Três

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Parece que o mundo está na minha costa. Hoje é aniversário de 90 anos do meu avô, e para a comemoração minha mãe fez um café da manhã especial. Bolo, torradas, abriram meu apetite. Assim que sento na cabeça a tradicional música de aniversário é cantada por nós em um coro fraco e quase sem ânimo pelo horário da  manhã. Logo depois devoramos tudo a mesa. Devo admitir que minha mãe é uma cozinheira de mão cheia, não é a toa que essa é sua profissão.

(...)

Fecho meu armário e estranho a ausência de Andrew me dando seu tradicional "Bom dia", fazendo as suas brincadeiras consideradas pela minha pessoa sem graça mas para os outros exaltados. Algo dentro de mim não está bom, me sinto pesada, não deveria ter comido tanto. Minha gula sempre fala mais alto. Assim que o sinal toca me dirijo até a sala mas avisto o banheiro e vou até lá, preciso me sentir leve.

(...)

– Me desculpe professora –  entro na sala e vejo todos nos seus devidos lugares, me atrasei pelo pequeno desvio – posso entrar?

– Entre... –  passo por ela e quando viro de costa ela fala – mas pelo atraso amanhã você irá fazer o turno de inspetora da detenção – comprimo os olhos e faço um sim com a cabeça.

Odeio as aulas de história. Na verdade odeio a maioria das aulas dessa escola, agradeço grandemente por ser o último ano.
Me sinto enjoada, acho que o meu pequeno tropeço alimentar pela manhã me deu um certo mal estar. Assim que as três primeiras aulas acabam os alunos saem apressados para o intervalo. Seguro forte na mesa pela tontura que me invade, minha visão fica turva então decido levantar. Caminho por entre as carteiras até que meus passos se perdem. Vejo uma imagem vindo até mim e nem mesmo sei que é.

– O que houve? – meus olhos reconhecem, Zayn – Tá tudo bem?– ele segura minha cintura e me apóia a seu corpo.

– Não toque em...– a falta de ar não me permite terminar a frase –  saia.

– Qual é? Não vou te deixar ASSIM – Sua mão segura meu pulso que dói então o afasto.

– Zayn vamos... – essa voz! Andrew! –
O que você fez Zayn?– sua voz sussurra.

– Nada, ela está se sentindo mal –  a essa altura não consigo pensar e nem falar nada – me ajude a levar ela à enfermaria.

– Zayn deixe ela... – ele olha para o semblante fechado do amigo – tá bom mas você me deve essa.

Sinto meu corpo sendo erguido mais uma vez. Um dos meus braços passa pelo pescoço do Zayn e outro no do imundo do Andrew, se eu não estivesse tão fraca adoraria chutar esses dois. Entramos pelo corredor e todos nos olham, Andrew espragueja a todo momento e diz que não fez nada para quem perguntava silenciosamente o que houve. Chegamos a porta que tem a placa da enfermaria, Zayn abre a porta com a mão livre.

– Ela está se sentindo mal – o ouço dizer a enfermeira.

(...)

Depois de um remédio forte ingerido já me sinto bem melhor. Estou na maca e o Zayn olha pela janela de vidro o grande campo lá fora, Andrew está ao seu lado e fixa o olhar em mim.

– Quando a gente vai poder sair hein?– ele fala assim que a enfermeira entra.

– Vocês precisam assinar a ocorrência –   a erfermeira o entrega um papel.

– Ela tá grávida ou algo do tipo? – arregalo os olhos e começo a gargalhar
– É seu Zayn?

– Que? – falamos os dois juntos.

– Não, a amiga de vocês só teve um pequeno mal estar não é mesmo querida?– ela reza para que eu concorde e faço que sim com a cabeça –  Depois de assinarem vocês estão liberados, essa mocinha fica mais um tempo aqui.

– Eu fico mais um pouco –  O Zayn fala e todos os olham assustados – pra saber sabe.

– Bom... Missionário Zayn eu vou jogar basquete – ele bate nos ombros dele – Depois você vai me explicar tudo isso.

– Vou pegar uns remédios pra você querida, já volto – ela e Andrew saem.

Olho para o Zayn que põe as mãos no bolso da calça. Ele vira para a janela e volta a vê o grande campo verde lá fora. O analiso daqui, suas feições, seu rosto, seu físico, suas tatuagens que aparecem pela blusa. Não entendo por que dele ter me ajudado só me sinto feliz por isso.

– Achei que gostasse de jogar basquete – ele abre um sorriso de lado e vira até a maca – Sério, você pode ir já estou bem.

– Eu gosto de jogar... –  Seu sorriso se abre – Mas hoje não quero.

– Por que?–  levanto uma das minhas sombrancelhas.

– Só não ando afim –  vejo se aproximar.

– Obrigada por isso... Devo ter comido algo que me fez mal – minto – essas coisas acontecem.

– Sim acontecem...–  ele me olha e quando vou abrir a boca a enfermeira entra.

– Bom querida você vai tomar uma pequena injeção na vei – ela se aproxima e tenta levantar minhas mangas mas recuo –  O que houve?

– Quero que ele saia – olho pro Zayn –  Tira ele daqui – ele não pode vê meu pulso.

– O que? – ele se aproxima –  não vou sair.

– SAIA –  grito –  tire ele, por favor. – meus olhos enchem de lágrimas.

– Você é louca...extremamente louca, não é atoa que vive sozinha – ele saí e bate a porta com força.

Encho meus pulmões de ar e então derramo algumas lágrimas. A enfermeira permanece no mesmo lugar extremamente confusa, assim que ela levanta minhas mangas se choca com o meu pulso.

– Por favor... Por favor não conte – dou espaço as  lágrimas.

Ela faz um sim com a cabeça e começa então a injetar o remédio. Olho para porta e lembro do que ele falou. Do que o Zayn falou... Por que me afetou tanto?

(...)

Por conta desse mal estar todo perdi todas as aulas. Só voltei a sala para pegar minha mochila. Caminho pelo corredor e todos me olham. As notícias correm rápido nesse lugar. Assim que desço as escadas vejo o Zayn próximo ao seu carro o abrindo, acelero o passo e vou até ele.

– Vejo que está melhor – ele fala de costa, como ele me viu?– o que quer?

– Agradecer – seguro as fivelas da mochila.

– Já fez isso – ele fica de frente.

– Me desculpar também – falo nervosa.

– Você é o ser mais bipolar que conheço
– ele rir – tudo... Tudo bem – ele olha para trás de mim e então viro vendo Andrew se aproximar.

– Eu...– mudo de ideia–  tchau.

O carro do meu pai se aproxima e vou até ele. O carro do meu pai passa pelo o  do Zayn, ele e Andrew agora parecem discutir.

Apenas por querer| ZOnde histórias criam vida. Descubra agora