05 | A Verdade

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EVELYN

Coloquei a última peça de roupa na pequena mala que me havia sido dada. Fazia mais de três dias que me encontrava neste hospital, e hoje finalmente comecei a melhorar, sendo me dada por isso alta hospitalar, com a promessa de regressar para verificarem o meu estado de saúde. Segundo o Dr. Ownsen, eu precisava de tomar algumas vitaminas para refortalecer a falta delas durante estas semanas.

Custa-me a acreditar que alguém realmente entendeu o meu cartaz e me está a ajudar. Noah tem sido incrível; e segundo sei, os seus pais já sabem sobre mim e por essa mesma razão têm-lhe cedido alguns dias para ele se recompor e me ajudar. Conforme os dias passavam, novas peças de roupa eram trazidas por ele, para que eu pudesse ter algum suporte e refazer a vida. Nunca conseguirei, com todo o meu dinheiro, agradecer tudo aquilo que ele está a fazer por mim; vai além de questões monetárias.

- Estás bem? - Noah pergunta, quando nos dirigimos ao seu veículo. Anui, sem que nenhum som saia da minha boca.

O lugar do passageiro é ocupado por mim e eu permaneço lá, sossegada e sem realizar qualquer movimento sem ser o pestanejar dos meus olhos. O moreno conduzia a uma velocidade moderada, enquanto eu ia percorrendo com o meu olhar os diferentes locais daquela cidade nunca antes visitada, verdadeiramente, por mim. No pequeno ecrã do seu automóvel indicava já ter passado mais de quinze minutos de viagem, e eu fiquei intrigada pelas imensas estradas em que ele nos dirigia. Finalmente parava o motor do veículo, e à medida que a porta foi aberta para mim reparei que não estávamos em frente ao seu condomínio privado mas sim a uma esquadra de polícia. O meu coração começou a palpitar, subitamente, de forma demasiado rápida. Sentia as minhas mãos começar a tremer.

- Noah? O que estamos aqui a fazer? - ele ia entregar-me à polícia, deportar-me do país. Eu sou considerada ilegal pela falta de cidadania e documentos que comprovassem a minha existência; eu sabia, lá no fundo, que ninguém iria querer realmente ajudar-me e sustentar-me por muito mais tempo, demasiado bom fora o que ele fizera estes dias.

- Calma - a sua mão deposita-se sobre a minha, a qual é retirada rapidamente. - Evelyn - chama, a sua voz arrastada pela preocupação.

- Tu vais entregar-me às autoridades - é a única frase que deixa os meus lábios.

- Não! Não! - aflito, pega nas minhas mãos, fazendo-me olhar para ele. - Eu prometi ajudar-te, mas não iria pelos caminhos mais fáceis. Vamos apenas certificar-nos que a queixa formal é apresentada e rezar para que as tuas coisas tenham aparecido abandonadas algures num beco da cidade - afastei-me um pouco dele, ainda com medo do que fosse acontecer. - Vem - segui o seu corpo, que me guiou até uma secretária, onde atrás desta estava um guarda adormecido.

Noah bateu sobre a mesa, chamando a atenção do homem, que logo disfarçou e se aprontou a atender-nos. O rapaz descreveu toda a minha situação, e eu apenas vi a expressão do senhor transformar-se em desinteressada pelo assunto que já houvera acontecido à alguns meses. Foi então que ameaçou fazer uma queixa por um trabalho incompetente e falar com o líder daquela esquadra. Dois agentes apareceram ali naquele momento, e quando me observaram, nas suas caras transpareceu surpresa.

- Vocês têm a certeza disso? - Noah pergunta aos homens sem qualquer farda que os identificasse como agentes.

- Absoluta. Sintética. Analítica - eles respondem e continuam com o seu olhar sobre mim. Sinto-me confusa nesta situação em que me infiltraram.

- A jovem em questão foi detida à cerca de cinco semanas, numa rusga em um bairro de traficantes de droga e prostitutas. - Qual não foi o meu espanto e choque ao receber tal informação.

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