achei que quisesse ficar por aqui por enquanto.— Não, eu não me encaixo mais — afirmei um pouco mais alto do que achei que diria, atraindo olhares curiosos em nossa direção.
— Não se encaixa mais? Quer ir agora?
— É — pontuei, sentindo que desabaria a qualquer momento.
— Tudo bem — Adam me abraçou com o braço pelos os meus braços, os prendendo. — Gilbert! — Ele gritou.
— O que foi, senhor? Ta passando mal, Bela? — Ele perguntou tão rápido que quase não entendi no momento.
— Leve-a lá para o carro, e diga a Olga e Victor para irem também — ele disse em tom de ordem, me soltando.
Gilbert me acompanhou até a porta, quando passou por Olga e Victor os chamou. Eu não queria me despedir dos meus irmãos. Mary não se importava naquele momento. Cristal estava escondida em algum canto da casa que beirava a desmoronar, chorando. Filipe, eu não tinha ideia de seu paradeiro e os mais velhos provavelmente não sabiam que eu não morava mais ali com papai há meses. Eu não tinha força, muito menos disposição para explicar a alguém que queria voltar para a mansão. O que deveria ser meu cativeiro, minha prisão, naquele momento parecia meu verdadeiro lar.
Vi meus cunhados conversando, Brooke e Josh, no canto da sala. Minha irmã sorridente cumprimentando todos os próximos de papai seja da família ou apenas vizinhos, ela tratava gentilmente todos iguais. Perguntando se queriam algo para beber ou avisando que os rolinhos de salsicha estavam na mesa. De vez em quando, ela me parecia uma maluca obsessiva tentando agradar a todos em uma social após funeral. Ninguém estava muito afim de simpatia, só queriam chorar e digerir em paz a perda.
Olhei mais uma vez para a casa, o que há uns dois dias atrás chamaria de minha, mas era só a casa que um dia foi dos meus pais e que morei nela por dezessete anos e meio.
Notei Adam saindo com uma mala velha que era da minha mãe, acenando com a cabeça para Mary e logo em seguida me fitando, com olhar preocupado. E eu só conseguia pensar em apenas uma frase, ela se repetia incessantemente dentro da minha cabeça:
Eu quero ir embora para casa.🌹
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Eu e a Fera
General FictionAposta ou venda? A verdade é que nem ela mesma sabe. Sabe somente que sua vida pertence á Adam Hayes. 🌹 Annabela, uma jovem de apenas 17 anos acabou indo parar na mansão da Família Hayes. Sem entender quase nada de sua situação, Adam, seu novo tuto...