19 | Pânico

87 20 5
                                    

EVELYN

A experiência estava a ser fantástica. Vinte e sete dias exatos desde que aterráramos em terras africanas, e desde então, as surpresas e aprendizagem não pararam. Os primeiros dias foram passados na capital do Egito, Cairo, em busca de fotografias originais para a realização dos projetos. Visitámos as famosas pirâmides, conhecemos uma nova cultura e ainda pudemos ter o privilégio de visitar uma escavação arqueológica que decorria naquele momento para a descoberta de mais dados acerca de novas pirâmides e monumentos que foram encontrados à apenas umas semanas.

Neste momento, esperava impacientemente o avião aterrar no nosso último destino da viagem. Uma província escondida a oeste do continente, cujo nome não consigo sequer relembrá-lo devido à sua complexidade. Antes disso, ainda teríamos de percorrer uns largos quilómetros até por fim conhecermos a pequena aldeia ali situada, que pelo que nos foi dito, eram as pessoas mais simpáticas com as quais alguma vez já trabalhámos nesta viagem. Ao todo, visitámos quatro tribos, as quais não perceberam bem a nossa presença, chegando a expulsar algumas vezes membros da nossa equipa de trabalho por contradizerem a sua cultura; algo que eu prefiro não mencionar, pois não posso dizer que eles foram terríveis para connosco, têm a sua maneira de ser.

– Evelyn, tens a tua câmara pronta? – assenti, analisando o objeto e verificando estar tudo em ordem. O que tenho aprendido em todo este caminho decorrido é que precisamos ter sempre o nosso material fotográfico pronto pois não se sabe se podemos encarar com um animal selvagem enquanto nos dirigimos para o interior das florestas e do continente. Ou até mesmo para fotografar as pequenas vilas, os locais mais desenvolvidos daquelas zonas.

– Hannah, precisamos da tua precisão, agora – a coordenadora fala, e não só a minha amiga como todos nós nos posicionámos melhor na carrinha com um reboque aberto para observar a paisagem à nossa volta.

Tudo isto tem sido um desafio. Nós não sabemos para onde vamos, ou o que poderemos encontrar pelo caminho até chegarmos lá, o que, no princípio era bastante assustador para mim, mas que me tem fortalecido imenso. O momento em que descemos em solo africano estava aterrorizada, com lágrimas nos olhos e queria voltar para casa, a minha casa de agora. Mas não podia, não podia perder a oportunidade de me envolver em projetos como este e ajudar a divulgar uma imagem totalmente diferente daquilo que as pessoas têm destes países subdesenvolvidos ou nada desenvolvidos.

Entretanto, enquanto a minha mente viajava pelas memórias antigas, consegui captar uma família de girafas com o meu olhar e cliquei sucessivamente no botão para que também ficassem registadas na memória da câmara. Um pouco mais à frente, um enorme lago, um vedado, e alguns hipopótamos apareceram na nossa paisagem. Porém, o que mais me surpreendeu foi o momento que adveio em seguida. Já a apenas uns metros de termos de deixar o transporte, deparámo-nos com algo fascinante, mas aflitivo para todos nós. Apenas o condutor do veículo, provavelmente habituado a estas situações, permanecia estacionado, enquanto esperava tudo isto passar. Uma manada de bisontes atravessava a estrada, uns trinta, correndo desesperadamente. Avançaram até o ambiente desértico, e lá, pareciam perdidos. Em seguida, uma família de leões aparece no nosso campo de visão, e também no ecrã de pré-visualização de todas as nossas máquinas fotográficas. Todos registámos o momento com a maior gratidão e felicidade, embora eu tenha ficado um pouco chocada o quão real é o que aparece nos documentários televisivos. Dois filhotes da espécie ameaçada pelo rei da selva ficaram para trás, e mais nenhum pareceu zelar pelo seu bem. O que aconteceu em seguida já se sabe, e nós não quisemos ver mais, uma vez que o caminho estava agora interdito.

– Bem, nunca nos tínhamos deparado com tal coisa antes! – a nossa coordenadora, Olivia, diz, limpando o suor da sua testa. – Vamos ter de adicionar um novo projeto aos nossos currículos e trabalhar com o que temos aqui. – nenhum de nós se opôs à ideia.

EssênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora