Capítulo 1 °

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°Breeze°

Os humanos sempre me intrigaram, andar com aquelas pernas deve ser realmente uma loucura. Meu pai nunca me permitiu ir até a superfície, mas sempre que ele estava ocupado demais para observar tudo à sua volta, dava minhas escapadas e ia até a superfície. Mesmo sabendo que possivelmente ele saiba disso, afinal, ele é o rei dos mares.

Tudo no mundo deles, sobre a terra me encanta, as luzes, os barulhos cantantes e todas as demais coisas. Já rodei quase o mundo todo dentro da água, o que me ensinou várias culturas diferentes.

Meu pai sempre viajou bastante, porque manter tudo em ordem nas águas, é complicado e demorado, imagino que na superfície também seja assim. Sempre viajei com ele, me possibilitando saber coisas novas e sempre dar minhas escapulidas, algumas palavras que uso, o pessoal do meu reino desconhece, mas ao ouvir os humanos falarem e pesquisar sobre, me deu um vocabulário diferente dos outros. Gosto de ser diferente.

Os humanos acham que sereias e tritões não existem, que somos mitos que pessoas inventam para assustar uns e encantar outros, mas a realidade é que existimos, assim como existem vários outros melis, tanto aqui no mar quanto na própria terra. Um acordo de paz selado há muitos anos, acabou nos tornando mitos ao decorrer do tempo. Não poderíamos interferir no mundo dos humanos, e eles não nos incomodariam.

Existem alguns nomes para definir os habitantes desse mundo, tem os humanos que não tem nenhum tipo de poder especial, são pessoas comuns. Existem os melis, que são pessoas que têm algum tipo de poder, transformação, algo que os torna diferentes, como eu que sou uma sereia. Os caçadores costumam nos chamar de monstros, pois acreditam que somos falhas da natureza e que não merecemos viver. Já os caçadores, são pessoas completamente ocas, vazias de sentimentos com um único objetivo: matar melis.

Nesse exato momento, estou indo até a superfície, estou acompanhando um barco muito grande, a cor dele é bonita, vermelho embaixo e branco a parte fora da água, consigo ver um pouco borrado, mas dá para saber que é branco. Esse barco é um dos que mais vejo aqui, onde as águas são mais profundas, muitos têm medo de vir para cá, pois o risco de acidente é maior, o barco pode sucumbir às ondas e assim afundar, mas esse parece ter coragem, ou melhor, parece procurar algo.

O total de vezes foram três, e por ninguém vir aqui, se tornou o que mais vejo. Na primeira vez, não vi claramente, foi minha irmã, ela disse que um humano a viu, mas ela mergulhou rápido.

Na segunda vez, eles voltaram aqui e algum homem jogou um dispositivo curioso, que saiu uma pequena faísca e logo foi afundando até o fundo do mar – e como sou curiosa, nadei até ele e estudei cada pedacinho, tenho até hoje.

Essa é a terceira vez, estou ficando curiosa com o que eles querem. Dá até vontade de sair e perguntar, minha curiosidade agradeceria, mas meu pai me mataria. Então, é melhor não, falando em curiosidade, ela está tão em evidência, que decido emergir e ver de perto o barco.

Chego a superfície e logo fico do ombro para cima fora da água, tiro o excesso de água do rosto e jogo o cabelo para trás, quando olho para o alto, após esse movimento que levou apenas segundos, vejo um homem loiro me encarando de boca aberta e olhos arregalados. Sinto uma sensação diferente quando nossos olhares se fixam e perco quase todo o ar. É como se respirar fora d'água fosse proibido.

Penso na besteira que fiz e nem dou tempo para ele gritar, pois mergulho desesperada o que faz minha cauda ficar exposta por pouco tempo fora da água, dando a ele mais prova ainda do que sou. Até porque nenhum humano nadaria tranquilamente por aqui.

Quando estou a uma grande distância do barco, vejo outro dispositivo como aquele primeiro e entro em pânico. Tento me afastar quando uma luz vermelha começa a piscar freneticamente, fujo do que pode acontecer, mas sou parada quando sinto um impacto muito forte me pegar, o dispositivo explodiu, não com fogo, mas sim com uma energia que fez a água a minha volta ficar com tanta pressão, que pareço prestes a sufocar enquanto meu corpo gira.

Breeze - Uma sereia em minha vida 15/12Onde histórias criam vida. Descubra agora