Capítulo 35 °

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°° Breeze °°

Desperto, abro os olhos devagar e me adapto a claridade do quarto, lá fora está claro, acho que já é outro dia, estava de tarde quando tudo aconteceu, perto do anoitecer. Tento me espreguiçar, para expulsar a preguiça, mas Dimitri está agarrado ao meu corpo como se eu fosse fugir enquanto estiver dormindo.

Sônia no momento já deve saber do Moby e deve estar triste, preciso falar com ela. Tento me sentar devagar, para não acordar o homem, mas, no momento, que sento, ele puxa meu braço, me fazendo deitar, murmurando algumas coisas sem nexo e me agarrando. Estou de barriga para cima e ele de lado, com a perna em cima das minhas.

'Maravilha, até dormindo ele consegue ser possessivo.' Acabo sorrindo com o pensamento, mas desfaço quando lembro de tudo que aconteceu, não posso ficar feliz depois de perder meu amigo de quatro patas.

Ontem, tive muitas emoções e uma das consequências foi que consegui chorar, mesmo achando que era impossível. O mais estranho disso tudo é que estou me sentindo tão leve, como se um peso tivesse saído de meus ombros. Achei tão bom, só não gostei de perder a energia.

Sempre nos falaram que sereias não choram, mas isso pode ser apenas por morarmos embaixo da água, não daria para perceber. Foram criados tantos mitos, para nos diferenciar dos humanos, que agora nem sei se todas são verdades.

Preciso esperar o Dimitri acordar para poder levantar, ele disse que sou a única que já dormi na cama com ele e pelo jeito ele parece amar isso, não perde a oportunidade, talvez ele não seja tão ruim quanto parece.

— Bom dia. — Escuto uma voz rouca e sonolenta, viro o rosto pro lado, ficando a centímetros do rosto do Dimitri, ele ainda não tirou o braço de mim.

— Bom dia.

— Acho que sou um pouco aproveitador enquanto durmo. — Se dá conta que me segura, mas ainda não me solta.

– Aproveitador? Dimitri, você é possessivo até dormindo. — Acuso, e fico afetada quando ele faz um biquinho bem fofo.

— Ei, você precisa me tratar bem, perdi meu peludo. — Diz manhoso e quase derreti. Achei que era impossível, mas não é, Dimitri consegue ser mais fofo que o Chris. Finjo que estou bem, reviro os olhos e por pensar que não conseguiu, retira o braço e fica de barriga pra cima.

— O que resolveu sobre o Moby? – Pergunto e ele me olha, seu semblante agora está triste.

— Já resolvi tudo ontem a noite, faremos o enterro dele à tarde. – Diz tentando esconder o sofrimento, que é notório em sua face.

— Tudo bem. — Viro para a janela, ficando de costas para ele. Ficarei com ele, mas não quero que ele se sinta envergonhado por eu presenciar sua dor.

— Seria estranho se eu falasse que você tem cheiro de menta? — Dimitri pergunta ao pé do meu ouvido, me fazendo arrepiar, fico de barriga para cima, ficando bem perto do rosto dele e sentindo meu coração acelerar. — Não você... tipo, seu bafo... não, você não tem bafo, o cheiro da sua boca, seu hálito tem cheiro de menta. — Sinto vontade de rir quando ele gagueja e começa a ficar vermelho, será que está constrangido?

— Benefícios de ser uma sereia, eu acho. — Pisco divertida. — Você tem bafo. — Digo levando a mão ao nariz e tapando, fazendo cara de bichinho, com o cenho franzido, ele faz cara de assustado e começa a baforar na mão para sentir.

— Mentira, não tenho bafo. — Diz se sentando. — Merda, queria ser uma sereia. — Resmunga e começo a rir, ele me olha. — Um tritão, porque eu sou homem. — Assinto. — Não tenho bafo, meu hálito cheira a morango, vou te mostrar. — E pula da cama, saindo correndo em direção ao banheiro.

Breeze - Uma sereia em minha vida 15/12Onde histórias criam vida. Descubra agora