"Acordo e antes mesmo de abrir os olhos sei que tem alguém me observando.
— Bom dia, papai! — Ouço a voz de Gavin e abro os olhos lentamente, me acostumando com a luz que entra pela janela.
— Bom dia, filho. O que é que você tem aí? — Pergunto com a voz rouca pelo sono.
— Fiz seu café. — Ele diz e me entrega a xícara.
Apoio-me em meus cotovelos e agradeço ao pegar a xícara. Olho para dentro e vejo que ele misturou um pouco de água com pelo menos metade do pó de café.
— Não vai beber?
— Vou, só que mais depois. — Respondo, me arrepiando só de pensar em beber o "café" de Gavin que mais parece uma espécie de massa preta.
— Bebe agora. — Ele diz colocando as mãozinhas para trás e se balançando.
— Tudo bem, vou beber. — Levo a caneca lentamente até a boca e fecho os olhos. Quase vomito.
— Gostou?
— Uhnn, uma delicia! Obrigado, filho.
— De nada, pai. Podemos ir agora?
Coloco a caneca de lado e faço sinal para que ele suba na cama.
— Você lembra o que eu te falei, Gavin? O jogo é só depois do almoço. Agora são...7:15 da manhã.
Laura nunca me deixou levar Gavin a um jogo de baseball antes, ela dizia que ele era pequeno demais e poderia se machucar. Mas essa semana ele completa 5 anos e ela finalmente concordou.
— Ahh! — Ele diz e faz aquela carinha triste que derrete meu coração até quando ele faz a bagunça mais épica de todas.
— Por que você não deita aqui com o papai e a mamãe e dorme mais um pouquinho? Assim o tempo passa mais rápido.
— Como uma máquina do tempo? — Ele pergunta e eu rio.
— É, como uma máquina do tempo. Agora venha aqui.
Gavin me escala e entra embaixo dos lençóis, entre Laura e eu, ele me olha e sorri.
— Eu te amo, papai. — Ele diz com aquela vozinha que é música para os meus ouvidos.
— Eu também te amo muito, meu filho.
Gavin sorri e me abraça, fechando os olhos e se preparando para voltar a dormir.
Sorrio e acaricio seus cabelos. Laura se vira para nós dois e abre os olhos, ainda sonolenta.
— Bom dia. — Ela sussurra.
— Bom dia, amor. — Respondo.
— Bom dia, mamãe. — Gavin abre os olhos de novo e sorri para Laura.
— Meu príncipe lindo. — Laura se aconchega em Gavin e o beija, e eu abraço os dois."
Acordo e olho imediatamente para o lado, como todas as manhãs, mas estou sozinho na cama.
Fecho os olhos e esfrego o rosto, sentindo a decepção e a tristeza de acordar sozinho todos os dias.
Levanto-me, tomo meu banho, coloco meu terno, tomo meu café da manhã e entro no carro.
Tudo mecânico, como se eu fosse um robô. Ao chegar no escritório Egas já está me esperando.
— Bom dia.