Eu não reconhecia Adam. Ele parecia pacífico, calmo e até arrisquei pensar que ele se mostrava acolhedor. Longe daquele homem de terno e estressado, o que me deixou desconfiada. Começamos a caminhar lado a lado pela mansão a fora, em uma espécie de pátio gramado. As flores ao redor eram muito bem cuidadas, e continuamos andando até que Adam quebrou o silêncio.
— Está gostando de sua estadia aqui? — ele perguntou.
— Sim — menti.
— Isso é bom — ele disse. — Gostou de seu quarto e as novas roupas?
Não, não gostei. Se estiver tentando me comprar, pode desistir — pensei, mas não tive coragem para dizer em voz alta. Então, eu somente respondi:
— É. Sim.
— Têm algo errado? — perguntou Adam.
Acho que ele é que sofria de amnésia. Como ele pode perguntar isso? Ele sabe muito bem que está tudo errado, que eu não deveria estar aqui.
Claro que tem algo de errado, seu perturbado. Você fez maior palhaçada por nada ontem e agora me pergunta se tem algo errado. SEU MALUCO! — eu pensei.
Mais uma vez o nó se apertou na minha garganta, eu tive que fazer muita força para continuar parecendo calma.
Eu pensei em não responder, talvez não fosse a melhor alternativa. Algo trouxe a minha memória o ditado "Mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais perto ainda", então consegui dizer:
— Tenho saudade.
— Do seu pai?
— Dele também, mas tenho saudade da minha vida.
— Como assim da sua vida?
— Tenho saudade de ouvir os assovios do meu pai enquanto ele fazia café, saudade de andar de bicicleta ou até de quando os meus irmãos vinham visitar a gente — disse, soando dramática demais até para o meu próprio gosto.
— Você tem irmãos?
— Tenho cinco irmãos ao todo. Duas irmãs e três irmãos.
— Para um bêbado, John devia ser um bom pai.
Observei seu rosto. Seu sorriso sádico, como se nada disso importasse pra ele. Como se essa mudança não fizesse nenhum tipo de diferença na vida dele, e ele em partes estava certo.
— E onde eles estão? Os seus irmãos?
— E você se importa? — deixei escapar, sem pensar direito antes.
— Eu estou perguntando, obviamente me importo.
— Filipe se alistou no exército, e meu outro irmão Damon foi para faculdade e está morando em Chicago há uns bons anos E Andrew, o mais velho, casou e mora em Nova York. E minhas duas irmãs casaram muito novas.
— Quantos anos elas tinham? — ele perguntou.
— Mary com seus 16, e Cristal com 18, se eu não me engano.
— E você tem saudade delas?
— Também, mas eu conseguia vê-las com mais frequência. Elas não saíram do Colorado.
Um silêncio se fez presente, sem que ninguém o interrompesse. Então, reuni minha coragem e joguei fora minha covardia e disse:
— E você? Têm saudade de alguém?
Se eu pudesse recolher minhas palavras de volta, eu o teria feito. Por um momento, temi a reação de Adam.
— Tudo bem se não quiser dizer — disse, tentando consertar o que fiz.
— Tenho de uma pessoa só.
— Quem? — eu rebati a frase.
Eu às vezes me sinto tão sem noção, o pior que eu estava mesmo curiosa. Será que ele sentia falta da mulher da foto que encontrei no livro Uma Noite de Verão?
— Minha irmã.
Seu olhar se tornou distante e vazio. Seu sorriso havia desaparecido. E foi bem aí que percebi que sua risada maldosa era cem vezes melhor do que essa expressão.
— Está tudo bem, senhor Adam?
— Por favor, me chame só de Adam — disse ele, ainda muito calmo.
— Perdão, senhor. Quer dizer, Adam...
— Esqueça — ele me interrompeu. — Preciso te mostrar um lugar que acho que uma garota como você irá gostar, como disse que quer cursar Letras.
Seu rosto havia mudado de feliz para triste para quase feliz — ou ele tentou retomar sua expressão anterior — em questão de segundos. Ele segurou meu pulso de leve, como se não conseguisse — mesmo que quisesse — me machucar. Ele disse no caminho até a mansão algumas coisas que não entendi, e sinceramente nem fiz questão de entender.
Ele me levou até o cômodo que eu já havia descoberto. A biblioteca. O meu lugar favorito de toda a mansão.
— É esse aqui — ele disse enquanto abria a porta.
Ele entrou segurando não mais meu pulso, mas segurando minha mão firme. Como se não quisesse me soltar.
— Preciso te dizer uma coisa.
— Essa é a minha biblioteca, minha não, era de um parente meu, mas...
Antes de terminar a frase, ele percebeu o livro jogado em cima da escrivaninha. Ele abriu e observou a página dobrada.
— Me desculpa, eu já tinha encontrado esse lugar fabuloso. Eu amei isso daqui. É tudo tão perfeito, a pessoa que decorou e organizou tem um gosto muito bom. Todos os livros, toda a decoração vintage — eu disse rápido.
Adam tornou a me observar com os olhos atentos e em uma das mãos ele segurava o Uma Noite de Verão.
— Desculpa, não quis invadir, nem nada — eu continuei.
— Mais fascinante do que eu pensava — ele disse com um sorriso abobado.
— O que é fascinante?
— Vo... A maneira como você...
— Como eu?
— Como você é, sei lá.
Ele soltou uma risada diferente daquela que me assustava ou me irritava.
Eu tinha medo de me apegar ao lado bom dele, se é que tinha um lado bom ou estava pregando algum tipo de peça em mim. Tinha medo também de me encaixar aqui e nunca querer mais partir. Isso não vai acontecer. Porque terei esse direito, não é? Mas é meu destino. Esse é meu destino: voltar pra casa, reencontrar minha família. E eu não posso me distrair bem menos fugir do inevitável.
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E então, o que acharam? Me digam nos comentários. Bjs, obrigada por estarem acompanhando.💖😘
A playlist no spotify está atualizada, ok? Não deixe de acompanhar.
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Eu e a Fera
General FictionAposta ou venda? A verdade é que nem ela mesma sabe. Sabe somente que sua vida pertence á Adam Hayes. 🌹 Annabela, uma jovem de apenas 17 anos acabou indo parar na mansão da Família Hayes. Sem entender quase nada de sua situação, Adam, seu novo tuto...