Vinte e sete

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1 ano depois...

Dizer que a vida voltou ao normal seria muita audácia da minha parte. Atingir a maior idade em Londres não mudou muita coisa muito menos ter entrado em uma faculdade. A nuvem negra ainda cerca a minha vida. Estar longe de casa também me corroe. Olho para o teto e espero o alarme tocar.

– And acorda! – falo assim que o alarme desperta.

– Ah não Tinica! Volte a dormir – ele puxa minha cintura e me afasto.


– Não! Estou atrasada! E você também levante sua bunda da cama – procuro minhas roupas espelhadas pelo quarto.

– Se eu não te amasse tanto mataria você agora – dou um sorriso de lado do seu comentário.

– Vamos logo!– Ponho a calça.

– Essa é a hora que você diz que me ama também – Ele levanta e caminha até mim.

– Estamos fodidamente atrasados – bato em seu peito nú.

Andrew me dá um selinho rápido e entra no banheiro. Fico com raiva todas as vezes que ele me questiona sobre o amar. Eu nunca falei isso para ele! Afinal nem mesmo sei o que somos. Só amei um pessoa na vida e esse me deixou. Andrew e eu fazemos a mesma faculdade, e por logística dividimos o mesmo apartamento. Apesar de todos acharmos que namoramos sempre que ele me pergunta algo do tipo me esquivo. Andrew é importante para mim, esteve comigo nos melhores e piores momentos da minha vida. Esteve lá quando fui aceita na faculdade e esteve comigo quando disse meu último adeus ao meu avô. Não quero titular o que temos. Somos felizes assim! É assim que deve ser.

(...)

Logo depois das aulas acabarem fui para meu emprego. Servi cappuccinos não é bem um emprego mas isso me mantém em condições boas por aqui. Estudar literatura inglesa é algo que realmente me faz bem. Assim que chego atrás do balcão ponho meu avental e começo a servir os clientes. As telas de vidro por volta do lugar me faz ter visão panorâmica da rua. Ao levantar o rosto vejo um cara de jaqueta preta e calças da mesma cor na outra calçada. O capuz da jaqueta está na cabeça, nossos olhos se cruzam e minhas pernas bambeam. Zayn! Solto o copo de capuccino na mesa e saio da cafeteria. Carros passam e me fazem o perder de vista. Atravesso a rua pelo meio dos carros e eles buzinam. Ele atravessa um beco e corro mais uma vez até ele. Ao entrar no beco não vejo ninguém.

– Zayn? – falo alto.

– Tina! – uma voz me assusta.

– Andrew o que faz aqui? – estou lagrimando.

– Estava na esquina e vi você correr o que houve? – ele se aproxima.

– Nada eu... Pensei ter visto a minha mãe – volto a andar até a calçada.

– Sua mãe? – ele puxa meu braço – Quer saber? Esquece! Toma sua chave você esqueceu.

– And... Eu – estou nervosa.

– Você não pode sair que nem uma louca na rua todas as vezes que achar que viu ele – ele passa as mãos pelo cabelo nervoso – Tina! Isso é loucura!

– Eu sei mas... – me aproximo.

– Você deve ir na psicologa de novo – ele se aproxima.

– Eu sei, eu juro que eu vou – o abraço.

– Vai ficar tudo bem – ele passa as mãos pela minha costa.

Andrew me acompanha de volta até a cafeteria e peço desculpas aos clientes e meu chefe. Não foi a primeira vez que minha mente brinca comigo. Eu sempre acho que o vejo e quando dou por mim ele some! Como sempre sumiu. Ligo para a minha psicóloga e marco uma sessão. Volto ao meu trabalho e tento me concentrar apenas nisso. Dessa vez foi tão real, seus olhos, seu andar! Seu rosto...

(...)

Acordo atrasada como de costume. O dia está chuvoso. Peço ao Andrew para me levar a universidade mas pelo jeito teria que ir só já que ele se quer me ouve no seu sono profundo. Pego uma roupa quente e um guarda chuva enorme. Ao descer do prédio o ar frio entra em contato com a minha pele fazendo meu corpo arrepiar. Corro por entre as poças de água e me posiciono frente a uma faixa de pedestre. O sinal fica vermelho então caminho frente a  ela. Um barulho forte de freio me assusta então viro vendo o carro próximo de mim. Alguém me empurra para a calçada e me segura com os braços. Fecho os olhos e sinto seu peso em mim. Ouço a porta do carro bater e abro os olhos. O calor da sua respiração bate no meu rosto. Seus olhos, sua boca, sua barba, o toque das suas mãos. Toco seu rosto entendendo que aquilo realmente está acontecendo. Zayn está ali, acabou de me salvar de um acidente, ele sempre esteve ali? Pessoas começam a se aglomerar e ele sai de cima de mim. Levanta e põe o capuz na sua cabeça, ele se infiltra por meio das pessoas e levanto rápido fazendo o mesmo. O motorista me pergunta se estou bem e lhe mostro meu dedo do meio. Ao chegar do outro lado da calçada vejo o Zayn caminhar rápido meu corpo dói. Ele dobra uma esquina e lhe perco de vista. A vidraçaria de uma padaria reflete seu corpo dobrando um beco. Corro até lá e meus saltos batem nas poças de água. Ao dobrar o beco seus olhos encontram o meu ele tenta passar por mim mas ponho meu corpo a essa altura encharcado na sua frente. Menta com nicotina meu perfume preferido.

– Vai embora Tina! – ele diz firme.

– Zayn! – o abraço.

Seu corpo não reage e suas mãos me afastam com força. Seus olhos estão perdidos, ele parece está com raiva. Eu deveria está com raiva.

– Andrew está esperando você – ele me empurra um pouco.

Zayn voltou ❤

Apenas por querer| ZOnde histórias criam vida. Descubra agora