EVELYN
– Eu amo-te – respirei fundo. O moreno, com os braços ainda sobre a minha cintura, observou-me, atento a cada traço da minha expressão. – Desculpa – mesmo controlando, as lágrimas deixaram os meus olhos sem que eu lhes ordenasse o que preocupou Noah. – Não sirvo nem para ser mulher –
– Eve – sussurrou, enquanto fazia leves carinhos sobre os meus cabelos. – O que se passa, querida? – estremeci nos seus braços, o meu corpo ansioso ainda a reagir às noticias horríveis que recebera.
– Eu não... não consigo... – os soluços tornaram-se mais intensos pelo que Noah caminhou comigo e ofereceu-me um copo de água. Eu bebi tudo num só golo, voltando a esconder a minha cara no seu peito. A sua camisa coberta de lágrimas.
– Quando estiveres pronta, diz-me – ele sentou-se, eu fui de arrasto, deitando-me no seu colo enquanto tentava ainda assimilar. A carta ainda em cima da mesa da sala. Apontei para a mesma pelo que o moreno a recolheu e olhou confuso para ela. – Isto é de um laboratório... – anui e deixei que ele continuasse a ler.
– Eu fui realizar análises de rotina a tudo o que está relacionado com o meu sistema reprodutor dado o meu histórico anterior... – suspirei, relembrando-me de novo por aquilo que passei e me abriu os olhos. – Achei por bem verificar todos esses parâmetros que aí vês – ele parecia estar perdido por entre todos os valores.
– Tu estás bem, não estás? – olha para mim preocupado.
– Só há um valor anormal. E está inferior, o que não é nada bom nesse caso – apontei para o valor a negrito, para salientar a sua anormalidade verificada. – A médica que me segue aqui em Nova Iorque avisou-me de todas as anomalias causadas por esse pequeno problema. –
– Não estou a perceber nada... Diz logo! – insistiu e eu tremi um pouco com a sua ordem. – Desculpa – beijou a minha testa, com um olhar arrependido.
– Resumida e simplesmente: Eu tenho muitas baixas probabilidades em vir a poder engravidar! –
– Como? –
– Tenho cerca de 5 a 8 % de hipóteses de engravidar. Eu nunca vou poder concretizar o teu sonho. – ele olhava incrédulo para mim, provavelmente a tentar assimilar tudo isto. Nem eu acreditava, mesmo depois de ter passado por todo um processo que me salvaguardava as oportunidades de engravidar, mais tarde. – Desculpa – era a palavra mais ouvida nesta casa, hoje. Retirei-me dos seus braços e com um olhar cabisbaixo quis seguir para o meu quarto – não o nosso –.
Com esperança que ele me parasse, eu segui em passos lentos, mas cada vez que eu me voltava para trás, ele estava vidrado na televisão completamente desligada, ou então com as mãos no cabelo em frustração.
Eu sabia que eu era feita de erros, e só provoco desilusões em todos.
Engoli em seco encarando o meu corpo no largo espelho. Por mais nova que eu ainda seja, saber desta notícia reduziu toda a minha autoestima, porque o que eu mais desejava era poder fazer alguém feliz, mas nem isso consigo.
Escolhi umas roupas largas para passar o resto da tarde e noite na cama. Não tinha mais forças. Não consigo acreditar que voltara a magoá-lo. Retirei as calças e a camisola, seguida da minha roupa interior, entrando no chuveiro. Fechei de imediato os olhos ao sentir a água quente atingir a minha pele e cabelo. As lágrimas misturaram-se com a água, a dor a intensificar-se no meu peito. Já o meu pai dizia: Não me serves para nada! Já as pessoas na rua diziam: Estes ratos andam aqui a parasitar o mundo.

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Essência
Romance(s.f.) O que constitui o ser e a natureza das coisas. Ser; existência. Nas ruas de Nova Iorque, Evelyn, uma jovem ambiciosa que procurava concretizar o seu maior sonho; tornar-se fotógrafa profissional através de uma das melhores escolas de arte do...