18 | Desamparado

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NOAH

A noite fora curta, demasiado. À minha volta, uma confusão. O que pensava ser um pequeno momento e discreto de despedida, tornou-se demasiado público. Alguns dos pais, amigos e companheiros dos seus colegas de curso estavam a despedir-se dos respetivos conhecidos. Evelyn só me tinha a mim, e isso, de certa forma, deixava-a insegura; eu via no seu olhar a dor.

– Se precisares de algo, liga-me. A qualquer hora, sim? – a pequena rapariga, em altura, apenas assentiu, e envolveu com os seus braços o meu tronco. – Faz uma ótima viagem e diverte-te! – estavam a chamar as pessoas do voo, e eu não a queria atrasar.

– Até breve – os seus olhos lacrimejantes.

Beijei a sua nuca diversas vezes, tentando reconfortá-la. Eve tem-se tornado tão especial para mim que não sei explicar o que sinto quando ela não está por perto. Por mais estranha e quieta ela tenha estado estas últimas semanas, sei que, no fundo, não me quer importunar mais e ser um peso para os meus ombros. No entanto, ela nada é mais do que um alívio profundo. A loura é quem me acalma, mesmo sem saber.

Todos esperavam que nos beijássemos, disséssemos coisas ao ouvido um do outro e nos despedíssemos com mais beijos; tal não aconteceu, e a sociedade reprovou. Olhares forasteiros envolveram o nosso ambiente e eu fingi não estar incomodado. De certa forma, eu não quis forçar Evelyn a fazer algo que ela não quisesse, mais uma vez.

– Assim que chegares, deixa-me saber – em meias palavras, ela entende, pegando então nas suas coisas e dirigindo-se até à porta de embarque.

Todo o meu estômago remoía. Estava nervoso. Ansioso para que este mês passasse. Não queria admitir que alguém ao meu lado me fazia falta, mas a verdade é que fazia. Fiquei tão ligado, de certa forma, a uma companhia feminina que agora é tudo estranho para mim. Apesar de todas aquelas que já passaram algum tempo da sua vida comigo não terem sido das melhores companhias, eu sabia que Evelyn não era apenas mais uma. Eu gostava dela, uma amizade gratificante. E que eu espero que perdure por muitos anos.

Após algumas voltas pela cidade, finalmente chegara a hora de entrar no escritório e iniciar mais um dia de trabalho. Entrando na sala, encontrei Michael e Nora, sentados sobre o longo sofá desta.

– Olá! – Michael aperta a minha mão. – Então, estás bem? – assenti.

– Olá, Noah! – Nora abraçou-me; um daqueles abraços que faz qualquer pessoa perder a postura e querer chorar, ali mesmo.

– O que fazem aqui, tão cedo? – decido questionar, desviando as atenções de mim.

– Soubemos que a Evelyn vai agora numa viagem de um mês para áfrica. Como te sentes? – a minha melhor amiga fala, deixando-me de novo mais suscetível ao desabafo.

– Um pouco abalado, mas nada de mais – forço um sorriso.

– Nós vamos estar aqui, para te fazer companhia, No! – Michael, sabendo que odeio alcunhas, tenta provocar-me.

Nego, iniciando uma gargalhada que se tornou geral.

– E vocês já estão bem? Já falam normalmente, ou ela continua com os recuos e avanços? – Nora puxa-me para o seu meio, entre Michael e ela. Abanei os ombros.

– Acho que foi aquele momento com a Bea, sabem? Ela pensou ter tocado em pontos fracos e a partir desse momento mostrou-se mais inibida nas suas falas do que anteriormente, escolhendo com bastante cuidado o que dizer. Para além de que, há uns dias, ela saiu com os seus amigos de curso, e ligou-me a meio da noite para a ir buscar, porque tinha cometido um erro e não tinha coragem de me dizer – explicito a situação ao casal, que me olha atento.

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