Capítulo 13 °

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°° Breeze °°

Cá estou eu, deitada na cama com uma dor forte no peito, mas não consigo por para fora, acho que nessa hora que os humanos choram, mas só posso ficar aqui e ter de aguentar essa dor no pé e também no peito, uma física e outra emocional.

Nunca odiei ninguém, sempre vi o melhor nas pessoas, sempre, mas o Dimitri, ele ultrapassa o limite da ruindade, não dá para ser legal com ele, apenas não dá. Ele está sempre com raiva de mim, mesmo sem eu fazer nada, acho que nunca precisei ser tão direta assim com alguém e expressar o que estava sentindo, mas precisava falar para ele, precisava colocar para fora. Me sinto tão mal, além de estar fraca, agora tem isso. Parece pior.

— Bom dia. — Sônia fala entrando no quarto com uma bandeja na mão, olho para ela e abro um sorriso frouxo. — Trouxe algumas frutas para você. — Fala e coloca a bandeja na cama. — Você está bem? — Pergunta e assinto. — Porque não está falando? — De senta na cama e engulo seco. — Fala comigo, Breeze, por favor. O que está acontecendo? — Seguro na mão dele devido a preocupação que esboça.

— Tudo bem, só preciso de um tempo e o Dimitri falou que não quer mais ouvir minha voz, preciso obedecer, cansei de me machucar. — A mulher começa a acariciar meu rosto e abre um sorriso caloroso.

— Sua voz é tão linda, não devia parar de falar só por que ele falou isso. Provavelmente, ele estava de cabeça cheia, dê um tempo. — Fica de pé. — Agora, vamos nos animar. Vou te ensinar a ligar a televisão. — Oh, isso parece bom. Ouvi dizer que televisão é muito legal e viciante.

Fico atenta quando ela pega uma coisa pequena cheia de botões e diz ser o controle, vejo o botão vermelho que devo apertar para ligar ou desligar e logo depois me mostra o botão que muda, segundo ela, de canal, memorizo o que ela falou, tenho a memória muito boa.

— Entendeu? — Pergunta e assinto. — Preciso ir, na hora do almoço eu volto.

— Sônia? — Ela me olha. — Água.

— Ok, mandarei Jhony trazer. — Abro um sorriso agradecida.

Sinto uma necessidade na garganta que jamais senti antes. Será que é por não virar mais sereia? Necessito beber água, pois sinto que vou desidratar.

Olho para a televisão, está passando desenho, deito de lado e fico olhando pela janela, é mais interessante. Não quero comer, não quero falar, não quero me mexer, não tenho vontade de fazer nada. Deve ser o que Tony disse antes, depressiva.

Não encosto em nada na bandeja, realmente, não quero comer, mesmo gostando muito da comida dos humanos. Fico assistindo desenho, pelo que vi, é uma esponja amarela que mora embaixo do mar, assim como eu, ele é muito sem noção, nada condiz com a realidade. Decido mudar de canal, tem uma mulher falando, ela está dizendo que vai chover amanhã, como sabe disso? Os humanos podem prever o clima? Que divertido.

Sempre gostei da chuva, mas não vou poder aproveitar, pois estarei presa aqui. Outra mulher começa a falar e fico mais triste ainda, ela disse que o número de estupros está aumentando, que muitas meninas não se sentem seguras mais ao sair sozinhas. O que quer que isso seja, deve ser bem ruim, porque se as meninas têm medo, não é bom. Continuo assistindo e fico interessada nesse canal, eles dão muitas notícias boas e ruins.

Sônia entra no quarto, com uma bandeja na mão e logo olha para a outra, que não foi mexida.

— Breeze, você precisa comer, perdeu muito sangue, precisa se alimentar direito para a cauda voltar. — Fala chegando perto de mim e colocando a bandeja com almoço em cima da cômoda.

— Posso te perguntar uma coisa? — Ignoro o fato de não poder falar, porém, estou muito curiosa. — É que ouvi na televisão que tem aumentado o número de estupros e muitas meninas estão com medo, o que é isso? Estupro? — Pergunto e ela arregala os olhos, nossa, deve ser algo bem ruim isso.

— É... Então, que pergunta. — Parece mão saber o que falar. — Bom, é quando um homem força uma mulher a ter relações sexuais com ele, contra a vontade dela, é, é isso, não vamos falar disso. — Fala e sinto que ela está desconfortável, prefiro ficar quieta e não proceder mais.

Já entendi o que é, por isso as meninas têm medo, deve ser horrível, ser forçada a isso, fiquei mais triste ainda, em saber que existem homens que fazem isso, no final é tudo igual, os humanos são ruins, poucos se salvam.

— Você está bem? Vai comer? — Pergunta e faço que sim só para não escutar ela falando que preciso me alimentar.

Ela logo sai do quarto, levando a bandeja de fruta, desligo a televisão e fecho os olhos, meu pé está doendo, quem sabe se eu dormir, diminui. Quero sonhar como os humanos fazem ao dormir, parece que posso ser feliz nesse mundo imaginário, já que é algo que não estou sendo aqui.

(...)

Já está de noite agora, Sônia acabou de sair daqui, frustrada, pois não comi nada hoje. O máximo que fiz foi beber água, muita água e levantar para fazer xixi. Foi tão engraçado quando isso aconteceu.

Sônia trouxe a janta, tinha acabado de acordar e comecei a sentir um aperto, uma queimação vindo da barriga. Pensei que estava morrendo, mas quando contei à mulher, ela disse que eu precisava ir ao banheiro e depois falou que como tenho pernas deve acontecer isso mais vezes.

Sei que os humanos vão sempre ao banheiro e não é somente para tomar banho, não imaginei que isso aconteceria comigo. Me sinto tão errada por gostar de ser humana, mas, ainda assim, fiquei triste por não ter minha cauda novamente quando tomei banho. Sônia me deu mais roupas, trouxe roupas íntimas, um short larguinho e uma blusa também, parecidos, ela falou que é um pijama.

— Quero ir para casa. — Olho para a janela. — Sinto falta da minha família. — Abraço minhas pernas.

São exatamente dez e vinte três da noite. Aprendi a ver as horas alguns anos atrás, sempre fui curiosa. Já sei muitas coisas sobre os humanos, só algumas que ainda são novidade, mas logo, logo, saberei tudo. Serei a sereia mais conhecedora de humanos do mundo todo.

Me deito, ainda olhando para a janela aberta e solto um longo suspiro. O tempo está nublado, acho que é pela chuva que vai ter amanhã.

Escuto a porta abrir, não vi Dimitri o dia todo, deve ser ele, pois a luz se acende assim que a porta se fecha, só ele faria tal coisa. Finjo está dormindo, e ele vai para o banheiro, assim como fez ontem quando chegou. Só que, dessa vez, não olho, pois a curiosidade me fez quase ver ele pelado. Tenho que entender que preciso ser curiosa só em certos momentos.

Confesso que a luz acesa me faz sentir melhor, me deixa menos assustada, me sinto bem sozinha quando tudo está escuro. Dimitri sai do banheiro, faz uns barulhos e escuto os passos indo até a janela, fecho os olhos para não me ver espiando.

Escuto a janela fechar e logo depois me sinto observada, continuo parada e a sensação some. O colchão afunda atrás de mim, o quarto é dele, a cama é dele, é de imaginar que ele vá dormir aqui. Só acho estranho porque sempre que chega perto de mim, ele fica com raiva. Esse homem deve achar que aqui é o lugar ideal para que eu fique e não tente fugir. Bella me disse algo sobre manter os inimigos perto, deve ser isso.

Minha fraqueza parece ter aumentado, estou de greve, não sei por que exatamente, mas estou. Costumava fazer em casa para conseguir as coisas do meu pai, mesmo tendo minha irmã caçula, e eu sendo apenas um ano mais velha que ela, papai me protege demais e isso até faz com que eu pareça a mais nova. Isso é bom, me dá certos privilégios, mas é ruim, pois ele fica em cima de mim o tempo todo.

O mais estranho é que naquele canal não disse nada do mar agitado, meu pai me esqueceu? Será que está me punindo por ser tão irresponsável? Tenho quase certeza que é isso, ele deve estar pensando que mereço ser punida assim e que vai ser uma experiência boa para me fazer virar adulta.

Voltei <3
Espero que estejam gostando da versão 2.0.

Comentem para que eu possa saber 🥰

Beijos amoras <3

Breeze - Uma sereia em minha vida 15/12Onde histórias criam vida. Descubra agora