12 | Amsterdão

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NOAH

Por mais vezes que eu beliscasse a pele do meu braço, não conseguia acreditar que estava a passar mesmo por esta situação. Tudo parecia um verdadeiro sonho; nada era como eu havia sonhado, no entanto.

Desde que me conheço, caracterizo-me como alguém capaz de amar, dar tudo de mim. Queria que, noutras circunstâncias, isto tivesse acontecido. Desejava, mais que tudo, estar a viver o que sempre desenhei na minha mente. Até à poucas semanas eu estava pronto a casar; selar um compromisso com alguém. Se me perguntarem o que sinto neste momento, a minha resposta é simples: insegurança.

Inspirei, expirei. Dos meus lábios saiu o fumo do tabaco, que contrastava com o escuro da noite. Acordara fazia algumas horas. Dentro de minutos, Evelyn também estaria acordada. Para tornar verídica a nossa história de amor e acelerar o processo de nacionalização de Eve, nós escolhemos ir numa Lua de Mel. O país das tulipas fora o escolhido por nós. Era longe, de certo, mas poderia, pelo menos, escapar destes locais tóxicos para os meus pensamentos por um fim de semana que fosse.

Ouvi um grande suspiro. A figura feminina estava do outro lado da varanda, com um olhar desiludido. Por maior que seja o meu esforço em me livrar deste vício maligno, sempre havia estas alturas da madrugada em que não havia volta a dar; era impossível resistir.

– Dentro de meia hora temos de estar no aeroporto – informei, dando uma última respiração antes de apagar o cigarro. Dei um jeito nos meus cabelos que caíram para a minha frente.

– Obrigada – ela continuou fixada no luar, não se preocupando em preparar-se. É estas atitudes que me levam a crer que esta rapariga é única, uma edição limitada da série de seres humanos amáveis e gentis, sem qualquer tipo de pressas na sua forma de observar o mundo; toda ela transparece paz.

– Diz – eu sorri, vendo que ela não desviava o seu olhar de mim.

– Desculpa, é que eu... Toda esta nova situação ainda mexe com o meu interior. E algo que me provoca ainda mais ansiedade é ver alguém destruir-se aos poucos. Nós somos, segundo as leis do Estado Norte Americano, marido e mulher. Posso não estar apaixonada por ti, mas a minha admiração por ti não desvaneceu. Desde o momento em que me deste a mão e me retiraste daquele chão frio ao momento em que cuidaste de mim quando fui atacada pela doença. Não quero, nem consigo, ver-te em tal modo. Eu sei que é difícil, mas eu quero que me prometas uma coisa. – ela discursa.

– Evelyn... – não consegui negar. – Eu... Quando eu esquecer tudo isto, eu deixo de fumar, sim? –

– Essa vai ser a minha condição, Noah. Recordas-te quando prometeste que se errasses, conceder-me-ias o divórcio? – assenti, a medo. – Então promete-me que vais cuidar mais de ti, e libertar-te da toxicidade dessa mulher. –

Quão mau é a tua própria esposa te apoiar no momento em que ainda sofres por um amor que foi perdido, desperdiçado, despedaçado e destruído a mil pedaços por outra mulher?

– Eu prometo – ela esboçou um sorriso. Um dos poucos que ela tem deixado escapar.

De repente, ela não estava mais do outro lado do muro. Deduzi que se tivesse ido preparar. Eu também precisava de o fazer, então dirigi-me para dentro do meu quarto, verificando ter tudo na mala. Fui surpreendido, de novo, com a sua silhueta no escuro. Nenhuma palavra foi proferida, ela apenas se guiou ao meu encontro, e rodeou com os seus pequenos braços todo o meu tronco.

– Eu senti que estavas a precisar... – deixei que o meu estado de espírito fosse analisado pela rapariga.

– Obrigado! – agradeci. – Nunca irei saber como te agradecer por seres tão paciente e bondosa para comigo. Não mereço tal coisa – disse, sem pensar que o estava a dizer em alto e bom som.

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