17 | Erro

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Evelyn

Por vezes... manter relações saudáveis é bastante difícil. Dizer que todo aquele acontecimento não teve impacto nas nossas vidas era amenizar a situação. Desde aí, os nossos olhares cruzam-se, e falam entre si as coisas que não conseguimos falar quando pela nossa boca apenas nos desejamos um ótimo dia de trabalho ou nos questionamos sobre algum assunto bastante geral.

Aquela noite tornou-se num pesadelo para Noah. Voltar a rever a mulher que o traiu e se aproveitou dele deixou-o de rastos. Quis ajudar; mas também eu piorei as coisas. Neste momento? Sinto-me a pior amiga. Invadi a sua privacidade, e perdi a sua confiança inicial. Expressei algo que nunca antes lho dissera em frente de toda a gente, e agora não o consigo encarar.

Sempre me tomei como alguém frio. Coração gelado, mãos geladas. Mas, o momento em que ele me ergueu daquele chão frio, eu aqueci. Admirei tal ato, a sua coragem em cuidar alguém das ruas e vê-lo cuidar bem dos outros.

Os livros entram na pequena mala, bem como todos os cadernos para as disciplinas. Pego no telemóvel e informo-me acerca dos horários dos autocarros. Faz uns dias que tenho andado de autocarro para todo o lado; não o quero importunar mais, muito menos agora que ele está a trabalhar tanto e até tão tarde. Trato de arranjar um pouco o cabelo despenteado desde que acordara. Passo a passo, encaminho o meu corpo até à cozinha.

– Bom dia eu saúdo. Noah desiste, nesse momento, de envolver a massa na taça, e procura algo, afincadamente.

– Bom dia – apressado, ele passa por mim. – Ontem recebi esta notificação do tribunal. É acerca do depoimento que deixaste. – o envelope branco passa para as minhas mãos, e subitamente estas começam a tremer, tal como passei todo o depoimento com os advogados, onde todo o tipo de perguntas me foi colocado.

Ao ler a carta dentro daquele envelope, apercebi-me, então, de imediato, que aquela não era para mim; mas não consegui deixar de me infiltrar em assuntos que não são meus. Nesta, Noah é informado que a sua ordem de restrição para a mulher que antes quase fora sua noiva tivera sido aceite. Senti-me mal, pois ele já não conseguira falar comigo acerca disto.

– Ah... Noah. Penso que esta carta não é para mim. – entrego-lhe o papel e ele, embaraçado, coça a nuca e trinca o lábio nervosamente, entregando-me em seguida o outro envelope.

– Peço desculpa –

Leio e releio, e a minha mente parece ainda estar a assimilar a situação. Devido à fragilidade pela qual passei, segundo o advogado contratado por Noah depôs, fiz uma pequena entrevista gravada que iria ser analisada pelo juiz. Acontece que o depoimento foi validado, e irá ajudar no processo, pelo que este foi acelerado e em poucos dias saberei o resultado do caso. Tudo indica que eles passem muitos anos na prisão.

– São boas notícias – ele dá-me um sorriso, deixando-me reconhecê-lo depois de dias e dias sem ele aparecer.

– Sim, muito! – ainda seguro a carta, quando vejo o papel movimentar-se devido aos tremeliques da minha mão.

– Não estejas nervosa. Eles vão ter o que merecem e tu irás ter o que mereces: tudo de bom depois daquilo que passaste. –

– Obrigada. – e foi a última palavra a ser dita antes de eu abandonar a casa com uma maçã na minha mão.

Alguns autocarros depois, finalmente chegara ao instituto para a primeira e última aula do dia, que duraria cerca de três horas. Era sexta-feira e estávamos livres para qualquer que fosse o nosso compromisso. No meu caso, ficar em casa a fazer novos projetos que possa apresentar mais tarde.

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