– O pôr-do-sol sempre foi a minha parte favorita do dia. – O homem ao meu lado comentou quando o silêncio se instalou e nós dois ficamos apenas um ao lado do outro, admirando a paisagem.
– Eu também gosto, principalmente quando estou perto de algum recife. O sol bate nos peixinhos dourados e eles brilham embaixo d'água. É lindo. – Olhei para ele e abri um sorriso de covinhas, o que o fez sorrir e suspirar involuntariamente e então eu corei.
Não é como se eu quisesse ter efeito sobre ele, era uma coisa intrínseca de minha natureza. Eu realmente fui criado para seduzir homens maus e os afogar para que as criaturas marinhas se mantivessem seguras. Era o pior em nós.
E ver Louis ali, olhando para mim como se eu fosse a melhor coisa do universo fazia meu coração acelerar apenas para logo em seguida se apertar em agonia ao lembrar que é apenas meu charme natural. Não há nada além de uma imposição de minha própria natureza.
Se eu pedisse que ele me acompanhasse até o fundo do mar, ele provavelmente o faria sem nem refletir sobre isso. Apenas porque eu o ordenei, porque minha voz e meu canto são irrenunciáveis.
– O que houve? – Ele perguntou com uma ruga de preocupação na testa. – Você ficou quieto e pensativo...
– Eu tenho que ir. – Disse rápido e mergulhei na água.
– Não! – Ouvi sua voz na superfície. – Harry, por favor. Mais um pouco. Me deixe olhar para você mais um pouco. – Ele implorou e meu coração se apertou.
– Eu sinto muito. – Emergi uma última vez, apenas para não deixá-lo sem respostas. Já era ruim o suficiente fazer com que ele me veja e pense nisso todos os dias daqui por diante, porque essa seria a vida dele agora, pensar em mim, escutar minha voz e ver meu rosto para sempre, até que a loucura o atinja e ele se jogue no mar para me encontrar. – Eu espero que um dia me perdoe.
Mergulhei novamente e dessa vez sem nenhuma esperança de voltar a vê-lo, mas guardei em mim o som de sua voz chamando meu nome ao longe. Me mantive perto o suficiente para resgatá-lo caso ele decidisse me procurar, mas isso não aconteceu.
E, embora eu devesse ficar feliz por isso, uma parte de mim queria que ele o fizesse. Assim, eu teria uma desculpa para tê-lo novamente em meus braços e poderia olhar em seus olhos mais uma vez. Olhos tão azuis e intensos quanto a parte mais profunda do oceano. Olhos que eu jamais esqueceria.
Quando o pequeno bote que o levou até ali começou a flutuar sobre a água, eu o segui, assegurando que ele chegaria a salvo até a praia. Vi de longe Louis recolher o bote para dentro do barco e olhar em direção às rochas em que nos vimos no dia anterior. Ele suspirou derrotado quando não me viu ali e eu tentei não sorrir por isso.
Finalmente pude mergulhar novamente em direção à colônia, sentindo toda a frustração por não poder ter mais nem um pouco de tempo com Louis.
Ele era único. Eu sabia disso. O observei por tempo suficiente para saber que ele era um humano diferente. Ele se importava com os tesouros que havia no fundo do oceano. Se importava com as criaturas marinhas. Se importava comigo.
Eu o vi quando chegou à ilha, vi todo o seu esforço em me procurar e encontrar um lugar apropriado para nós dois. O vi dormir calmamente enquanto esperava e não desistir em nenhum momento.
Não havia ambição em sua voz. Ele não queria me ver para me usar ou qualquer outra coisa. Ele queria me ver porque isso era importante para ele, porque eu era importante.
– Harry? – A voz de Niall soou a meu lado, mas eu ainda estava perdido em devaneios. – Onde você esteve o dia todo? Achei que ia me ajudar com aqueles pescadores no sul e... – Ele me olhou confuso. – Harry, você está me ouvindo?
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Mermaid - Larry Stylinson
FantasyPara Louis não bastava contrariar toda a ciência mundial e ser taxado como um cientista louco. Não bastava ter deixado toda a família e uma carreira para trás para viver no litoral da Grécia visitando pequenas e perigosas ilhas desabitadas. O destin...