Trinta.

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Andrew e eu estamos em uma espécie de guerra silenciosa. Por mais que eu queira saber tudo o que está acontecendo, falar com ele é algo delicado. Arrumo os pratos no armário que acabei de lavar e olho a chuva cair pela janela lateral. Ouço o ranger da porta e olho para a mesma. Andrew não me olha e passa direto para o quarto. O que é estranho, por mais que não estejamos nos falando sempre trocamos olhares duvidosos. Seco a mão em um pano de prato e vou até o quarto lentamente não intenção dele não me vê. Ao chegar no batente da porta o vejo sentando na cama com as mãos na cabeça e um olhar impaciente. Sento ao seu lado e pouso minhas mãos na perna.

– Eu não queria ter feito isso – ele diz baixo.

– Isso o que? – tento olhar seu rosto.

– Eu juro que não quis – ele chora.

– Feito o que Andrew? Fale comigo? – levanto seu rosto e vejo encharcado de  lágrimas.

– Ter matado ele... – ele chora e meu coração acelera.


– O que você está falando? – levanto.

– Zayn... – ele suspira e meu coração palpita.

– Você matou o Zayn? – minha voz falha.

– Eu... Não!! Meu tio eu matei o meu tio Tina! – ele grita e recuo até tocar minha costa na parede.

– O que está dizendo Andrew? – falo perplexa.

– A cinco anos atrás... Eu era um garoto Tina! Um garoto largado por pai e mãe. Eu vivia em uma fazenda distante. Único amigo que eu tinha era meu Tio Ash e o Zayn. Ele era como um pai... Fazia de tudo por mim. Mas, com a adolescência a rebeldia tomou conta de mim. Um belo dia eu e o Zayn fomos em uma festa da cidade, bebemos, beijamos algumas garotas. Ao voltar pra fazenda encontrei meu tio furioso. Ele apontava pro Zayn e dizia que ele era o culpado por eu ter me tornado aquilo. Ele foi pra cima do Zayn e o batia, Zayn não reagia, estava bêbado e eu achei que ele iria morrer. Puxei meu tio de cima dele, e o empurrei. Meu tio caiu, bateu a cabeça. Eu ria achando que era alguma brincadeira que ele gostava de fazer até vê o sangue rolar pelo chão. Zayn me olhava com uma cara tipo "o que você fez?". Um ajudante dele apareceu em um certo momento e viu o Zayn ensanguentado e o deteu ali, ele chamou a polícia e fez com que ele fosse preso. Eu não fiz nada Tina, por mais que ele soubesse que eu tinha feito aquilo ele também não falou nada. Zayn foi solto temporariamente e arrumamos um plano. Ele fugiria e em seguida eu. Mas antes disso eu teria que confessar tudo... Mas eu não fiz isso! Eu traí o  Zayn, eu deixei ele levar a culpa.... Eu... Eu... Sou um monstro Tina! – ele chora.

Meu corpo rola pela parede e sento no chão. Minha cabeça dá voltas e voltas. Como Andrew pôde? Como eu me envolvi nisso tudo. Ao ouvir suas lágrimas cairem a única coisa que eu penso é quanto a vida do Zayn é fodida. Ele nem mesmo teve culpa de ser foragido. Mesmo assim eu não consigo ter raiva do Andrew. O cara era tio dele, imagino como é carregar esse sentimento de culpa.

– Eu não sei o que falar – balbucio.

– Não fala nada... Me abraça? – ele ergue a cabeça.

Levanto da cama e o abraço. Seu corpo treme com o choro. Minhas mãos enxugam suas lágrimas enquanto minha mente viaja sem destino. Eu pensei que minha vida fosse algo ruim mas a vida desses dois é terrível. Meu coração quase parte em pensar no que eles passaram.

– Eu te amo.– Andrew fala.


Não consigo responder nada só puxo mais o seu corpo até o meu lhe distribuindo um abraço sufocante. Nossos corpos tombam para trás e deitamos um abraçado no outro.

(...)

O dia amanheceu lindo! Primavera de Londres é incrível. Caminho por entre a calçada e cumprimento todos. Meus saltos batem contra o cimento e ouço o bipi do celular. Abro a mensagem que acabou de chegar e me assusto.

"Podemos nos vê?" Zayn.

Como diabos ele tem meu número? Fecho o celular reviro os olhos e caminho até a faculdade. As aulas foram as de sempre. Está acabando o segundo semestre e todos contam os dias para as férias de primavera. Pensei em passar em casa, afinal devo uma visita significativa aos meus pais. As minhas últimas duas visitas não passaram de uma hora falando sobre o financiamento estudantil. Sinto o aroma de grama fresquinha ao afundar meus saltos nelas. Meu celular toca mais uma vez e vejo o nome do Andrew. Um reflexo nos meus olhos me chama atenção. Zayn está frente a um carro prata com um óculos espelhado que reflete todo o sol nele. Cabelos para cima, jaqueta de couro preta, calça justas e uma sexy barba por fazer. Droga! Olho para os lados e vejo umas garotas olharem e cochicham entre si. Meu rosto está vermelho e sinto meu corpo inteiro formigar. Ele aponta para meu corpo e me pergunto se é comigo. Posso vê ele revirar os olhos mesmo por trás dos óculos e soltar um sorriso de lado. Ele caminha até mim e sinto seu perfume típico se aproximar. Luto com minhas pernas entre ficar parada ou correr. Paro de pensar assim que ele está a minha frente.

– Falei com você – ele cruza os braços.

– Eu sei – minha boca está aberta.

– Viu minha mensagem? – ele rir.

– O que diabos faz aqui?– meu rosto fica quente.

– Preciso falar com você – ele da um passo pra trás e coça a nuca.

– Não tenho nada para falar – começo a andar.

– Tatiana! – ele fala.

– Não me chame... – tropeço nos meus próprios pés.

Meu corpo não vai ao chão posso sentir suas mãos no meu corpo vibrarem. Estou de costa para ele mas em um movimento rápido estou a sua frente.

– Cuidado! – ele diz baixo.

– Eu não... – vejo meu reflexo nos seus óculos.

– Eu preciso... Droga... Tenho que falar com você – ele me afasta.

– Não! – falo baixo.

– Vamos vê – ele abre um sorriso.

Em um movimento rápido ele me põe no seu ombro. Meus livros caem e ele os pega sem nenhuma dificuldade.


– Me solta Zayn! – bato no seu corpo é vejo uma pessoas nos olharem.


– Calada – ele bate um livro no meu quadril.

– Isso doeu – gruno.

– Você gosta – ele rir. Convencido!

Zayn me joga no banco do carona e tenta me passar o cinto de segurança. Digo que posso fazer isso e ele fecha a porta.

– Sabe se eu não amasse tanto você já tinha desistido – ele rir e fica sério por se dar conta do que falou.

Viro meu rosto para janela e sinto esquentar... Droga! Eu também te amo.

Voltei ❤🔛

Apenas por querer| ZOnde histórias criam vida. Descubra agora