22 | Agradecimentos

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NOAH


Três de março. Como poderia eu esquecer-me desta data, quando esperei ansiosamente por ela? Mesmo assim, o calendário do meu telemóvel fez questão de não deixar passar a ocasião.

Preparei cuidadosamente os morangos, pousando-os sobre o preparado de chocolate. Já há algum tempo que estava nesta nova situação de preparar refeições, e a verdade é que Evelyn tem-me tornado num homem mais doméstico; até consegui preparar os meus próprios jantares quando ela fazia serões envolta no seu projeto.

As minhas mãos pegaram no pequeno tabuleiro, onde as cicatrizes captaram a minha atenção. Mesmo um mês depois, ainda conseguia lembrar-me do meu impulso e o olhar de dor em Evelyn, culpa. Porque é que eu sou assim? A primeira vez em que acertei e encontrei alguém sincero, que não me provocasse, não traísse a minha confiança, eu fui fazer aquela cena toda em frente dela.

Não havia qualquer pequeno som em casa. Era bastante cedo ainda, não obstante, era um dia de trabalho para mim e um dia de aulas para ela. Pequeno-almoço na cama era apenas a sua primeira prenda, da sucessão que eu lhe havia preparado, em conjunto com os meus dois melhores amigos. Sorrio, quando recordo a melhor notícia que me deram durante estes dias algo sombrios e ventosos.

– Bom dia! – decidi acordá-la de forma lenta e gradual, para não lhe provocar um susto e mau humor. – Acorda, Eve – sussurrei ao seu ouvido, recebendo como resposta um pequeno suspiro, mas nem um movimento por parte da pequena rapariga. – Vamos lá, princesa –

Evelyn não move um músculo, mas eu sei que ela está acordada pelo pequeno sorriso que denotei, ao observar, durante alguns segundos, o seu rosto tranquilo. Decido optar pelo terceiro plano para a acordar; dirigindo-me à sua zona abdominal assusto-a quando cócegas começam a ser distribuídas e aí ela move-se, tentando escapar – algo que eu não deixo. Ela ri descontroladamente, e noto pequenas lágrimas saírem já dos sues olhos fechados. Paro, e os nossos rostos estão perigosamente perto um do outro.

– Parabéns! – deixo o seu corpo ser livre novamente, e ela espreguiça-se, voltando a fechar de novo os seus olhos. Acenei negativamente a cabeça, rindo. Coloquei o tabuleiro sobre as suas pernas, e a pequena rapariga sentou-se devidamente.

– Obrigada! – ela agradece, devorando com o olhar todo o conteúdo ali apresentado. – Obrigada! Obrigada! – ela começa a repetir, ao aperceber-se ser aquele o seu pequeno-almoço preferido, que supostamente só ela sabia preparar. Bem, eu fui aprendendo ao vê-la confecionar. – Não te sabia tão conhecedor dos meus gostos pessoais –

– Conheço-te mais do que aquilo que pensas – pisco-lhe o olhos, vendo uma cor rosa formar-se nas suas bochechas.

– Isto está ótimo! – fala, com a boca preenchida com as panquecas de morango e cobertas de chantilly – Nem acredito que já estou a fazer 20 anos. Ainda à pouco tempo tinha 18 anos e estava a graduar-me! – ela suspira, continuando a sua refeição.

– E eu não acredito que continuo a ser quatro anos mais velho do que tu – constato e ela oferece-me uma estalada no meu braço.

– Se fores perguntar a alguém desconhecido, dizem que sou eu a mais velha – provoca, com o facto do meu rosto ser ainda jovem – mais quando os pequenos pelos faciais são removidos.

– Mas lembra-te, quando eu tiver quarenta anos, vou parecer um rapaz novo, já tu serás uma mulher cheia de cabelos brancos – brinco, sendo-me oferecido um puxão de orelhas.

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