06 | Vícios

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NOAH

           O fumo saía por entre os meus lábios à medida que o cigarro os deixava gentilmente. O escuro do exterior deixava-me a perceber que ainda era bastante cedo para que a cidade acorde, portante, não devem ser mais do que as cinco horas da manhã. O contacto com o pedaço de papel e nicotina fazia com que a minha mente se esquecesse do que me rodeava e, ao mesmo tempo, contempla-se as vistas para um campo totalmente verdejante à minha frente.

O meu quarto estava situado de forma a ter uma pequena varanda para um dos poucos sítios verdes desta cidade, à exceção do Central Park. Tal como todos os restantes quartos de hóspedes e na casa ao lado, pertencente aos meus pais e que albergava os nossos familiares aquando das épocas festivas.

Havia passado uma semana desde a traição, e ainda não havia esquecido o momento em que os corpos a envolver-se um no outro; a revolta que se apoderou de mim e o momento em que a peça de diamante se desfez em pequenos pedaços, bem como o meu número característico, já de alguns anos, se desfizera no chão. Desde então, o meu novo telemóvel havia chegado, bem como um novo cartão. Já tinha de volta os números dos meus progenitores e amigos mais próximos; aqueles que necessitava.

Evelyn tem estado todo o tempo por entre os lençóis, tossindo compulsivamente à medida que os antibióticos deixavam de atuar apenas por um par de horas. Não havia voltado à empresa, e os meus pais contactam comigo através do computador, para que possamos tratar de todos os assuntos em conjunto. A rapariga assistia à televisão instalada no seu quarto, tentando esquecer-se das dores que a doença lhe causava. O melhor de toda esta situação era que ela estava a melhor progressivamente, e dentro de um dia iria deixar a medicação para passar a ficar mais ativa nesta casa.

Entretanto, por entre os meus contactos consegui fazer com que os documentos da rapariga com cabelos louros prateados fossem pedidos e muito em breve, eles chegariam à minha mesma morada. Sei que ela está bastante reticente quanto a tudo isto, e que não percebe o porquê de realmente a ter ajudado; mas, o que está por detrás disto tudo foi o simples facto de que não consigo ver vidas serem desperdiçadas, e sempre pude ajudar os mais débeis, porque não?

A história de Eve tocou-me um pouco mais no fundo do que todas as outras histórias que já ouvira de sem abrigos. A verdade é que apenas mantivera contacto com um senhor sem abrigo que acabou por falecer nas ruas, à uns meses atrás. Eu não queria o mesmo destino para uma jovem como ela.

Um barulho acordou-me dos meus pensamentos, e eu dei mais uma oportunidade para que o fumo formasse pequenas nuvens no ar, à medida que saía dos meus pulmões. Voltei a inalar o ar, contaminado pelas milhares de substâncias tóxicas. Olhei para o meu lado, e pude contemplar a figura feminina em que pesava na varanda. Acenou ligeiramente para mim.

– Que fazes aqui? – a sua voz sussurrou.

– Não conseguia dormir – respondi simples. Apaguei o cigarro contra o alumínio das grades que me impediam de cair para o terraço.

No movimento de o colocar dentro do caixote pequeno do lixo que ali se encontrava, este voou contra a minha mão, tendo reacendido com o contacto do ar sobre si. Uma breve queimadura formou-se contra a minha pele, e eu resmunguei muitas asneiras seguidas, pressionando a pele avermelhada.

– Estás bem? – a pequena rapariga, em altura, chega-se perto de mim, sendo travada pela parede de apenas um metro a barrar as duas varandas.

– Sim – digo, ainda sentindo a minha pele queimar.

– Talvez seja melhor ires tratar disso – Evelyn insiste, e quando analisa a minha mão, acabo por ceder.

Encontramo-nos na casa de banho do meu quarto, onde a rapariga pega ao de leve na minha mão, passando gentilmente creme para aliviar a dor e a queimadura, ao mesmo tempo que massaja o local ferido.

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