NOAH
A pequena Eivey, desajeitada como sempre, correu como podia pelo corredor a fora à procura da porta do nosso quarto. Evelyn dormia profundamente depois das dificuldades em adormecer na noite anterior. Nos meus braços carregava o nosso pequeno-almoço, aquele que iria ser a primeira de muitas surpresas do dia.
Encontrava a porta, bastou empurrar com a sua pata e esta abriu-se. A dificuldade começou quando ela não conseguiu subir para a cama, mas sabia quem se encontrava lá. Peguei na pequena cadelinha e pousei-a sob o colchão que ela percorreu de uma ponta à outra, mais feliz que nunca.
– Amorzinho – ouvi a sua voz rouca matinal e aproximei-me delas. – Eivey – resmunga, com um sorriso no rosto, ao sentir o pequeno animal subir para cima dela.
– Bom dia, Eve – falei pela primeira vez e os seus olhos abriram para encarar os meus. Fiz leves carinhos no seu rosto e cabelo e ela fechou-os de novo, apreciando. – Temos de nos levantar preguiçosa – beijei a sua testa e ela voltou a mirar-me.
– Que horas são? – pergunta, esticando-se sobre o colchão.
– Perto das dez horas da manhã – falei, e apontei para o pequeno tabuleiro com a primeira refeição do dia.
– És um fofo – beijou o canto da minha boca, e aproximou-se do croissant ingerindo-o num fechar de olhos. – Eivey, sabes que ainda não tens dentes para comer – a pequena brincava e aproximava-se dos bolos, mesmo que ainda não conseguisse mastigar.
– Ainda temos de nos preparar, Evelyn – decidi deixar um pouco de suspense no ar.
– Porquê? Hoje é sábado, amor – espreguiçou-se.
– Tenho o dia planeado – peguei no tabuleiro com a comida já inexistente nele, dirigindo-me ao andar de baixo. – Vai estar vento – avisei pelo que como resposta recebi olhares confusos e uma tentativa de persuasão do sitio onde iríamos.
Como é que nunca me ocorrera proporcionar-lhe tal viagem?
Após escolhida uma camisa branca e umas simples calças informais, das poucas que ainda existiam no meu armário. Tive o cuidado de escolher um casaco, pois como disse, ia estar vento. Demorei mais algum tempo a tentar organizar a divisão que continha toda a minha roupa, dada a confusão em não conseguir encontrar a gaveta dos sapatos.
Ouvi algumas portas fechar e deduzi que já Evelyn estivesse pronta para este dia. Saí do quarto e vi-a com Eivey ao colo, completamente babada pela pequena cadelinha. Envergava um longo casaco ao longo do seu corpo coberto por umas calças claras, uma camisa rosa bebé com as sapatilhas a combinar. E eu podia dizer que estava completamente apaixonado por esta miúda.
– Vamos? – estendi a minha mão ao alcance da sua que logo a agarrou. – A Eivey vem connosco – observei a sua mala, enorme, pelo que deduzi que trazia a sua câmara atrás. Sorri.
– Não vais mesmo dizer-me? – neguei e ela fingiu amuar.
– Tenham uma boa viagem, meninos! – Henry despediu-se de nós fechando todos os portões para que ninguém tivesse acesso a minha casa.
– Obrigada, Henry – ela já sorria, mas voltou a não falar comigo ao entrar no carro.
– Amor, eu prometo que é um sítio lindo – olhou para mim enquanto começava a conduzir. – Não fiques chateada porque não te digo, eu adoro fazer-te surpresas –

VOCÊ ESTÁ LENDO
Essência
Roman d'amour(s.f.) O que constitui o ser e a natureza das coisas. Ser; existência. Nas ruas de Nova Iorque, Evelyn, uma jovem ambiciosa que procurava concretizar o seu maior sonho; tornar-se fotógrafa profissional através de uma das melhores escolas de arte do...