Rio

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Solaria tinha restaurantes muito melhores que os da capital, não sei se era a comida típica, os frutos do mar ou a vista da praia que davam o diferencial. Talvez os três juntos somados à companhia de Túlio sempre se esforçando para ser bem humorado, dominando assuntos intelectuais, sendo iluminado pela luz do sol e segurando minhas mãos com o toque mais afável do mundo.

- Está prestando atenção no que estou falando? - perguntou e eu só percebi o que ele havia dito porque seu olhar se direcionou para o meu me tirando de minha linha de pensamento.

Neguei com a cabeça sem muito pensar no que estava fazendo.

- Estou sim - falei me contradizendo.

Túlio nunca provou pudim e eu o fiz comer, ele não aprovou o doce, achou enjoativo demais e deixou seu prato para mim. Apesar disso, deixou uma gorjeta gorda para o garçom e rendeu elogios ao chef. Em troca, ganhamos felicitações pelo casamento e uma declaração de boas expectativas por eu ser a nova rainha.

- Eu estava falando sobre a minha segunda graduação. - informou - Pensa em estudar mais alguma coisa? - perguntou enquanto caminhávamos pelo Parque Municipal como um casal normal.

- Pedagogia! - respondi de imediato - Fazia parte do meu plano para ser uma professora impecável, mas, agora que sou casada, acho que se tornou um sonho distante.

- Você é a rainha, pode fazer o que quiser - disse ele.

Meus olhos brilharam em expectativa encarando seu rosto contra o pôr do sol. Eu não esperava esse tipo de apoio vindo do rei já que ele se casou comigo pensando em uma função específica para mim. Túlio já me disse que me apoiaria no que quisesse fazer, só que não levei muita fé porque o loiro não deixava de ser um homem que me diria qualquer coisa que me convencesse a aceitar me casar com ele.

Em nosso último dia de lua de mel, eu acordei com outra bandeja de café da manhã na minha cama. Bolo de cenoura, um suco de frutas cítricas e uma flor. No bilhete, Túlio me avisava que tinha saído cedo para correr e voltaria antes do almoço.

Voltei a caminhar pela propriedade até encontrar o riacho com as águas que vinham da cachoeira. O sol era mais fraco ali, sentei-me sobre a pedra no meio das correntes de água. Com os pés, eu ia brincando com as pequenas espécies de coloridos que faziam cócegas nas minhas solas.

Passei boas horas ali apenas sendo embalada pelo canto dos pássaros e tendo a companhia das borboletas. Eu poderia me acostumar com a rotina de rainha se fosse só isso.

- Oi...

Abri meus olhos lentamente. Acho que Túlio entendeu que me assustava quando quebrava o silêncio gritando meu nome.

Olhei para trás e o percebi sentado às margens do rio, vestido em uma camiseta branca que deixava seus braços de fora, levemente transparente pelo suor e o centro do seu rosto estava levemente avermelhado.

- Não sentiu minha presença? Estou aqui há algum tempo.

Neguei com a cabeça.

- Estava concentrada no canto dos pássaros - confessei.

Ele olhou em volta procurando os pássaros sobrevoando as árvores.

- Aqui é bonito, não é? - indagou.

- A história conta que foi um presente de aniversário para sua trisavó - lembrei dos tempos de escola.

- É o que dizem nos livros de história. - deu de ombros - Não foi um presente romântico. A rainha Kandre tinha algum tipo de transtorno, esse lugar era terapêutico para ela - revelou.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora