02 | Derrotado

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NOAH

17 horas antes...

Eu era feliz. Eu realmente me sentia desejado, amado e completo. Os meus dedos dividiam-se entre os seus próprios nós e os meus joelhos, que abanavam ansiosamente. Olhei para o meu relógio e passava das sete horas da noite. O senhor que tratava de arranjar o meu ramo de flores finalmente caminhava até mim. Peguei nas rosas de uma cor bastante rosa e paguei a respetiva quantia, dirigindo-me em seguida, e já atrasado para a minha casa.

Antes de conseguir entrar em casa, ainda olhei uma última vez para a caixa de veludo, que escondia em si um pequeno anel de diamantes. O meu esforço continuado para obter o salário antes do final do mês iria, finalmente, ser recompensado. Só queria fazer a minha namorada feliz.

– Boa noite, meu amor! – adentrei na primeira divisão da casa, que me relevava Bea a preparar a nossa refeição.

– Olá querido! – ela tratou de pousar o pano de cozinha sobre o balcão e dirigia-se a mim. – O jantar está mesmo a ser acabado, faltam apenas cinco minutos para estar no ponto! – Bea era uma ótima cozinheira, e como ainda não havia encontrado um emprego que lhe gastasse o tempo, ela fazia-o aprimorando os seus cozinhados.

– Não tem mal, eu espero – aproximei os nossos lábios, quando ela ia abandonar o nosso abraço. – O que se passa? – questionei, quando ela me rejeitou.

– Estou a ter inícios de uma gripe, não quero que fiques doente, Noah – compreendo a sua situação e ela volta para o seu lugar anterior na cozinha.

Por mais meia hora fiquei a vê-la confecionar as sobremesas e arrumar a mesa para jantarmos. Tinha-se tornado uma rotina; ela preparava os almoços e jantares. Em troca, eu cedia-lhe uma noite no paraíso, tal como ela sempre me garantia. Todas as manhãs acordava com o desejo de pedir a sua mão em casamento, mas a cobardia tem-me impedido de fazê-lo. Havia mais de dois anos que a nossa relação tinha começado, e tinha tudo para dar certo; agora era a altura de dar o próximo passo.

O jantar decorreu de forma calma, e cada vez mais me encontrava nervoso. O ramo de flores estava pousado no meio da nossa mesa de jantar, e ela adorou-o; No bolso do meu casaco formal negro, procurei o pequeno objeto, preparando-me para o momento quando Bea tratasse de recolher a louça. Ela assim o fez. Dirigi-me até ela, e encostei o meu corpo ao seu, beijando a pele do seu pescoço. Ela soltou um pequeno suspiro e pousou os pratos sobre o lavatório, virando-se para mim.

– O que estás a tramar? – perguntou, e eu apenas gargalhei, aproveitando para atacar a sua mandíbula com os meus lábios e deixar pequenas mordidas por toda aquela zona. Ela tombou a sua cabeça para o lado.

Um ruído de fundo, provocado por um telemóvel fez-me parar os movimentos, mas não me separar dela; queria ver como ela se sentiria, ofegante, enquanto tentava falar com alguém ao telefone.

– Hmm – ela resmungou, parando, de vez, com os meus beijos por todo o seu torso. Olhei interrogativo para a mesma. – Eu acabei agora mesmo de receber uma mensagem – pedi para que continuasse. – Os meus pais estão na cidade, e querem que vá passar a noite, e o dia de amanhã com eles –

– Assim, sem mais nem menos? – questiono, franzindo as sobrancelhas.

– É, sabes como eles são, imprevisíveis. –

Deixou a louça no lavatório, e em seguida irrompeu para a saída de casa, onde agarrou no seu casaco e mala, para partir para o hotel onde os seus pais estavam hospedados. Olhei triste para a pequena caixa; não iria ser desta vez. Observei a janela, e através desta vi que Bea se dirigia para o hotel pelo seu próprio pé, sem qualquer transporte. Estranhei esse facto, e decidi deixar também eu a minha casa, para saber de que hotel, perto da minha casa, se tratava.

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