10 | Proposta

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NOAH

O frio que se constatava do lado de fora do edifício era idêntico ao que se encontrava no seu interior. Com o gás congelado, não tínhamos acesso aos aquecimentos principais, e a neve e gelo que permaneciam lá fora não fazia reunir as condições necessárias a um dia de trabalho. Era o primeiro nevão de dezembro em Nova Iorque. Os geradores mantinham apenas o calor produzido por energia elétrica nos andares nos quais as pessoas circulavam mais.

O meu pai vagueava de um lado para o outro, tendo parte dos funcionários em falta devido ao trânsito impedido de passagem em algumas zonas. Decidi intervir, dando a minha sincera opinião. Isto não iria funcionar, de nenhuma maneira, hoje.

– Pai – chamei a sua atenção, o qual foi rápido a observar-me. – Mais cinquenta e cinco porcento dos funcionários não estão cá. Os administradores ligaram agora mesmo a dizer estar impedidos de circular no leste e sul de nova iorque, zonas mais afetadas. Não podemos abrir, e não funcionar a cem porcento. Acho que deveríamos fechar –

– Eu ponderei essa hipótese centenas de vezes... –

– E o que te impede, então? – inquiro, confuso pelas suas ações.

– É que nós não poderíamos perder as reuniões de hoje. São consideravelmente importantes e... – ele suspira. – Tens razão, filho. Nós não temos outra opção se não dispensar o resto do pessoal e regressar a casa. Aqui já nada fazemos – derrotado, ele próprio se despede dos funcionários, supervisionando a sua saída.

– Noah – Steve diz, e com um tom alarmado eu fico assustado com o que poderá ocorrer daí. – Preciso que venhas comigo ao meu escritório. Tenho de falar contigo sobre algo extremamente relevante – o seu passo apressado, à medida que a sua expressão mostrava que se recordara de algo que o preocupava.

– O que se passa? – ele apronta-se a retirar uma pequena capa negra e entrega-me a mesma.

– De à uns dias para cá, a empregada fez uma limpeza profunda neste escritório. Como sabes, era o do teu avô, Adalbert. Ela encontrou papéis que eu desconhecia o seu paradeiro à anos. Sei que eram importantes, mas não me recordava estarmos tão perto da data limite – as suas afirmações parecem ser intimidantes, no facto da sua expressão ser demasiado séria. – O avô construiu esta empresa, como sabes. E ele sempre quis ter filhos. Não conseguiu e acabou por ter as quatro filhas; a tua mãe e as tias. Ele fez um esforço enorme enquanto vivo, e quando tu nasceste, trouxeste brilho e destino à sua vida. Quando lhe foi diagnosticada a doença, ele escreveu este testamento, onde está explicito quem irá assumir o comando quando ele falecesse. Assim, eu tomei controlo enquanto tu não te formavas em administração. Acontece que está regulado, numa das linhas, que cinquenta e um porcento das suas ações, geridas por mim, teriam imediatamente de passar para as tuas mãos assim que celebrasses os teus vinte e quatro anos. – o meu olhar abre em surpresa.

– O avô deu-me mais de metade da sua empresa? – os meus olhos marejam, com a emoção.

– É, parabéns! – ele solta um leve sorriso. – Não seria um problema cumprir o testamento, mas está lá bastante explícito que tens de estar casado e devidamente mestrado nas funções que esta empresa requere. Eu irei continuar aqui, bem como a tua mãe, mas tu assumirás papéis bastante importantes. –

– Casado? – falo atónito.

– Sim, e a tua esposa vai ter direito a uma parte da empresa também. –

– Mas... Esposa? – atiro-me, literalmente, para um dos sofás, ainda surpreso com toda aquela informação.

– Eu sei, Noah... – esfrega a nuca. – Já não estás mais com ela, nem irás ficar em breve noivo, e isto será um problema. –

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