08 | Conhecer

112 23 0
                                    

NOAH

– Conta-me mais sobre ti – decidi intervir no silêncio que se havia formado havia minutos. Tratávamos de colocar todas as roupas da mulher com a qual passara os últimos dois anos enganado dentro de algumas caixas para oferecer a instituições. Por mais raiva que contivesse em mim e a minha única vontade fosse usar aquela roupa como meu aquecimento este inverno, Evelyn consciencializou-me de que haviam muitas pessoas a necessitar dela para os invernos rigorosos e não têm possibilidades para a comprar. Aceitei de imediato a sua proposta.

– Não há muito para saber sobre mim – ela dobra algumas peças. Por incrível que pareça, bastante era a roupa que eu lhe fui oferecendo ao longo do tempo. Também seria a última vez que me deparava com coisas dela pela minha casa; ou até mesmo me recordava dela. – Vim da austrália, sem o consentimento dos meus pais. Eles são igualmente empresários, mas uma indústria completamente diferente. A minha mãe trabalha numa farmacêutica e o meu pai gere uma pequena empresa de tecidos –

– E como estás a lidar com a sua despedida? – tentei, a todo o custo, engolir esta pergunta, mas não consegui aguentar; a curiosidade traiu-me.

– Um pouco mal, ao princípio pior. Mas eles tinham razão, eu não deveria ter deixado Sydney. – ouvir as suas palavras faz-me realmente pensar sobre o destino e os caminhos que leva as pessoas a percorrer. – Lá eu tinha um emprego sustentável, enquanto não conseguia melhorias para o curso de advocacia que os meus pais tanto aspiravam que eu seguisse. Estive durante um mês na faculdade de humanidades, mas desisti porque não conseguia obter notas o suficientemente boas para conseguir pedir transferência de cursos. A partir desse momento comecei a pegar na minha máquina fotográfica e a visualizar o mundo de outra forma – o seu sorriso é genuíno quando fala da sua paixão.

– Já pensaste em quando te vais candidatar? Não tenho a certeza se eles, a esta altura do campeonato, irão realmente aceitar alguém – assim que digo, arrependo-me de imediato ao ver a sua expressão tornar-se nostálgica.

– Eu estava a pensar ainda esta semana, quando conseguisse obter os meus documentos. –

– Eu faculto-te o meu escritório para o que quiseres, sim? Podes ir lá consultar os teus e-mails e ver a melhor forma a recandidatares-te – ela assente.

– Faltava-me somente apresentar-me aos reitores da universidade; mais especificamente, apresentar os meus trabalhos, para conseguir a vaga, no início do ano letivo – as suas mãos pousam-se sobre o amontoado de roupa que já estão numa das caixas.

– Isso é tão triste de ouvir – comento, abanando a cabeça levemente. Ela estava tão perto de conseguir. – Importas-te que eu veja as tuas fotos? – peço, com muita curiosidade para matar.

– Mais logo – sorri de lado, continuando a sua tarefa.

Voltei a concentrar-me em fechar algumas caixas. Ao ver um tecido de renda sobre a cama, o único que faltava colocar no meio dos outros, a minha mente decidiu pregar-me uma partida e relembrar-me de quando lhe ofereci aquela peça de roupa interior; a sua primeira roupa interior oferecida por mim, estávamos no início do nosso namoro. A renda era branca, bastante ousada até.

– Noah! – a rapariga exclama ao meu lado, ao ver-me hipnotizado a olhar para aquela peça. – O que se passa? –

– Nada demais – atiro a renda para um canto do armário.

– Essa lingerie  pertencia-lhe...? – assenti.

– Pretendo desfazer-me dela, e de todas as outras lingeries – eu digo, e ela não discorda.

EssênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora