Epílogo

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Editado: 22/3/2021 às 15h19

As imagens das câmeras de segurança dos arredores da Divisão captaram os possíveis suspeitos com rapidez. Assim que eu soube do nome de Edward envolvido nesse caso, procurei a delegacia responsável pelas investigações pessoalmente, eu não deixaria meu amigo ser acusado de algo que não fez. Meu segurança tem sido fiel a mim desde o início do seu trabalho, eu conheço sua história e me compadeço da sua origem, Kristie o confiou a mim e eu não poderia deixá-lo desamparado, ainda mais sabendo como o sistema costuma tratar pessoas como ele.

A surpresa veio assim que tive acesso completo ao caso, eu nem tive tempo de contatar um advogado, o delegado do caso me garantiu que não o forçou a falar nada, ele mesmo poderia me contar. E eu quis ouvir de sua boca o motivo dele ter assumido a culpa porque eu sabia que ele não poderia fazer algo daquele tipo comigo.

- Você confessou - murmurei desacreditada.

Edward era diferente sem terno, ainda mais diferente algemado. Seus olhos estavam mais raivosos que o normal, parecia que um espírito maligno estava dentro dele.

- Está acobertando alguém? - perguntei e ele negou sem olhar nos meus olhos - Qual a sua participação nisso?

- Virou delegada agora? - indagou debochado.

- Eu sou sua rainha, me respeite! - exclamei usando de minha autoridade.

Eu realmente não estava com humor para lidar com os sarcasmos de Edward, ao mesmo tempo que suspeitava que ele tivesse traído minha amizade.

Sua feição se fechou.

- Foi o que disse ao delegado, eu coloquei um dos explosivos lá.

- Por que? - perguntei profundamente chateada.

- Porque nós cansamos daquele monte de gente rica que não faz ideia do que é sofrer decidindo coisas sobre a nossa vida! - rugiu.

- "Nós" quem? - questionei.

- Nós, Lucillie! Gente preta trabalhadora que serve os brancos dia e noite. Nós cansamos, Lucillie - disse ele.

Dei a volta na mesa da sala de visitas da cadeia pública. Éramos só eu e ele naquela sala, apoiei meu corpo sobre a mesa bem de frente para ele, eu queria estar o mais perto possível, queria que olhasse em meus olhos.

- Você disse mil vezes que não fazia parte de organização nenhuma, - acusei - você disse que jogava no seu próprio time.

Seu silêncio doeu em mim.

- Mentiu para mim, Edward. - concluí - Eu abri meu coração para você, estava disposta a aprender com você e você mentiu. Olha para mim! - chamei - Eu te tratei como um amigo e você era um infiltrado.

- Eu fui seu amigo - retrucou.

- Amigo... - eu ri da minha ingenuidade - Você sabia que explodiram a casa dos avós do meu enteado pensando que ele estava lá? - perguntei com os olhos marejados.

Esse assunto me deixava emotiva. Edward baixou o olhar para as próprias algemas.

- Fiquei sabendo depois que aconteceu. - disse parecendo sincero - Ele viajou com vocês - sua afirmativa pareceu mais uma pergunta.

- Viajou, - confirmei - mas só você sabia. A intenção era matá-lo.

- Nunca foi conversado nada sobre matar ninguém, a gente se certificou que não ia ter ninguém na Divisão na hora da explosão. E eu nunca concordaria!

Funguei. Meu psicológico estava abalado, meu coração estava partido, meu marido estava fora de órbita, meu enteado poderia não estar vivo e meu melhor amigo nos últimos tempos me traiu.

- Está assumindo a culpa por quem? - cruzei os braços.

Ele se manteve calado olhando para as próprias mãos. Neguei com a cabeça com raiva de quem quer que ele estivesse defendendo, ninguém o defendeu mais que eu e só recebi sua desconfiança.

- Eu te dei trabalho, fui sua amiga, entrei nessa sala disposta a bancar um advogado para você mesmo sem entender direito a história e vai me deixar ir embora pensando que você me traiu, que tentou matar meu enteado e que sempre foi um infiltrado que se aproveitou de mim? - indaguei.

Ele abriu e fechou a boca, continuou sem coragem de olhar para mim, fechou os olhos e soltou um suspiro para compor seu silêncio.

- Eu já assinei seu alvará de soltura, - comuniquei arrancando dele um meio sorriso - só falta você assinar sua demissão.

- Lucillie! - ele chamou quando eu dei as costas.

- Você me magoou, Edward.

O personagem Lucas tinha uma relevância para mim, Lucas simbolizava uma pessoa como eu. Eu nunca conheci pessoas como eu e, na adolescência, em específico, isso gerava crises em mim. Lucas era a pessoa que eu sempre quis conhecer, que se parecia comigo, que me ensinava coisas sobre a nossa cultura, que me dizia quem eu sou e o que significa ser negra. Lucas era a pessoa que me diria quem é Lucillie.

Meu erro foi ter colocado em Edward tudo o que Lucas significava para mim. Eu fiz de Edward um amigo mesmo ele não querendo, só que Edward foi mais que isso. Edward não me disse somente quem Lucillie é, ele questionou a existência de Lucillie, Edward me disse que Lucillie não sou eu. Lucillie, segundo Edward, é a filha branca dos meus pais que morreu, eu sou outra pessoa.

Lucas deveria dizer quem sou, porém Edward me disse o que não sou. 


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