27 | Acolhimento

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EVELYN

– Estão todos bem? – certifico-me, trancando todas as portas do veículo, depois de estacionado. Ambos assentem, e eu ajudo Michael e ir até à sua cadeira de rodas. A sua perna ainda está em recuperação, por isso, mesmo que consiga caminhar, não convém aplicar muita força. Os gémeos são colocados no seu carrinho e a mãe encaminha-se pelo jardim até à entrada de casa.

Procuro afincadamente pelas chaves, chegando a despejar algumas coisas da mala para o chão. Michael e Nora riem-se da minha atrapalhação, até eu finalmente me deparar com o conteúdo prateado. Nota mental: colocar um porta-chaves enorme. O barulho da televisão é ouvido pelo ambiente que nos rodeia e eu sei que Noah chegara a casa primeiro que eu.

– Boa noite – o corpo do moreno move-se até nós para cumprimentar os dois melhores amigos que estavam, finalmente, livres do hospital. – Estão com ótimo aspeto – comenta, depois de deixar um beijo na testa da rapariga de olhos verdes, tal como os seus bebés. – Onde estão as coisas boas do padrinho? – ele fala com voz de bebé e encaminha-se até aos afilhados que até então se encontravam a dormir. Vejo que Noah brinca um pouco com as mãos dos pequenitos e volta a aconchegá-los.

– Olá – eu finalmente denuncio a minha presença, e ele não perde tempo em sobrepor os seus lábios nos meus, sussurrando um "Olá, amor". Quando voltamos a prestar atenção aos dois membros da nossa pequena comunidade familiar eles carregam uma expressão carregada e clareiam as suas vozes.

– Precisamos de explicações – tenta manter-se séria, mas a verdade é que tem um sorrisinho escondido no seu rosto.

– Vocês sabem como isto funciona... – pela primeira vez noto algo no moreno que nunca notara antes – timidez.

– Já há muito tempo? – negamos, ao mesmo tempo. Nora e Michael riem das nossas faces carregadas de dúvidas, e terminam por ali o pequeno interrogatório.

O choro dos bebés interrompe Michael de se deitar por completo sobre o sofá de grandes dimensões presente na sala, e Nora fica logo alerta, pegando primeiro em Jamie e logo depois em Oliver.

– Achas que posso ir até ao teu quarto, Eve? Eles devem estar com fome – eu assinto, e juntas seguimos caminho até à divisão onde ela se sente mais à vontade para poder dar a refeição aos pequenos. Os rapazes ficaram sozinhos na sala, enquanto assistiam a um programa aleatório que passava nela.

Com algumas almofadas atrás de si, a rapariga retira a sua camisola e alimenta Jamie em primeiro lugar, que logo parece ficar satisfeita.

– Lá em baixo, quando perguntámos o que se passava – anui, permitindo que ela continuasse o seu raciocínio. – Vocês ficaram um bocado mais tímidos que o normal para responder. Agora que estamos apenas aqui as duas, o que se passa com vocês? –

– Está tudo bem entre nós – dou o meu melhor sorriso. – Só que ainda não debatemos o assunto de forma séria. Nós vamos trocando alguns beijos aqui e acolá, no entanto não somos nada, de forma oficial. –

– São sim, são marido e mulher – ela deixa soltar um riso, o qual eu acompanho. – Mas gostas dele, certo? – assinto, e nesse momento consigo sentir um sorriso apaixonado formar-se no meu rosto, não podendo evitá-lo.

– Eu adoro-o, mas não sei se há algo mais. Ainda sou nova nestas coisas – sento-me sobre a cama e encaro o armário. – Estou a tentar perceber o que sinto. – sou sincera. Eu precisava de partilhar isto com alguém, e ela tem sido a minha melhor amiga desde que a conheci.

– E quanto a ele? Sentes que ele gosta de ti? – Jamie dá por terminada a sua refeição, e olha intensamente para mim. – Queres colo da madrinha? – Nora fala com uma voz fininha. A sua filha apenas solta uns sons da sua boca. Pego na bebé, que mais parece uma boneca, de tão perfeita que é, e volto a prestar atenção à mãe dos bebés. – Eu tenho certezas disso. Tenho certezas que ele te ama mais que tudo – engoli em seco, ficando um pouco alarmada pelas suas palavras.

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