25 | (In)Consciência I

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EVELYN

– Preciso de respirar um pouco – Noah fala, anulando todo o silêncio que se formara aquando a notícia do médico encarregue pelo acompanhamento em Michael e a sua situação, ora estável, ora instável.

Sem qualquer palavra, eu segui o moreno até fora do estabelecimento público. Cá fora estava um tempo frio e chuvoso, o vento a embater nas nossas faces. Vi que ele acendia um cigarro, de um pacote ainda por abrir. Fazia mais de um mês que ele não fumava, não à minha frente, e eu odeio saber que é para aliviar o que sente no interior, mesmo com a confirmação que isso só nos prejudica, sei o que ele sente e pensa ser solução o fumo tóxico a consumir os nossos pulmões.

– Noah, fala comigo – ele arregala o olhar ao ver-me ali, e vejo os seus movimentos para querer esconder o cigarro. – Sim, eu segui-te. Mas, por favor, tens de desabafar. – permaneci à sua frente enquanto ele levava a nicotina e todos os outros constituintes até aos seus lábios.

– Eu estou bem – minutos de silêncio sucederam-se. Ele ia acabar por falar. – O Michael é que não, e eu sinto-me tão angustiado por não poder fazer nada... –

– O tempo é a única resposta para esta situação – eu pego no cigarro que ele tinha quase terminado, e apago-o sobre o pavimento. – Não te sintas assim. Não há mais nada a fazer a não ser esperar, esperar por uma resposta concreta vinda da sua parte. –

– Já passou uma semana, Eve. – sem saber o que mais dizer para o confortar, apenas o abracei, sentindo-o suspirar repetidas vezes.

– O Dr. Lukas disse que a qualquer momento ele pode acordar –

– Dentro de horas, dias, semanas, meses, anos... Nunca saberemos. E se ele não reagir, nunca? –

– Podes parar, Noah? Ele vai lutar pela vida, vai lutar por conhecer os seus filhos. Está apenas a recuperar de forma inconsciente – coloco as minhas mãos sobre as suas bochechas, acariciando-as.

– Desculpa, mas não consigo evitar pensar no pior – junto os nossos lábios, como forma de o abstrair. Ainda não falámos muito acerca destes pequenos momentos entre nós, não quero arruiná-los.

– Nós precisamos de nos manter firmes a isso. A Nora e os bebés precisam de nós. Apesar de frágil, está a aguentar bastante bem o momento pelo qual está a passar, e precisa de nós. –

– Como é que consegues ser assim? És tão calma perante estas situações, transmites tanta paciência e paz interior. Juro... – ele nega com a cabeça, voltando a juntar o meu corpo ao dele. Beija repetidas vezes a minha nuca, e eu não consigo mais esconder o sorriso do meu rosto.

Regressámos ao interior do edifício onde visitávamos diariamente, depois de cada um se livrar dos seus trabalhos. Sabíamos que eles estavam em boas mãos e na companhia dos seus progenitores. Quando entrámos na sala de espera dos cuidados intensivos, ainda os pais de Michael se encontravam lá, com as olheiras por debaixo dos seus olhos.

– Obrigada por dispensares o teu tempo com o nosso menino, Noah. Vocês têm a vossa vida, mas ainda assim insistem em passar horas à espera de alguma resposta. – a mãe do melhor amigo de Noah agradece com lágrimas nos olhos.

– Não precisa de agradecer. Eu adoro-o. Com tudo o que tenho –

A conversa cessou, e mais uma vez o silêncio tomou conta do local. Decidimos ir ver Nora, que se encontrava numa sala de observação, pois os bebés estavam em risco de nascer prematuros. Andámos por alguns corredores, conhecendo parcialmente mais histórias sofredores dos pacientes que ali se encontravam, até conseguir encontrar o quarto da futura mamã.

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