Apago a última frase e tento de novo.
Depois do pesadelo de ontem não consegui mais dormir, por isso achei melhor tentar terminar minha carta, já que o prazo para as inscrições termina amanhã.
Olho pela janela, já é de manhãzinha. Sinto-me cansada e frustrada, escrevi a carta inteira, mas não sei se está bom o suficiente.
— Bom dia! — Arthur aparece atrás de mim e eu me assusto.
— Nossa, você é silencioso.
— Foi mal, não quis te assustar. O que está fazendo?
— Ah, não é nada. — Respondo e fico aliviada quando Arthur não pergunta mais nada e vai até a cozinha.
— Quer café?
— Claro, obrigada.
— Então, como está indo a carta? — Ele pergunta casualmente.
— Como você sabe?
— Você esqueceu de fechar a página no meu computador.
— Merda.
— Por que diz isso?
— Eu só não quero decepcionar ninguém, nem a mim mesma. Se eu não conseguir a bolsa vai ser...
— É claro que você vai conseguir, Laurinha. Que lugar seria burro o suficiente para não quere-la? — Ele diz e eu sorrio, me sentindo melhor.
É como se ele conseguisse passar sua confiança para os outros.
— Você me ajudaria? — Pergunto meio hesitante.
— Com o que? Ler a carta? Nossa, claro, seria uma honra. — Ele diz e eu reviro os olhos.
— Não me olhe assim, estou falando sério. — Ele diz puxando uma cadeira e se sentando ao meu lado.
Observo a cara de Arthur o tempo todo, mas ele não demonstra nada, nem se está gostando ou não.
Quando termina me devolve o rascunho e olha no fundo dos meus olhos.
— Você quer que eu seja sincero?
— Não, quero que você minta, mas nesse caso a sinceridade vai melhor.
— Eu gostei muito, você escreve bem, mas acho que você não deveria mencionar que está grávida na sua carta.
— Por que não? — Pergunto fazendo cara feia.
— Eles não vão querer aceitar uma aluna que possivelmente irá pedir licença maternidade em alguns meses, entende? Vão preferir dar a vaga para alguém que eles saibam que vai terminar o semestre.
— Oh!
— Mas todo o resto está ótimo...sua vida difícil, ter que sustentar a casa e ainda sim conseguir ser uma boa aluna, a morte dos seus pais e nenhum parente para te ajudar, seu sonho de ser alguém melhor. Tudo ótimo.
— Você acha que posso passar a limpo e enviar?
— Claro! Use meu computador, mas primeiro vamos tomar o café.
Servimos pão, geleia, queijo e café e tomamos nosso café da manhã juntos.
— Você tem planos para hoje? — Ele me pergunta.
— Estou precisando comprar umas roupas, deixei a maioria que eu tinha em Las Vegas. Tenho que lavar algumas também.
— Aqui perto tem uma lavanderia bem barata, sempre levo minhas roupas lá porque acaba valendo mais a pena do que comprar uma máquina. É bem barato mesmo, não se preocupe, e eles fazem bem o serviço. Mas não peça para eles passarem a roupa, porque eles cobram caro para isso.