13 | Planos

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EVELYN

A sensação de despertar num país completamente diferente provocou-me um humor incrível. A paisagem que a janela me proporcionava colocou-me um sorriso no rosto. Um sorriso o qual eu sentia bastantes saudades. Fazia meses que não me sentia tão bem. Talvez, para ser verdadeira, desde que saí a primeira vez de casa para ir fotografar as florestas e as aldeias em volta de Sydney.

Os meus olhos captaram Noah ainda a dormir, descoberto da manta, sobre o sofá. Pé ante pé, fui cuidadosamente para a sua beira. Senti as minhas bochechas corar quando vi que se encontrava com o peito exposto; desviei o meu olhar, tímida, envergonhada, e tapei-o com o tecido quente.

Com todo o cuidado possível, conduzi o meu corpo até à pequena varanda, sentindo de imediato a brisa fresca da manhã contra a face. Fechei os olhos momentaneamente, apreciando um ar totalmente distinto ao que me havia acostumado. Estava um pouco de frio, e as pessoas passavam pelas ruas com a mais pacificidade, admirando a sua cidade. Envolvi mais o robe em volta do corpo, para me proporcionar um instante de conforto.

Neste momento, apenas quero aproveitar para arejar todas as ideias presentes em mim, e dar uma oportunidade ao que o presente me tem dado, e ao que o futuro me reserva. Passo a passo, e de uma forma bastante plácida, encaminho-me no caminho certo, depois de em tantas pedras ter tropeçado.

Barulhos no interior do quarto do hotel denunciam o acordar de Noah. Ouço-o tossir durante breves segundos, para depois se acalmar, e aparecer do meu lado, com o cobertor enrolado no seu corpo.

– Olá – diz, com a voz bastante baixa. – Bom dia –

– Bom dia – agradeci, da mesma forma.

– Como foi a tua noite? Conseguiste descansar? – ele indaga, e acaba por sentar-se numa das cadeiras de ferro, colorido num tom azul.

– Sim, dormi mais ou menos sete horas – eu sorri. De facto, fazia meses que não dormia uma noite completa, sem acordar com qualquer estrondo, pesadelo ou simplesmente do nada.

– Ainda bem – ele mostra-me, também, o seu sorriso. Com o seu olhar, capta a linha do horizonte, fixando-se nela e nos prédios que a rodeiam. – Hoje o dia vai ser repleto – anuncia, e eu encaro-o, confusa.

– Então? – questiono, com um pouco de curiosidade a surgir em mim.

– Planeei um passeio pelos jardins de tulipas, os moinhos, os sítios históricos da cidade, como por exemplo, o museu casa de Anne-Frank. Ao meio dia, almoçamos num restaurante que não esteja lotado, e ao fim da tarde, regressamos. Está em processo de averiguação uma possível saída à noite – explica. Tentei processar toda a informação.

– Está ótimo, por mim – disse, por fim.

– Sempre desejei vir aqui... – suspira. – Mantive-me de tal maneira preso ao trabalho e a um falso romance que nunca expressei realmente esse desejo; tal maneira que nunca chegara a cumpri-lo, até agora. – ele explicita, ouço-o com atenção.

– Não merecias que te fizessem tal coisa – sou sincera, expressando a minha opinião. – Agora percebo as tuas atitudes –

– Obrigado – murmura, e vejo o seu corpo encolher-se, por debaixo do cobertor.

– Isso meio que me aconteceu lá na Austrália – eu desabafo, e ele olha atentamente para mim, quase como que captando toda a minha alma. – Eu tive, somente, um namorado, e nunca tive realmente uma melhor amiga. Um par de amigas da minha turma. Quando encontrei realmente a minha vocação, fui traída nesse aspeto. Juntamente com os meus pais, fui manipulada pelo Jameson a não me inscrever neste curso para o qual concorri. Então, houve uma tarde em que ele disse tudo o que pensava sobre mim e sobre eu não ser capaz de ser alguém na vida, qualquer que seja o curso que eu tire – revelo, momentos a seguir ele encontra-se boquiaberto.

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