26 | (In)Consciência II

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NOAH

   Maio. Dois meses se passaram. Exatamente nove semanas e dois dias. Tentávamos levar uma vida normal, a rotina permanecera a mesma desde que ele dera entrada no hospital; para nós e para todos os próximos a ele. A única coisa que talvez mudara mais, de forma positiva, fora a minha relação com Evelyn. Hoje completávamos cinco meses de casamento, seis meses e meio desde que nos conhecêramos e – ainda mais importante para mim, completava dois meses desde que ela declarara estar apaixonada por mim, e nesse dia, fui o homem mais feliz da minha vida.

– Demoras muito, princesa? – ouvi do outro lado da porta, à medida que penteava ao de leve os meus cabelos que queriam cair, a todo o custo, para o lado errado.

– Estou a ir! – falei mais alto, aplicando apenas um pouco de gel para segurar os fios de cabelo teimosos.

Após deixar a divisão, encontrei-a sentada sobre a cama, com uma expressão inocente, realçada pelos seus olhos azuis. Estava mais calor do que habitual, pelo que um vestido bailava no seu corpo e o seu cabelo estava apanhado de forma a que não atrapalhasse o seu pescoço. Não deixei que ela reagisse, apenas a trouxe ao meu encontro para a cumprimentar na forma devida.

Estava quase a ceder à tentação, quando sou chamado à razão pela minha mente no facto de estarmos a ficar sem tempo para tudo o que tínhamos planeado. Devido às circunstâncias, eu estava a usar óculos para me possibilitar uma visão mais clara ao longe, aquando as viagens ou televisão.

Quando o percurso ia a meio, e o trânsito ainda era pouco àquela hora da manhã, o meu telemóvel tocou. O nome de Nora aparecera no visor e eu parei o carro para que Eve atendesse corretamente a chamada. – Sim? Está tudo bem? Isso é ótimo! Não, nós íamos passar pelo centro comercial para depois ir ter contigo. Tens a certeza que estás pronta? Queres que vamos já para aí? Então, até breve, futura mamã!

– O que se passa? – eu questiono preocupado, mas com uma certa felicidade a irradiar o meu rosto.

– Hoje irão deixar que o Michael receba visitas. Os sinais cerebrais são cada vez mais intensos, tudo aponta para que ele esteja a recuperar saudavelmente. –

– Já não era sem tempo – suspiro, e sorrio, ao mesmo tempo que estaciono o automóvel no parque privado do centro comercial.

Tínhamos combinado tratar dos últimos detalhes do quarto de Jamie e Oliver para que sejam recebidos em casa já com este último pronto para os acolher. Sabemos que as paredes já tinham sido repintadas e faltavam somente as suas camas e as roupinhas para os primeiros dias. Estaria a usar um eufemismo se dissesse não estar ansioso pelo nascimento dos gémeos mais cobiçados pelos avós e pelos padrinhos. Já só queremos conhecê-los, depois de viver esta angústia durante dois meses.

– Que coisas tão pequeninas – Eve pega num fatinho pequeno em tons brancos. A sua voz soa baixinho, enquanto ela observa o ambiente à sua volta e algumas mulheres grávidas estão também a fazer as suas compras. – É tão lindo – pega num vestido de bebé e mostra-me.

– Podes comprar, mas não nos podemos exceder. Daqui a umas semanas eles já não as podem usar – envolvo a sua cintura com o meu braço.

– Já imaginaste aqui duas crianças iguais, com cabelo loiro do pai e os olhos verdes da mãe? E aqueles sapatos? Oh – ela parece maravilhada naquele mundo onde só existem coisas de bebés.

Dou por mim a vaguear só pela loja, enquanto espero que a morena escolha as peças mais adequadas aos gémeos. O meu olhar percorre o ambiente ao som de músicas instrumentais de fundo, e algumas conversas alheias das mulheres acerca dos seus bebés. Algo atrai a minha atenção e a minha mente leva-me para outro mundo; um mundo no qual também eu espero um filho.

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