20 | Limite

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NOAH

O meu sorriso desvanecia cada vez mais à medida que o meu olhar se deparava com as palavras que cortavam a minha respiração e deixaram o palpitar do meu coração descoordenado a partir do momento em que li a primeira frase. De todas as situações que pensei que poderiam acontecer, nada disto me tinha passado pela mente. Os pensamentos cruzavam o meu cérebro como se de uma guerra se tratasse. As emoções indecisas.

Li e reli a carta. Tentava perceber a razão por detrás de tais ações; Porque pediria ela tal coisa?

Nesse momento, relembro-me da noite em que ela me ligou, desamparada, e procurou ajuda, enquanto dizia que tinha cometido um erro. Há alguns dias atrás, quando a fui buscar ao aeroporto, ela pareceu agradecida pela preocupação, mas o momento em que os seus pés entraram em contacto com o piso de casa, ela agiu de forma estranha, e estava meia tristonha. Desde aí, que percebo que ela me esconde algo, e eu quero saber o porquê disto ter tomado estas dimensões.

Sei que não era suposto eu estar a sentir isto; como se fosse traído, a desilusão consome-me, bem como a mágoa, que vai cedendo algum espaço para que também a raiva se apodere de mim. Na minha mão, enrugo os papéis, e dou um murro contra a secretária.

O som ecoa por todo o escritório, e segundos mais tarde, ouço um bater leve na porta, à medida que esta se abre e revela Evelyn, apoiada na sua canadiana com um olhar preocupado.

– Porquê? – proferi, magoado. Ela apenas me olhou, assustada perante a minha atitude séria. – Porque fizeste uma coisa destas? Diz-me eu gostava de compreender as tuas razões... – desta vez, excedo os meus limites, e falo bruto.

– Eu não sei do que... – ela não termina de falar, pois eu atiro-lhe os papéis do nosso contrato de compromisso para a sua beira.

– Eu, sinceramente... Não deveria ter colocado em mim a esperança que fosses melhor que as outras... Todas me traíram. – e assim que esta palavra abandona os meus lábios, ela arregala os olhos e adquire um cor bastante vermelha, tanto na sua face como nos seus olhos.

– Eu preciso de te explicar, foi –

– Um mal-entendido? Decidiste ligar aos meus advogados, alterar o contrato, sem falar comigo antes... – como estava a ficar nervoso e ansioso, a minha cara fervia, e pequenas manchas na minha pele surgiam.

– Não foi bem assim, eu agi de cabeça quente. Aconteceram umas coisas – ela deixa a frase suspensa no ar, com um olhar melancólico, como se algo lhe estivesse a ocorrer em mente.

– Eu confiei demasiado em ti... Não deveria entregar-me tanto às pessoas... – eu digo, sentando-me sobre a cadeira, que balançava conforme as minhas pernas.

Por momentos, o silêncio instalou-se, e o ambiente tornou-se pesado. Evelyn ainda segurava as folhas na sua mão, paralisada no seu sítio, sem que nenhuma palavra deixe a sua boca. E no entanto, tudo estava uma confusão.

– Não digas isso! Por favor! – ela pede, e noto desespero na sua voz. Uma parte de mim quer ceder e tentar compreender o seu lado, outra quer simplesmente desistir de tudo isto e deitar fora todos os sentimentos envolvidos, para me livrar da toxicidade das relações amorosas.

– Como não? Tu acrescentaste cláusulas, e editaste algumas. Por exemplo: Em caso de divórcio, o dinheiro do casal permanecerá na possa de Noah Sullivan. Evelyn Mendes deverá regressar ao país natal, com tudo o que terá em sua posse no momento. Tens noção do que estás a fazer? – a esta altura, o músculo cardíaco já me doía tal era a força com que palpitava. – Eu, esposa de Noah, admito qualquer erro meu que tenha causado o divórcio.

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