Capítulo 34

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— Eu estava totalmente focada em sair daqui... Mas, você começou a ser amável comigo e eu me... — a palavra entalou quando tentou passar pela minha garganta.

— Se apaixonou? — ele me olhou como se tudo estivesse totalmente claro para ele.


— Tipo isso — consegui dizer baixo, sem ao menos olhar em seus olhos.


— O bom que é recíproco — ele respondeu, cruzando os braços.

— O quê? — O quê? — Mas...


— Desde o dia que me chamou de babaca, eu não consegui parar de pensar em você, Bela. Porque ninguém nunca teve, bom... coragem para falar aquilo para mim.


Porque eu não fiquei feliz em ouvir aquilo? Senti as palavras que eu deveria dizer naquele momento voltarem para a minha cabeça. E eu apenas olhei para o nada, até ter coragem de dizer:


— Acho melhor eu dormir um pouco.


Ele consentiu e se levantou sem dizer nenhuma palavra para sair, eu o acompanhei até a porta na intenção de me trancafiar por mais 24 horas. Só nesse momento que notei que eu realmente não queria passar mais tempo do que já havia passado nele sozinha nesses dias.


— Boa noite, Bela.


— Boa noite, Adam. — permaneci na porta olhando ele adentrar a porta de seu quarto. — Ei, Adam — ele se virou para olhar para mim. — Obrigada mais uma vez...

— Pelo o quê? — ele deu um sorriso malicioso.


— A sacada — desviei rapidamente o olhar para dentro do meu quarto e voltei a fitá-lo. — Bom, — eu continuei, saindo do meu quarto e andando vagarosamente até ficar frente a frente a ele. — você quer dar uma volta?

— Já agradeceu tantas vezes — ele sorriu com os olhos tanto quanto a boca, tenho quase certeza que se perdeu do que ia falar. — Que bom que gostou, eu me lembrei do que disse sobre... Talvez fosse o momento para mandar fazer. — ele se colocou ao meu lado, andando mais rápido agora à minha frente em direção a escada e fez uma pausa para mexer em seus fios ruivos de seu cabelo, agora curtos.

— Espera! Eu estou descalça.

🌹


— Me diz alguma coisa que nunca contou a alguém — eu pedi, andando agora ao lado de Adam em direção a piscina da mansão.


— Hum, bom — Silêncio. — Quando minha irmã morreu foi como se alguém tivesse me dado uma pancada muito forte na cabeça, e na hora, eu me perdi de mim mesmo e depois, só me lembro de sentir muita raiva.


— O quê aconteceu? — eu perguntei, receosa, com medo de fazê-lo parar abruptamente. — Desculpe, eu...

— Eu e Hope éramos bem grudados. E todo fim de semana, eu tirava um tempo para brincar com ela em um córrego nos fundos da casa que meu pai em Lakeside... — ele se sentou em uma das muitas espreguiçadeiras brancas ao redor da piscina. — Teve alguns finais de semana que eu estava ocupado, com a empresa, com alguns negócios a parte também. E, meu pai, quis levar ela lá. Sem mim — Sua voz começou a falhar.


— Não preci... — eu tentei dizer, mas ele me interrompeu com um aceno de mãos.


— E bom, o senhor Franklin Hayes, não tinha tempo. Não tinha tempo pra nada. Nem para impedir que sua filha se afogasse.

O horror me fez mudar radicalmente a expressão que eu estava mantendo no rosto.

— Ele foi atender alguém no telefone, e deixou minha irmã lá. Quando voltou, não a encontrou. Ele procurou pela casa por muitos minutos, o canalha achou que ela estava brincando de esconde-esconde com ele. Ela nem gostava dessa brincadeira — as lágrimas desceram pesadamente em seu rosto, e sua voz falhou notavelmente. — Até procurar no córrego, e ela estar lá, gelada e — ele fez uma pausa. — Morta.

— Eu sinto muito — foi a única coisa que minha boca conseguiu dizer.

A empatia me atingiu como se tivesse me dado um soco na cara, mas eu não consegui dizer nada que realmente ajudasse. Pude sentir o quanto seria horrível perder uma de minhas irmãs, desse jeito e nesse momento.


— Dois anos depois, meu pai se foi também. Ele se matou. — ele disse tão rápido que eu não assimilei bem.


— Por favor, não precisa. Eu sinto muito — eu o abracei com toda força, e senti seus braços me envolverem de volta.

Ele passou a mão pelo meu cabelo, beijou a minha cabeça e continuou ali, me abraçando. Sendo que era ele quem precisava do meu abraço, ele que precisava do meu consolo. As lágrimas que eu estava segurando, se desprendem dos meus olhos e molharam a camisa cinza de Adam.



De longe, avistei Gilbert andando com seu uniforme preto e assim que nos viu voltou para a mansão. Talvez não quisesse interromper o que isso significava para Adam. E ficamos ali, por um bom tempo. Até nos recuperarmos.

— Como ela era? — eu perguntei passando a mão pelo seu cabelo.

— Ah... Ela era uma criança incrível. A mais parecida com a mamãe.

Continuei em silêncio, sem fazer perguntas. Acreditava que doía mais alguém te fazendo uma entrevista enquanto revivia a parte mais dolorosa da sua vida.

— Minha mãe nos deixou quando teve o William. E nunca mais a vimos — ele deitou no meu colo, deixando sua cabeça apoiada nas minhas pernas e o restante de seu corpo esticado na espreguiçadeira. — Ela era parecida com você, sabia? Ela falava o que não queríamos ouvir, mas o que precisávamos ouvir.

Eu sorri sem mostrar os dentes olhando para os seus olhos vidrados no céu escuro acima de nós.

— Assim que ela se foi, meu pai não pensou duas vezes em casar com a irmã da minha mãe.

— Katherine é sua tia? — perguntei, sem conseguir acreditar.

— Sim, ela é.

— Nossa. Gilbert tinha me dito, mas achava que era...

— Piada? Eu sei, é muita informação mesmo.

— Sua tia não era casada?

— Não. Peter nunca conheceu o pai biológico, meu pai assumiu essa posição bem antes de minha mãe ir embora, mas eu nunca pensei que ele levaria tão a sério — ele soltou uma risada irônica e meio abafada.

— Sua família é bem...

— É sim — ele concordou mesmo não sabendo o que eu iria dizer.

— Você sabe se minha mãe conhecia o seu pai?

— As nossas mães eram primas bem distantes... Sua mãe chegou a me conhecer, mas não o meu pai. Ele já havia falecido quando eu comecei a procurar pela família extinta dela. Enfim... Acho que estou cansado de falar. Acho que nunca falei tanto — ele deu um risinho mínimo e me olhou.

— É surreal como nossas realidades são tão diferentes, mas mesmo assim, parecidas — passei a mão pela a sua testa e fui em direção ao seu cabelo.

Meus olhos encontraram os dele, e ele me disse tudo que eu precisava saber ali sem dizer nada de fato.

Assim que conheci Adam, ele era minha fera pessoal, um monstro que eu jurava que havia feito algo de ruim para conseguir minha guarda. Mas, esse pressuposto já não passava mais pela minha cabeça.

Descobri o príncipe por trás da armadura, do disfarce de monstro. E eu estava amando cada minuto ao lado dessa versão de Adam, que me julguem, mas sentia que eu e Adam ainda viveríamos muitos momentos como esse. Onde podíamos nos despir de nossos disfarces cotidianos e nos abrirmos ao máximo um com outro.

Em pensar nisso, não posso simplesmente deixá-lo. Ele tinha cicatrizes bem mais profundas do que eu podia imaginar, eu não podia me tornar mais uma delas.

Sem chance.


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