Pronta para ser noiva

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Editado: 13/01/2021 às 14h01


A rainha não veio, alegou que se sentiu indisposta. Não sei se a mentira veio dele ou foi a mentira que sua mãe contou a ele. De qualquer forma, eu não fazia questão da presença dela.

O sorriso da minha mãe parecia que ia rasgar a cara ao cumprimentar seu genro dos sonhos. Deixei os dois disputando quem era o mais simpático e puxei Andrew pela mão.

- Quer bala, Andrew? - perguntei.

Bom, se ele não quisesse, eu queria!

- Eu quero - respondeu ele.

Levei Andrew para cozinha por outro caminho, queria adiar ao máximo as apresentações, os comprimentos, os elogios...

Soltei sua mão para pegar o pote de balas em cima do balcão no centro da cozinha.

- Seu pai já te contou da novidade? - perguntei enchendo sua mão de balas de maçã verde.

- Vocês vão se casar, né?

- É... Pois é. - suspirei olhando para ele - Você gosta da ideia? - questionei.

Andrew não conheceu sua mãe, não sei quais informações têm dela. A rainha Elara faleceu alguns dias após o parto, o reino só ficou sabendo que ela foi acometida de uma depressão grave quando se matou. A consternação foi total, a trajetória até o nascimento do príncipe foi algo muito televisionado, era o acontecimento do ano e teve o final mais trágico possível.

- Abre para mim? - pediu me estendendo uma bala me ignorando totalmente.

Na sala, o circo estava formado: Toda a minha família em volta do rei cheia de sorrisos.

- Aí está você! - acusou mamãe sorrindo para disfarçar a bronca que ela queria me dar por ter me ausentado.

Apresentei Andrew a todos e me sentei ao lado do meu noivo (?) enquanto o príncipe se juntava aos meus sobrinhos no tapete da sala brincando com um quebra-cabeças. Cruzei as pernas elegantemente e fiquei perto o suficiente para sentir seu braço roçando no meu, seu perfume nos cercava e eu disfarcei para não mostrar que achava seu cheiro muito bom. Seu rosto virou na minha direção e parecia me medir com o olhar conforme meus cunhados conversavam entre si.

- Você está linda - sussurrou.

- Não tem nada demais, não me produzi como deveria para receber meu noivo - dei de ombros.

- E nem precisa - disse mantendo seu olhar fixo nos meus olhos.

Minha família é grande, barulhenta e sabe ser assustadora quando quer, percebi que relaxou mais na minha presença, ele não deveria estar se sentindo confortável com tanta gente falando ao mesmo tempo e cheios de expectativa sobre ele.

Para definir o rei Túlio em uma palavra eu usaria "educação". Se fosse necessário mais uma, eu acrescentaria "gentileza". O rei elogiou a receita de família que mamãe fez com a ajuda das empregadas, elogiou Elise para Dinah e compartilhou histórias de Andrew quando tinha a idade de Elias, falou sobre o mercado empresarial com papai e discutiu segurança pública com meus cunhados. Ele tinha assunto com todo mundo menos comigo, parecia que precisava conquistar minha família tal qual fez comigo.

Apesar de ser muito cortês, suas palavras sempre me pareciam ensaiadas, suas perguntas decoradas e suas respostas forçadas. Talvez fosse coisa da minha cabeça, não sei se mais alguém percebeu o mesmo que eu. No meio do jantar que me toquei que Túlio só tem jeito de... Político. Bom, é o que ele é.

- Está calada, filha - comentou meu pai.

Minha família lembrou da minha existência e os rostos de todos se voltou para mim, inclusive Túlio, que ficou me analisando perifericamente com seus olhos verdes.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora