Eu e a Fera

Capítulo 6

— Acho que sim — eu disse, pausadamente.

Claro que eu queria sair, mas não sabia se era realmente uma boa ideia me deixar aproximar tanto de Adam. Ele poderia mudar de humor do nada e voltar a ser o arrogante de sempre, e é por isso que não deve ser uma boa opção, mas eu preciso lembrar os motivos de querer sair de vez desse lugar.

— Vá se aprontar. Daqui à uma hora estamos saindo — ele disse já se desvinculando da mesa.

Eu caminhei até o meu quarto, e eu simplesmente não queria sair por aí com o vestido que estava no manequim. Tive certeza de que não era Adam quem colocava os vestidos ali porque eu estava com ele no tempo em que colocaram um novo vestido no manequim.

O vestido que estava agora no manequim era preto brilhoso e rodado. Comecei a procurar na minha mala, ainda não desfeita, por alguma calça jeans. Havia uma no fundo, socada por outros vestidos em cima, o jeans dela já estava escuro e parecia fino, mas eu de jeito nenhum eu sairia daquela casa parecendo alguma alegoria carnavalesca do lado de Adam. Tudo bem usar vestidos festivos dentro da mansão, porém não me sentia confortável em sair para o mundo real com os vestidos que alguém com um gosto tão chique escolheu. Junto da calça encontrei uma blusa branca, e uma jaqueta bege. Perfeito. Olhei pela janela, e quando voltei meus olhos para o quarto me deparei com algo que não tinha reparado antes. Uma porta extra, que não era nem a do banheiro nem a do corredor. Eu podia jurar que era um closet. E era mesmo. Corri até a "nova" porta e abri rapidamente. Assim que o fiz, um cheiro forte de naftalina empesteou o quarto inteiro, mas meus olhos sorriram ao se deparar com o que havia ali. Tinha muitos pares de sapatos, tinha alguns femininos infantis, mas a maioria eram sapatos altos ou sandálias que me pareciam muito desconfortável. Encontrei uma raridade perto da ala de sandálias que deveria machucar o calcanhar de qualquer uma que a usasse: um par de botas bege.

Vesti tudo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, amarrando um laço branco para prendê-lo. Fui até a gaveta de maquiagens, realcei minhas bochechas, passei um batom vermelho e salpiquei um pouco do perfume que encontrei perdido entre uma gaveta e outra.

13h10min. Desci as escadas correndo achando que talvez Adam já pudesse ter ido e me deixado para trás.

— Oi! Você está diferente — Adam disse, parecendo já estar pronto a muito tempo.

E sim, eu acertei na roupa. Adam não estava de terno, como sempre estava. Estava de calça jeans escura e uma blusa branca social que combinava perfeitamente.

— Sem vestido — fiz uma careta.

Ele uniu as duas sobrancelhas de repente, transfigurando sua expressão que aparentemente era de muito irritado.

— Quem deu permissão para mexer naquele guarda roupa? — ele não gritou, mas aquele tom foi pior para mim do que qualquer grito que eu já tinha ouvido. — Olga! Ajude-a — ele gritou.

— Vamos, Bela — Olga chegou as pressas me puxando com o braço pelas escadas.

— O quê tem de errado comigo? — eu perguntei rápido a Olga. — Porque ele sabe que eu mexi no guarda-roupa? O que tem de errado? Está lá, eu pensei que eu pudesse usar as coisas que estão dentro dele — disse o mais rápido que eu consegui.

— Esse quarto era de uma pessoa que o senhor amava muito. E quando chegou usando as botas é bem provável que ele tenha se lembrado. Eu peço desculpas por ele. A intenção dele não era gritar com a senhorita, eu tenho certeza — Olga disse passando uma das mãos pelo meu braço.

Entrei no quarto, troquei as botas pela a minha sapatilha preta. Desci acompanhada de Olga, mas quando voltei ao salão, Adam já não estava mais lá.

— O senhor já saiu? — perguntei a um dos funcionários que estava na lateral da porta de entrada.

O funcionário era tão novo quanto Gilbert, mas aparentava ser alguém que exalava maturidade e seriedade.

— Acabou de sair com Gilbert.

— A senhorita está bem? — perguntou o funcionário.

Eu não respondi. Como ele pôde me dar esperanças assim? Juro que pensei que isso tudo poderia não ser tão ruim. E fala sério, ele me deixou para trás por nada. Por um par de botas? É isso?

Não dava de verdade para acompanhar as emoções de Adam, elas mudavam de um instante para outro. Será que ele sofria de algum grau de bipolaridade?

Tudo isso me sufocava de uma maneira incontrolada. Corri em direção à porta principal, eu precisava respirar.

Era como se alguém estivesse me forçando a prender o ar, como em algum mergulho demorado em águas profundas.

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*se você é leitor novo, pf, não tire conclusões ruins do livro agora, ok? já que ele está todo em processo de revisão e os capítulos não estão todos ajustados. estou revisando com calma para não ter que refazer tantas vezes, então pf paciência. bjs, amo vocês <3