Um

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tirimmmmm...

Ouço a campa da escola e limpo o rosto evitando qualquer tipo de baba da minha pequena cochilada na carteira. Recolho os livros e ponho na mochila rapidamente. Alguns alunos saem apressados outros terminam de copiar o assunto da lousa já eu não tenho a mínima pressa, coloco à mochila na costa e caminho.

– Tina – Mrs Reynos balbucia– Você fica.

– Claro – sento como se nada houvesse acontecido.

– Essa foi a quarta vez só essa semana – ele me pegou dormindo mais uma vez – Por que não me conta o que está havendo?

– Insônia – minto – Está cada vez pior mas não é nada que deva se preocupar.

– Toma algum medicamento?– disse, suponho que esteja preocupado.

– Sim – Seguro a fivela da mochila com força – Como falei, nada que deva se preocupar.

– Tudo bem... Dispensada– ele me aponta a saída.

Saio de lá achando que sou a melhor atriz que Londres já teve na vida. Apesar de não ser meu país ficaria honrada em receber tamanho mérito. A verdade é que durmo por que as aulas do Reynos é um saco. Tudo que ele fala encontro nesse sites rápidos e fáceis da internet.

– Olha o que achei – sinto uma mecha do meu cabelo ser puxada– Tina, não sabia que fazia parte do custume do seu país guarda comida no cabelo? – Andrew fala e mostra um pedaço de barra de cereal nas mãos – Quer um pedaço?

Olho para ele e decido ignorar fecho o armário enquanto vejo os alunos rirem. Pressiono os meus livros contra o peito contra o corpo e caminho apressada a luz da porta da saída da escola realmente parece a luz do fim do túnel para mim. Meus cabelos voam quanto mais acelero o passo e derrepente sinto meu corpo indo ao chão.

– Opa! Desculpa – Zayn joga uma casca de banana contra meu corpo no chão –Confundi com a lata de lixo!

Respiro pesado três vezes e então levanto do chão em volta pessoas riem. Então seu Marcos o faxineiro da escola me ajuda a recolher meus livros e fala como todas as vezes que devo ir à direção. Afirmo que irei enquanto pressiono outra vez os livros contra o corpo. Olho em volta e com um piscar de olhos tudo volta ao normal, na verdade já estavam acostumados com a hora do dia que eu seria humilhada e exaltada por Andrew e seus amigos. Hoje Zayn teve sua participação especial nisso tudo. Desço as escadas ao vê o empala 1989 do meu pai meus pulmões enchem de alívio, esse lugar é minha morte vivenciada dia após dia.

– Olá querida– Meu pai aperta minhas bochechas – Como foram as aulas?

– Boas – a omissão faz parte da minha vida desde a vinda pra Londres – e o senhor como foi na peixaria?

– Ah nada demais – o vejo dirigir.

Logo chegamos em casa, uma casa pequena e guerreira como costumo dizer. Afinal ele é uma antiguidade, meu avô Alfredo a ganhou na época da segunda guerra mundial, afinal os cofres públicos da época estavam abalados e ele a arrebatou como costuma dizer por uma mixaria na época que lutou em defesa da Inglaterra.

– Olá Vovô – Dou um beijo na sua testa e sinto o cheiro de talco puro – O que está vendo? – Sento ao seu lado na cadeira de balanço, pelo sua idade avançada falar para ele se torna um grande abismo, então o entendemos apenas por gestos – Carnaval? Sente falta do Brasil não é mesmo? Eu também... Não imagina o quanto.

Assisto mais um pouco o desfile de escolas de samba que minha mãe gravou para ele matar a saudade. Enquanto ele come sua papa de aveia. Logo subo e vou até meu pequeno quarto que se mexer algo do lugar me das claustrofobia de tão pequeno. Ponho minha mochila em um dos cabides, e tiro minha blusa. Analiso meus braços as marcas estão menores e parecem já cicatrizar. Esse é o motivo de sempre está de mangas compridas, as feridas dos pulsos precisam ser ocultadas. Andrew vem na minha cabeça... Zayn... Todos eles. Eles me odeiam, seria muito dizer que os odeio também? Pois os odeio tanto quanto. Abro a gaveta, vejo a lâmina brilhar por entre as meias. Levanto e tranco a porta, analiso minha amiga. Mina companheira de tantas horas. A olho como se dissesse oi.

– Vamos lá – pego a lâmina e dou o primeiro corte, rápido, certo – É isso que vocês querem né? É isso Andrew... Zayn... Mrs Reynos... Deus – passo outra vez – Vocês querem que eu sangre por vocês... Sangrem até a morte.

Solto a lâmina e o choro vem em seguida. Pego uma meia qualquer e enrolo no pulso recém aberto. Tudo que eu queria era uma vida normal, uma menina de dezessete anos agindo normalmente. Sendo feliz... Sendo... Sendo um alguém.

(...)

Entro mais uma vez no meu abatedouro. Seguro meus livros contra o peito mais uma vez com dificuldade, meus pulsos ainda doem. Minha barriga ronca por não ter posto nada na barriga o dia inteiro, isso na verdade é gula! Pois não preciso comer nada.

– Hey Tinica – Andrew aparece do meu lado e analiso seus cabelos amarelados e seus olhos com vontade de fura-los – Sabe de onde vim agora? Por acaso você sabe?– faço um não com a cabeça – Pois então vou contar...– Ele me prensa no armário e estremeço de medo – Vim da coordenação por um motivo bobo de ter mexido com você... Eu já avisei uma vez e aviso de novo, se você abrir a boca e me afetar em qualquer coisa aqui eu acabo com você e toda a etnia que sua família trouxe pra esse país... Sua suja! – Andrew vai embora e seus amigos os acompanham.

Seguro meus livros e minhas mãos tremem. Meu rosto fica quente, não sei bem o que fazer apenas dou um passo de vez achando que vou cair. O sinal toca e vou contra o sentido de todos. Corro até o pátio e inalo o cheiro de ar puro, vou até de baixo das arquibancadas e tento controlar a respiração. Me encolho ali mesmo e então choro.

– Ei – levanto a cabeça e vejo o melhor amigo do Andrew, Zayn – tu...tudo bem?

– Saí daqui, diga pra ele como estou, vai lá o faça feliz – Me levanto e passo por ele.

Preciso da minha casa.

*Xenofobia significa aversão a pessoas ou coisas estrangeiras.

Apenas por querer| ZOnde histórias criam vida. Descubra agora