Capítulo 29

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Assim que chegamos à mansão, percebi que meus ombros estavam levemente curvados para baixo, Adam me puxou pela mão fazendo com que eu reagisse. Porque, sinceramente, minha única vontade era continuar vislumbrando meus pais pela fotografia tendo o conforto da limousine barra o ombro de Adam.

Os meninos e Olga falaram alguma coisa mas eu não me dei o trabalho de escutar. Assim que entrei, de longe, meus olhos alcançaram o irmão mais novo de Adam, William. E a madrasta de Adam, sentada em uma das cadeiras da mesa da cozinha conversando com uma empregada da mesma estatura de Olga mas por algum motivo eu ainda não tinha reparado nela.



Assim que me aproximei, seu olhar era fumegante na minha mão que Adam ainda segurava.

— Oi — eu a cumprimentei, mesmo querendo ir imediatamente para o meu quarto.


— Oi, Annabela! Você está ótima. — Não estou não, eu quis responder.


— Obrigada — tentei sorrir, mas tenho quase certeza que eu pareci uma paciente do mal Parkinson.


— Meus sentimentos por seu pai, querida.

Eu gostaria muito de confiar nela, mas algo nos seus olhos sempre pareciam falsos. Talvez fosse a falta semelhança com Adam e os demais irmãos.


— Eu agradeço. Se me dão licença, eu vou para o meu... Hum... Bom... Quarto.

Odeio gaguejar quando estou nervosa, parece que simplesmente as palavras não chegam até a boca.


— Tudo bem, querida. Vá descansar um pouco — Anastácia disse me trazendo a bendita desconfiança de sempre.

Eu balancei a cabeça, concordando. Me desvencilhei da mão de Adam, que só depois eu vi a gravidade disso.

Mas, nesse momento eu não poderia pensar naquela confusão que Adam me trazia. O foco era nos meus pais, e nesse tesouro que agora cabia a mim cuidar. Eu não sabia quando Cristal havia desenterrado, mas a gratidão se manifestava no meu ser.

🌹

Passei horas admirando minha caixinha de música, tentando lembrar cada mínima lembrança que ali estava.

Revirei a pequena mala de minha mãe, Katherine Smith, que um dia tivera o sobrenome Hayes antes de casar-se com papai. Isso era tão inacreditável. Minha mãe era uma Hayes. Meu estômago revira só em pensar. Tecnicamente eu também era uma Hayes. Bom, sei que eles não eram primos em primeiro grau e isso me aliviava um pouco. Porque, honestamente, não queria isso preso na minha consciência.

Me atentei novamente na maleta de mamãe. Todos os objetos de extremo valor emocional caíram na grande cama de lençóis brancos — finalmente tinham suavizado a decoração do meu quarto — quando eu a revirei, inclusive um papel pautado dobrado várias vezes por alguém.

Desdobrei rapidamente entre os polegares e os meus dois dedos indicadores.

Queridos filhos,

Sou eu, mamãe. Quando estiverem lendo esse singelo bilhete provavelmente não estarei mais com vocês. E eu sinto muito. Minha doença tem se alastrado cada vez mais. Mas, por mais que estejam tristes agora e com vontade de jogar tudo para o alto pensem no seu pai. Que cuidou tão bem de vocês, que esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis. Por favor, cuidem dele. Temo que ele só demonstre força superficialmente.

E cuidem uns dos outros, somos uma família.

Muitos beijos e abraços, com amor — Mamãe.

Senti as lágrimas salgadas descerem até a minha boca, e só aí que percebi que chorava. Ao virar para conferir se havia algo mais escrito, encontrei um papel cortado no alto da folha grampeado ali. Estava escrito numa letra garranchada e torta:

Meu desejo é que esse bilhete da mãe de vocês fique com Bela. Foi com ela que eu mais errei.


Sem dedicatória, mas presumi que o meu pai havia escrito. Minhas lágrimas pingaram no papel frágil, eu dobrei rapidamente e o guardei junto com os demais objetos. Doía muito aquilo, e algo dentro de mim me incomodava dizendo que isso era tortura.

Mas eu sabia por quê. Meu pai deu minha guarda a Adam, não por que não me amava, mas porque seria o melhor para mim. Não vê-lo sofrer tanto. E quando ele veio pedir o meu perdão da primeira vez, eu o condenei. E essa ferida aberta inflamava cada vez mais doída junto às batidas do meu coração.

Eu fechei os olhos, deitada na cama, tentando relembrar as partes felizes com papai e mamãe, ao invés de ouvir as duras acusações da minha consciência.

O sono me abateu logo depois provavelmente por conta das duas noites anteriores sem dormir mais do que dez minutos, aquele foi meu primeiro sono sem sonhos desde a morte de papai. 

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Eu e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora