30 | Inovar

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NOAH

– Antes de mais queria agradecer a todos os que se encontram aqui presentes – o silêncio gerou-se assim que a minha voz se fez ouvir. – Presumo que pelos rumores que andaram a circular já saibam do que se trata o assunto que vos traz aqui – os funcionários trocam olhares entre si. – Todos sabem qual é a minha posição perante o trabalho, a ética envolvida e todo o comportamento dos funcionários constituintes de uma empresa destas dimensões. Desde o primeiro dia que tenho sido tolerante em pequenas situações, mas o que aconteceu ontem excedeu todos os limites e fez-me aplicar processos disciplinares. Não vou estar aqui a denunciar, ou fazer uma humilhação pública, mas apenas quero que saibam que a partir deste momento o jogo mudou e as coisas vão ser bastante diferentes – os meus pais, que estavam ao meu lado, olharam-me confusos. – Não admito faltas de respeito perante colegas de trabalho. Têm problemas? Vão falar comigo, não desatam em cenas de pancadarias onde toda a gente vos pode ver. Não admito que haja lutas internas sobre os cargos. Isto não é por hierarquias, é por quem merece realmente a promoção ou despromoção. Por último, mas mais importante, se eu noto um ambiente pesado aqui na empresa eu vou querer saber o que se passa e os responsáveis por esse mau estar irão ser formalmente acusados. – estava a ser demasiado sério e rígido neste assunto, mas tudo o que tenho visto na empresa a ser tolerado pelo meu pai tirou-me toda a sanidade. – Alguma dúvida? – olhei para as dezenas de funcionários que se mantinham calados.

– Dr. Noah, vai haver muitas mudanças por aqui? Diz-se que vão haver despedimentos de incompetentes – eu jurei querer desfazer-me de quem andava a espalhar todos os rumores.

– Primeiro de tudo, sou apenas Noah. – sorri, pela primeira vez esta manhã. – Quanto a esses rumores eu vou ser muito explícito; Não quero que voltem a acreditar em nada do que ouvem aqui dentro. Tudo o que é para saber, eu digo-o, e quando não o faço é porque são assuntos confidenciais. E por último, eu vou averiguar quem anda a dizer tais barbaridades – oiço um cochichar no átrio da entrada do edifício.

– Obrigada – a funcionária que me questionara agradece.

– Podem dirigir-se aos postos de trabalho e não se preocupem com o que dizem. Saberão tudo por mim ou pelos meus pais. – e de repente todas as pessoas ali reunidas em minutos começaram a dispersar.

Isto vai mudar muito. Há aqui pessoas que abusaram da minha confiança.

Regressei, no mesmo elevador que os meus pais, até ao último andar. Eles não diziam nada e eu receava que não estejam a gostar desta minha atitude. Mas desde os acontecimentos de ontem que os limites se excederam e o ver lutar por cargos ou por se ser melhor que outrem não me agradou, dado o meu código ético.

– Não te vamos estar a chatear mais com isso, só queremos o teu bem – Catherine inicia o seu discurso. – Mas não sejas tão rígido com tudo e todos. Notamos que não estejas bem com a situação, no entanto não queremos que deixem de gostar de ti, que geres isto à tão pouco tempo –

– Não se preocupem. Aquele discurso foi uma forma de "sermão" porque eu não vou fazer nada demais. Apenas aplicar os processos e deixar fluir para ver como se comportam. Caso ultrapassem os limites de novo, já sabem. Não voltam a ter mais um emprego aqui. – preciso de um cigarro.

Os meus pais saíram em direção aos seus escritórios e eu fui até ao meu onde, e depois de muita procura, encontrei um maço de tabaco abandonado numa das gavetas. Vão ficar tão desiludidos comigo. Não consigo aguentar esta pressão. Depois de ontem e ver como tudo está a correr aqui dentro sinto que não estou a fazer um bom trabalho. E o que é que vou fazer? Regressar a vícios antigos porque simplesmente não tenho a coragem suficiente que demonstro ter.

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