Capítulo 2

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O teto branco com listras cor-de-rosa é a única coisa que vejo ao acordar. Lembrei que necessito pedir a Gilbert ou a Olga para mudar a decoração desse quarto ou pelo suavizá-lo. Olhei para o mesmo relógio em cima da porta, 7h30min. Quem acorda sete e meia da manhã espontaneamente? Eu acordo cedo, mas isso já é brincadeira comigo. Tomei um banho rápido e coloquei um vestido amarelo, na verdade o meu favorito, com umas florzinhas na estampa, rodado e até o joelho. Pareço viver a duas décadas atrás. O que eu posso fazer se minha mãe amava vestidos nesse estilo? Calcei a mesma sapatilha que saí de casa ontem. Uma cor de pele, com um laço preto em cima de cada. Desci as escadas sentindo cheiro de queijo e café. Eu sentia tanta falta do meu pai que não cabia dentro de mim, mesmo que ainda sentisse raiva dele por ter me vendido praticamente. Eu não conseguia acreditar que ele me apostou, simples assim. Ele simplesmente colocou um crachá pendurado em mim escrito "Vende-se" para tirá-lo do fundo de um poço que ele mesmo construiu.

Assim que estava entrando na sala de jantar, em direção a porta principal da cozinha trombei com Olga.

— Bom dia, Olga.

— Bom dia, Bela. Você vai querer tomar seu café agora?

— Pode ser.

— Vamos para a cozinha. Eu te preparo uns ovos, ou um misto quente quem sabe — ela pegou em minha mão, me puxando em direção a segunda porta da cozinha.

— Não precisa, Olga — Adam disse quase gritando. — Já que ela está de pé tão cedo, ela toma o café comigo.

Ele lia jornal, mas sua atenção estava em mim e em Olga.

— Não precisa, senhor. Ela não se importa em comer na cozinha.

— Eu insisto.

Caminhei até a mesma cadeira que me sentei ontem, uma cadeira de distância da dele.

— E aí? Dormiu bem? — ele perguntou sem tirar os olhos do jornal.

Não respondi. Ele por acaso achava que eu tinha amnésia? Mas eu me lembrava claramente o quanto me humilhou na noite anterior.

— Hum, bom. Um avanço — Ele disse, mais para si mesmo do que para mim.

Olga entra na sala de jantar trazendo consigo o café de Adam.

— Bela, você come o quê de café da manhã?

— Eu costumo comer um misto quente e beber um copo de café com leite, quando tinha — eu murmurei a última parte.

— Tudo bem, eu vou buscar — Olga disse.

— Obrigada.

— Não pude deixar de ouvir a última parte, como era sua vida com seu pai? — Adam me indagou assim que Olga entrou cozinha adentro.

— É complicado — eu respondi.

Eu não queria respondê-lo, mas ignorá-lo talvez fosse pior. Ainda mais porque não sei de verdade qual o objetivo dele em mim e o porquê ele livrou o meu pai da cadeia.

Houve um silêncio que pareceu uma eternidade.

Não sei se é normal tanta aflição nessa situação, mas não conseguia me sentir de outra forma. Ele parecia me examinar por cima das folhas de jornal.

— Annabela... hum... é um nome bonito.

Eu decidi responder somente o essencial, ou o quê eu achasse essencial para não ser humilhada novamente. Porque, sinceramente, eu não iria suportar que isso aconteça de novo. Ninguém falava comigo assim. Bom, ele falou, mas entenda, por favor, é uma situação arriscada. Estou literalmente nas mãos dele.

— Como seu pai lhe chamava?

— De Anna.

— E a sua mãe?

— De Bela.

— Você sabe quem escolheu seu nome?

— Eu não tenho certeza.

— É mesmo uma pena.

Olga trouxe um misto quente num prato de porcelana todo branco. E um copo rosa grande com café com leite.

— Sério? Mais rosa? — eu soltei um sorriso mínimo.

Olga apenas deu de ombros, sorriu e se posicionou em pé na lateral da mesa.

— Você já pode ir, Olga — Adam disse com o mesmo ar de arrogância.

Sinceramente, eu odiava esse ar de superioridade que ele achava que tinha sobre os funcionários.

— Mas, senhor — Olga tentou se contrapuser.

— Olga, obrigado — Adam decretou.

Pude ver Olga retornar a cozinha pelo canto do meu olho.

— Algum problema com rosa? — Adam perguntava me encarando.

Que cara estranho. Alguém me tira daqui!

— Não, nenhum. Só achei um pouco engraçado.

— Engraçado por quê? Pensávamos que você tinha uns 12 anos no máximo — ele disse voltando os olhos para o jornal, voltando a tampar seu rosto.

— Garotas de doze anos não gostam tanto assim de rosa — eu murmurei.

— Tem como falar um pouco mais alto?

— Eu falei que garotas de doze anos de hoje em dia não gostam de rosa.

— E o que você tem com isso?

Ele dobrou o jornal. E me encarou. Ele estava com seu cabelo liso e longo preso em um rabo de cavalo, o que deu para observar mais a forma de seu rosto. Seus olhos são verdes. Ele tinha muitas marcas de expressão no rosto, mas ao mesmo tempo parecia ser jovem.

Olga deixou um prato com um misto quente cortado em triângulo na frente dele. O que eu achei gozado. E Olga lhe deixou também um copo igual do mesmo modelo que o meu só que preto.

— Olga, avise ao Gilbert que já estou quase terminando aqui.

— Sim, senhor.

Ele comeu o misto quente rápido e me encarou mais uma vez. Ele ficou me observando comer. E eu o achava mais estranho a cada minuto.

— Quero você pronta quando eu chegar. Nós vamos sair.

Ele levantou, virou as costas e saiu andando.


🌹

oooi gente, eu estou revisando o livro. Então, por enquanto, a história pode parecer confusa mas é que estou cortando capítulos extremamente longos e corrigindo alguns erros. Desde já, agradeço a consideração <3 bjs, e até a próxima. 

Eu e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora