Mary estava grávida. Ter um filho, eu não conseguia imaginar. Não conseguia me imaginar tendo um filho. Não conseguia. Era um borrão preto na minha cabeça, e só. Eu seria titia, pela primeira vez. Mas, de qualquer forma, eu não estaria lá. Estaria na mansão. Presa.
Entrei no meu quarto e coloquei música nos fones de ouvido que vieram junto ao celular. Who Are You, da girlband Fifth Harmony tocou nos meus ouvidos.
Who are you today?
Will you be the sun or the pouring rain?
(Quem é você hoje?
Você será o sol ou a chuva?)
Who are you tomorrow?
Will you make me smile or just bring me sorrow?
(Quem você será amanhã?
Você me fará sorrir ou me trará arrependimento?)
Camilla Cabello e as demais integrantes na capa daquele álbum pareciam conversar comigo.
Adam continuava me provocando um punhado de sensações. Tinha tantas outras coisas para me importar, como por exemplo, ter uma carreira. Eu queria ser professora, cursar literatura. Não sabia como seria o futuro, mas achava que teria uma ligação para sempre com essa mansão.
Coloca essa cabeça no lugar, Annabela — pensei.
Só porque o meu pai me vendeu não quer dizer que a minha vida fosse viver em função de morar naquela mansão e esperar alguém me salvar.
Nos fones de ouvidos ainda tocava Who Are You, e com isso acabei me lembrando da faculdade que eu queria ir no meu ano de formatura. Universidade de Denver. Não ficava muito longe da minha casa e o meu curso era um dos aclamados.
Denver era uma cidade maior que Glendale e Aurora, mas com certeza iria me acostumar. Me acostumei numa realidade totalmente diferente da minha aqui, com essa vida de filha de rica de alguém, ou no meu caso, irmã. Eu poderia fazê-lo novamente sem pensar duas vezes.
Afinal não podia colocar minhas expectativas todas no meu pai ou na minha família.
A partir de daquele momento, as minhas coisas também seriam importantes.
Eu me mudaria para Denver, estava decidido.
Meu pai não deixava de invadir meus pensamentos. Ele, Adam, essa mansão. Essa confusão toda. Tudo parecia tão errado.
Eu não podia simplesmente fugir, com tanta gente trabalhando com certeza eu seria vista. Meus dezoito anos estavam mais próximo do que eu me lembrava. Chegaria junto com o Inverno.
20 de Dezembro.
Eu tinha tempo suficiente para me inscrever no próximo semestre. Já teria dezoito, e Adam não poderá me prender aqui para sempre. Será que em Denver contratam serviços de Babá? Eu precisava de um emprego urgentemente.
Universidade de Denver Springs não esperava por me esperar.
🌹
Estava na mesa de jantar novamente, fitei os meus próprios dedos que estão entrelaçados na outra mão. Gilbert passou por mim com seu costumeiro terno, que o transformava num verdadeiro garçom. Adam surgiu nas escadas. Como conseguia ser sempre tão pontual? Ele tinha o time perfeito.
Olga surgiu com os elementos do jantar, e minha boca salivava. Ela era uma excelente cozinheira, mas achava que ela não era única. Ela era uma espécie governanta, eu acho. Que mantinha contato com patrão e deixava tudo em perfeita ordem.
Adam ao invés de se sentar na cadeira que ele sempre sentava, ele se aproximou e se sentou à minha frente.
— Vou jantar com você hoje — ele deu uma piscadela e sorriu.
Seu cabelo ruivo estava com um aspecto limpo demais. Alguns fios estavam soltos e voando no seu rosto. Ele de repente me olhou de relance, me flagrando encarando-o.
— O que foi? — Adam perguntou.
— Nada — eu tentei fingir que não estava olhando para ele.
E é ridícula essa tentativa. Ele sabia que eu estava olhando ele.
Na mesa, Olga ainda colocava as cúpulas em que estava a comida. Assim que ela retirou uma por uma, só prestei atenção no peru que normalmente vemos no Natal ou no Dia de Ações de Graça.
— E então, Bela, começou Os Miseráveis? — ele perguntou casualmente.
— Ainda não — eu disse. — Olga, que comida maravilhosa.
E mais silêncio. Ele tentou puxar mais outros assuntos, mas minhas respostas foram monossílabas, e por isso, acabou desistindo. Senti um misto de pena disso. Assim que terminei, pedi licença e me levantei da mesa.
Quando estou subindo as escadas, escutei a voz de Adam sussurrar:
— Olga, eu fiz algo errado?
Como iria dizer que não quero ficar mais aqui? O lugar em si não me incomodava, mas não poder sair não poder viver uma vida normal, isso sim me incomodava.
Queria ter a coragem de dizer isso a ele.
Mas eu só entrei no meu quarto e fechei a porta atrás de mim. Troquei para uma roupa confortável o suficiente para dormir. Um short de moletom e uma blusa larga, eram parte das peças que eu comprei no shopping ao ar livre com Gilbert. Coloquei meus fones novamente, no volume máximo agora.
Eu repeti mentalmente todas as coisas que eu precisava para ir para Denver, até cair no sono.
Dinheiro, emprego, documentos e carta de recomendação.
Dinheiro, emprego, documentos e carta de recomendação.
Dinheiro, emprego, documentos e carta de recomendação.
Dinheiro, emprego, documentos e carta de recomendação.
🌹
* Se você gostou deste capítulo não se esqueça de votar, indicar á algum amigo e comentar o que está achando. Bjs de luz, amores.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Eu e a Fera
General FictionAposta ou venda? A verdade é que nem ela mesma sabe. Sabe somente que sua vida pertence á Adam Hayes. 🌹 Annabela, uma jovem de apenas 17 anos acabou indo parar na mansão da Família Hayes. Sem entender quase nada de sua situação, Adam, seu novo tuto...