Cinco

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Minhas pernas tremem, minha respiração já nem sei se existe. Seu cheiro, parece nicotina com menta sua respiração bate no meu rosto. No mesmo instante que paro para perceber o que faço me distancio.

– Eu... – mas que droga, simplesmente não tenho o que falar
É que...

– Andrew atormentou você de novo?- ele senta e apóia a costa na árvore, o pátio está vazio. Os alunos estão em aula e nossa turma na quadra – Ele é um idiota – o vejo soltar a fumaça mais uma vez.

– Ele é – cruzo os braços.

– Senta – Ele oferece e assim faço –
Sente muito frio não é mesmo? – Seus olhos param nos meus e não entendo muito – Está sempre com essas blusas.

– Ah sim... – na verdade sinto muito calor com elas mas elas escondem minhas marcas – sinto muito frio.

– Como consegue? – ele joga o cigarro fora e tomba a cabeça para trás – Andrew sempre é um idiota com você e você nunca faz nada.

– Eu não sei... – cruzo os braços – Eu perderia se falasse algo.

– Perderia o que? – ele me olha intensamente.

– A dignidade? – Dou um sorriso sem graça – Andrew me afeta de um jeito que você não imagina – fixo o olhar no horizonte

– Você é afim... – não o deixo nem terminar.

– Não, eu tenho nojo dele – bufo e uma lágrima rola – Você não entenderia – seguro a grama com força a fazendo sair da terra – ninguém entenderia.

– A essa altura acho que entendo – ele bufa mais uma vez.

– Por que você fala comigo? – não consigo olhar direto nos seus olhos.

– Por que não falaria? – ele me analisa e consigo perceber mesmo sem o vê –Eu fui estúpido com você, me senti muito ruim depois que te vi  chorar, pois sabia que eu era o causador também. Andrew passa dos limites, Tina isso não é mais brincadeira. Te afeta, me afeta também.

Meus olhos ficam marejados, tudo o que ele falou me faz perceber o que venho suportando. Parece que não tenho voz, não sou ninguém aqui dentro, sem me dá conta deixo uma lágrima cair então cubro os rosto na intenção que ele não perceba. Sinto meu corpo sendo puxado, é um confortável e sem jeito abraço, um abraço calmo. Esse é o melhor lugar...

Parece que as borboletas fazem um baile no meus estômago. Daqui só ouço seu respirar, e o canto dos pássaros na árvores acima de nós. Uma ninhada recém formada. A nicotina presente nas suas roupas se misturam com o perfume, tão forte, mas ao mesmo tempo doce.

– Isso é verdade mesmo? – acabo falando alto.

– O... o que? – seu jeito e sua fala cortada me impressionam.

– Alguém nessa escola sendo bom comigo? – abro um sorriso e saio do seu abraço – Você sendo bom comigo?

– Todos deveriam ser... – no mesmo instante a campainha da escola toca – vamos antes que percebam.

Zayn me ajuda a levantar e corremos até a quadra. Acabo ficando um pouco para trás para que não nos vejam entrando juntos. Ao entrar na quadra não o vejo mas já Andrew caminha até mim. Recuo o passo e alguém me segura pela cintura me impedido de ir ao chão.

– Ele não fará nada – Zayn, é sua voz que tem o poder de me fazer estremecer – Você demorou.

– Eu... – Andrew se afasta – desculpe.

Zayn vai até o Andrew, os dois parecem discutir. Algumas pessoas analisam a situação parece tensa. Então ele pega sua bolsa de treino e saí da quadra. Zayn volta até mim e passa direto com a cara de poucos amigos.

(...)

Fecho o meu armário e agradeço pelo fim da aula. Assim que me viro Andrew passar por mim e derruba todos meus livros. Me abaixo e pego todos mas uma mão corta a minha.

– Gibis? – vejo os olhos do Zayn brilhando – sério?

– Meu irmão me deu eles – levanto – ainda não li todos.

– São ótimos... HQs em ótimo estado – ele me entrega.

– Pode lê – os entrego –  Sério, não tenho tempo pra ler todos.

– Seu irmão não se importaria? – ele caminha junto a mim.

– Não... Ele mora no Brasil – analiso as pessoas ao redor – então ele realmente não se importaria.

– Obrigado então – assim que chegamos na escadaria de entrada vejo a chuva cair – Até mais Tina.

– Até mais – pressiono os livros no peito e procuro pelo carro do meu pai.

– Quer carona Tina? – ele volta – A chuva está forte, talvez seu pai se atrase... E eu não quero você sozinha com o Andrew.

– Ele está chegando...  – abro um sorriso pela preocupação – Mas, muito abrigada.

– Claro – lhe vejo por um capuz e guardar os gibis na mochila.

Analiso ele ir até seu carro e me pergunto como uma pessoa como ele pode ser amigo do Andrew? O carro do meu pai pouco tempo depois aparece no meu campo de visão. Corro pela chuva e meu coturno encharca de água. Meus cabelos pesam, e o castanho se transforma em preto pelo  molhado.

– Como foi seu dia? – meu pai fala como todas vezes.

– Ótimo – dessa vez é verdade.

Apenas por querer| ZOnde histórias criam vida. Descubra agora