Eu e a Fera

Capítulo 36

Assim que terminei de ajudar Olga a limpar toda a bagunça da minha pequena comemoração, me encaminhei junto de Adam em direção aos nossos quarto.

— Quer ficar aqui hoje? — perguntei, abrindo a porta do meu quarto.

Seus olhos se encontravam em completa vivacidade e seu perfume fazia cócegas no meu nariz. Algo dentro de mim gritou para que eu me inclinasse e o beijasse. E eu, obedeci. Eu não podia fazer o contrário de me render. E foi nesse exato momento que minha mente acelerou todos os meus pensamentos, e tudo se tornou turvo.

E se, eu fosse aceita na universidade?

E se, eu piorasse tudo?

E se? E se?

— Parece que é a última vez que ta me beijando — ele arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Mas é, — me concentrei para assumir uma expressão séria — hoje. Boa noite — completei tascando um beijo em sua bochecha.

— Boa noite, Bela — ele me deu um selinho, se desvencilhando dos meus braços.

Ele vai em direção a porta de seu quarto e a fechou assim quando entra. Como uma reação, um misto de arrependimento me norteou e eu fui em direção a porta do banheiro compartilhado dentro do meu quarto. Entrei lá, e batei sem cessar na porta que vai para o quarto de Adam.

— Oi? — ele abriu a porta sorrindo, talvez porque sabia que era eu. — O que foi?

— Posso ficar?

Ele assentiu, e me deu entrada.

— Você está bem?

— Tem uma coisa que eu quero te dizer.

Ele ficou me encarando, aguardando eu terminar. Mas a única coisa que eu consegui fazer foi mexer a boca sem sair nenhum.

— E então?

— Me dá um segundo para organizar as palavras na minha cabeça — eu pedi.

— À vontade — ele suspirou, abrindo um daqueles sorrisinhos maliciosos.

— Na verdade, eu tenho uma pergunta para te fazer.

— Sim?

— E se eu me mudasse? As coisas entre nós mudariam?

— Depende — ele cruzou os braços e me avaliou dos pés a cabeça.

— Depende do quê? — perguntei com a voz mais aflita do que eu gostaria.

— Se é para outra cidade ou para outro país — ele disse, dando uma risada rouca. — É claro que nada mudaria, minha querida. Eu te amo, você aqui ou do outro lado do mundo.

— Ama?

— Percebeu só agora?

Engoli em seco. As coisas são engraçadas. Como em um segundo, sua mente está em turbilhão e no outro tudo simplesmente se encaixa na sua vida.

— Mas porque ta perguntando isso? Quer voltar para casa ou... — ele suspirou — ir para Denver?

Abaixei a cabeça como se tivessem descoberto o pior dos meus segredos.

— Bela, eu nunca a proibi. Na verdade, você tem o meu completo apoio para ir. Se quiser, posso ver alguns contatos que tenho na Universidade de Denver. É pra lá que quer ir, não é? — ele perguntou tocando o meu braço carinhosamente, como se me confortasse. — Eu respeito qualquer decisão que tomar. Seja ir ou ficar.

— Eu estou extremamente cansada de pensar — coloquei uma mão na testa, massageando as têmporas. — Agora que você foi cem por cento sincero comigo, eu espero pensar em paz e tomar finalmente essa decisão sem pirar. Eu só preciso... — suspirei. — Preciso dormir, posso? — perguntei apontando para a cama dele.

Ele assentiu, mas eu nem esperei ele o fazer. Dei uma corrida patética e pulei na cama dele, e não demorou muito para os meus olhos pesarem e eu dormir até o dia seguinte.

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No dia seguinte, eu estava lá deitada sozinha. Me sentindo extremamente ridícula de pirar por um motivo tão, tão, tão ridículo. Só caiu a minha fixa que Adam tinha dito que me amava na hora do café da manhã, em que Olga se esforçava para não dar risadinhas, sabendo de tudo que Adam havia me dito. Eu sabia que ela sabia. E ela não fez nenhum esforço para disfarçar.

Adam me amava. E se tudo desse certo, eu já não moraria ali. Como as coisas seriam? O nosso "relacionamento" sobreviveria se chegasse à luz do sol ou, melhor, a luz dos olhos dos outros? Sinceramente, eu não tinha certeza e era aquilo mesmo que eu queria. Ficar a sombra de um milionário? Era isso mesmo?

Eu resolvi colocar isso tudo de futuro ao lado de Adam numa caixa esquecida dentro da minha mente e tomar o meu café da manhã em paz. Embora, o pensamento quisesse fugir o tempo todo. Eu tinha que dar bordoadas para que ficasse dentro da caixa até eu ter a solução ideal. 

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