No caminho do Center Medical, nem eu e muito menos Gilbert resolvemos interromper o silêncio, até solene, que se manifestou assim que entramos no carro.
Assim que chegamos, abri a porta do carro e deixei Gilbert para trás no estacionamento, vi pelo visor do celular que já era mais das uma hora da manhã. Entrei porta adentro da recepção do hospital. Minha irmã Cristal me viu assim que entrei com a impressão de estar descabelada e tropeçando nos meus próprios pés de sapatilha.
— Você veio — ela disse vindo em minha direção, me abraçando desajeitadamente.
Por ela ser mais alta que eu, meus braços acabaram pendendo para fora do abraço.
— Como ele está?
— O doutor Callaghan disse que ela — ela inspirou fundo, tentando conter suas próprias lágrimas. — que ele não vai passar dessa noite.
Ela deixou suas lágrimas pesadas caírem e sua feição mudou drasticamente. Cristal, sempre emotiva. Desde criança ela era assim, chorara a noite inteira pelo seu peixinho dourado que se suicidou pulando do aquário.
Eu abracei a consolando, como fiz também quando mamãe se foi. Por algum motivo, mesmo sendo a mais nova de ao todo seis irmãos, sempre tive que ser a mais forte. A que estava lá quando todos se casaram ou se mudaram para longe. A que foi vendida, a que teve que sacrificar os sonhos por alguns meses para cuidar do pai, do pai que era de todos, mas o peso da responsabilidade sempre caira em mim.
Vi Mary chegar pelo canto do olho, com seu marido carrancudo do seu lado e com a pior cara possível.
Nunca gostei daquele cara.
Eu fui em direção a Mary e a abracei. Ela continuou imóvel. Fria. Assim que me desvencilhei de seu abraço, perguntei a Cristal:
— Já avisou aos outros?
— Sim — ela disse, fungando. — O Andrew já está no aeroporto com a esposa, e Damon disse que chegará o mais cedo que conseguir.
— Tudo bem — Vislumbrei meus pés.
— Podem ir lá, vão vocês duas juntas. O Filipe está lá dentro também. O pai ta acordado. Quarto 271.
Eu e Mary nos entreolhamos e fomos caminhando para o corredor largo. Andamos alternando em olhar nossos próprios pés e os números das portas e os vidros que davam para ver os pacientes. Me senti reconfortada por estar com Mary. A filha mais velha, que partilhava comigo a maioria dos genes que me faziam ser parecida com minha mãe. Se no lugar de Mary estivesse Cristal, ela iria continuar chorando e falando com voz de choro. Mary era mais com mamãe, não importava a situação ela permanecia o mais calma possível. Bom, nenhum dos meus irmãos eram do tipo de irmão que cuidava um do outro, mas em relação ao meu pai não tinha nenhum que não se prontificasse a cuidar. Porém, Mary era a mais dedicada. Não a mais forte, mas a mais empenhada em cuidar do meu pai.
Filipe nos viu, mas logo voltou a olhar o nosso pai estava.
Meu pai estava deitado numa cama estreita, com sua vida ligada a fios muito finos, e olhando para o teto pensando em só Deus sabe o quê.
— Que bom que vocês conseguiram vir — Filipe afirmou apático. — Conseguiram estabilizá-lo. Ele quer ver vocês.
Nem eu, nem Mary respondemos.
— Podem entrar, ele quer ver vocês — Filipe tornou a dizer.
Deixei Mary entrar pela porta do quarto primeiro, por mais que eu amasse o meu pai, não queria estar sozinha com ele nessa situação. Nem queria ter a chance de ficar a sós com ele.
— Oi pai — Mary cumprimentou primeiro.
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Eu e a Fera
General FictionAposta ou venda? A verdade é que nem ela mesma sabe. Sabe somente que sua vida pertence á Adam Hayes. 🌹 Annabela, uma jovem de apenas 17 anos acabou indo parar na mansão da Família Hayes. Sem entender quase nada de sua situação, Adam, seu novo tuto...