11 | Compromisso

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EVELYN

"Não acredito que isto está mesmo a acontecer" repetia esta frase vezes e vezes sem conta na minha mente. A confusão ainda instalada à minha volta.

O tecido branco a deslizar sobre o meu corpo trazia-me de novo à realidade; "Não acredito que isto está mesmo a acontecer" continuava. O espelho denunciou a minha figura. Os cabelos devidamente alisados, com um pequeno gancho prateado a segurar aqueles que insistiam em cair à frente do meu rosto. A maquilhagem bastante simples e um pouco de batom cor-de-rosa pálido sobre os meus lábios. Os meus olhos azuis eram aquilo que mais se denotava em toda a minha face. A renda cobria os meus braços, sendo que um tecido mais forte todo o resto do meu corpo. Os sapatos escolhidos a deixarem-me numa postura bastante mais elegante.

Fui deixada uns minutos sozinha para que pudesse assimilar o que iria suceder. Esta divisão totalmente vazia, tal como a minha alma neste momento. Sempre sonhei com este momento, mas nunca desta forma. Sonhei em estar licenciada num curso que realmente contribuísse para a minha felicidade e, se eventualmente conhecesse alguém pelo caminho, apenas iria casar-me dentro de muitos anos, aproveitando a juventude que ainda me restava. Mas nada disto estava a acontecer e as circunstâncias do destino obrigaram-me a ficar dependente, mais uma vez, de Noah. Gostava imenso dele, mas o sentimento que ambos possuíamos não era aquele que as pessoas sentem quando declaram o seu amor perante o Estado; nós éramos bons amigos, somente isso.

- Querida - a porta é aberta, e por detrás do vidro fosco, Catherina surge com um ramo de tulipas azuis; uma derivação da espécie a qual eu não resistia. - O Noah já está pronto. Os advogados acabaram de chegar. Vamos prosseguir -

Quem desconhecia a situação, diria tratar-se de um casamento por amor. O espaço bem localizado, numa das varandas do edifício que irá pertencer, em breve, a Noah; o local privilegiado para uma vista sobre a rua na qual nos conhecemos. A decoração devidamente escolhida para a ocasião, mas a pedido de ambos os noivos, estava tudo bastante acessível, e nada requintado. A cerimónia decorrerá ao ar livre, com somente os pais de Noah e Michael e Nora a assistir, bem como ambos os advogados e a notária que irá legalizar o casamento. A justificação perante o mundo empresarial? - Uma cerimónia íntima e privada.

- Sentes-te bem? - a senhora, em breve, minha sogra, questiona-me, ao ver que não me movi. Forcei um sorriso. - Ainda podes voltar atrás -

- Não. Não posso deixar que uma idiotice minha destrua um negócio - eu digo, tornando-me mais confiante. Era só um casamento, certo? Em breve, quando tudo estivesse dentro das legalidades, esperaríamos alguns anos, e separar-nos-emos.

- Eu e Steve queremos frisar que o que estás a fazer é bastante corajoso. Salvar o império do meu pai vai ficar para sempre no meu coração como uma simbolização tua, Evelyn. O meu filho estava com bastante receio de perder tudo, mas graças a ti, tudo se irá resolver e, segundo sei, também poderás seguir o teu curso de fotografia e multimédia - escondo a minha nostalgia bem no fundo, e encaro Catherina com um sorriso no rosto.

- Catherina e Evelyn, o noivo está prestes a desmaiar, vamos! - Nora puxa-nos para fora daquele escritório - quarto improvisado por umas horas - arrastando-nos até ao elevador.

Durante todo o trajeto, os funcionários puderam ver-me, e eu senti-me bastante intimidade, embora os seus sorrisos e olhares carinhosos quisessem demonstrar o contrário. Parecia tudo ter parado o seu trabalho para me ver passar, e isso era deveras assustador. O elevador levou-nos diretamente ao lugar do casamento, não dando qualquer hipótese para pensar em mais qualquer coisa antes de ver o meu noivo a encarar-me através da porta de vidro.

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