"Ando devagar arrastando meu cobertor pelo chão. O corredor é comprido e a sala de papai é lá no fundo, onde mamãe disse que eu nunca poderia ir.
Penso que talvez isso seja uma má ideia, mas tive um pesadelo e sempre que tenho um sonho ruim mamãe me abraça e canta para espantar os monstros.
Chego perto da porta que está um pouquinho aberta e consigo ver mamãe e papai. Eles estão brigando de novo.
— Eu já disse para você não se meter nos meus negócios! — Papai grita, vermelho de raiva.
— Eu sei muito bem que negócios você foi resolver. Você foi vê-la, não foi? — Mamãe grita. Não gosto de ver ela assim.
— E se eu fui? Você pode me culpar? Com essa família lixo que eu tenho! Você é apenas a minha fonte de dinheiro e aquele imprestável do Hardy...por mim podia estar morto! — Papai diz e mamãe dá um tapa nele.
Eu não sou imprestável, eu tenho boas notas na escola.
— Sua vadia! Você vai ver o que é bom! — Papai levanta a mão para bater em mamãe, mas eu não posso deixar, eu amo a mamãe.
— Mãe! — Grito e entro na sala. Os dois olham para mim.
— O que você está fazendo aqui, Hardy? Vá para o quarto. — Mamãe diz com medo.
— Não machuque minha mãe. — Digo, olhando para papai e ele começa a rir.
— Pelo menos você é corajoso, não é garoto? Talvez eu possa dar um jeito em você. Sim, vou dar um jeito em você."
Acordo coberto de suor e com as mãos trêmulas limpo minha testa. Fazia muito tempo que as memórias de minha infância não me assombravam.
Jogo o lençol para o lado e sento-me na cama, esfregando o rosto. Olho para o relógio e vejo que está quase amanhecendo.
Levanto-me e abro a última gaveta de minha cômoda. Embaixo de todo o conteúdo encontro o que estava procurando.
Olho para uma versão muito mais jovem de mim mesmo, sentado no colo de minha mãe.
Ela sorri e me abraça e até hoje consigo sentir seus braços em mim. Lembro quando ela sussurrou antes de tirarem a foto: Por que a cara feia, meu garoto? Sorria e ilumine o meu dia.
Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto e rapidamente a limpo, como se tivesse alguém aqui para me ver chorar.
Guardo a foto em seu lugar e vou ao banheiro tomar um banho. Ao passar pela pia vejo o perfume de Laura no seu lado do espelho e paro.
Aproximo-me e pego o frasco, espirrando um pouco em meu pulso e ao sentir o perfume é como se alguém estivesse torcendo meu coração.
— Volta para mim, meu amor. — Sussurro fechando os olhos. — Por favor.
***
Saio do elevador e vou direto para minha sala. Meu sonho e a saudades de Laura me deixaram de extremo mau-humor.
— Senhor, tenho que dizer que... — Liam começa, mas eu o corto.
— Agora não.
Entro em minha sala e fecho a porta. O lugar já está completamente restaurado.
— Eu liguei duas vezes e você não atendeu.
Assusto-me com a voz e viro-me. Sentada no sofá está Tatya.