A primeira impressão

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Editado: 15/01/2021 às 14h53

A Festa da Colheita caiu no esquecimento popular, somente as escolas ainda a celebram com finalidade educativa, afinal, faz parte da nossa história. É a celebração dos trabalhadores do campo da chegada da colheita das plantações, várias comidas regionais são servidas à base de milho e trigo, as danças são mais tradicionais e a vida tranquila do interior é exaltada.

Sempre foi minha festa de escola favorita, eu sabia todas as músicas de cabeça, ainda me lembrava das coreografias que apresentei na minha época de escola e cheguei a fazer um trabalho na faculdade apontando o arcadismo presente nas lendas regionais que se contava nesse tipo de festa.

Para as escolas, é um evento intimista, reservado somente aos pais de alunos, o que tornava o convite de Túlio ainda mais especial. Seria nossa primeira aparição pública como casal e justamente na primeira atividade escolar do príncipe.

O rei é educado, bem articulado e tudo o mais, mas não soube disfarçar o olhar sobre mim quando viu o que vestia para a festa. Fiz careta de imediato e quis voltar para o meu quarto para trocar. O traje deveria ser à caráter e tinha muito tempo que eu não ia em uma festa que exigia blusas quadriculadas, a opção que tive foi deixar a camisa de botões aberta sobre a camiseta de alças finas já que os botões não fechavam mais nos meu seios, o jeans era emprestado da minha irmã já que eu não tinha nenhuma calça que não tivesse os joelhos rasgados e isso não era apresentável para quem vai se tornar rainha.

Seus olhos desceram pelo meu corpo até às botas de cano curto e salto fino de maneira nada discreta, ele parecia surpreso, talvez com o fato de nunca ter me visto em uma combinação nada harmoniosa.

- Eu vou trocar. - decretei dando meia volta - Ficou horrível, eu sei.

- Não ficou! - segurou em meu pulso me impedindo de voltar para o meu quarto - Na realidade, você está muito bonita. - elogiou me puxando de volta - Desculpe minha expressão, não fui discreto, é que você ficou muito diferente.

Diferente era o jeito legal de dizer que eu estava feia. Tudo bem, é só uma festa de escola.

Procurei por Andrew pela sala e peguei minha mãe incrementando sua fantasia de vaqueiro com risquinhos de caneta em seu rosto que imitavam um bigode. Ele esperava pacientemente que ela terminasse de arrumá-lo enquanto me espiava pelo canto do olho parecendo ansioso para vir até mim.

- Não acho que essa é a primeira impressão de mim que queremos causar aos seus súditos - murmurei.

- A primeira impressão está no seu currículo, - retrucou - a segunda impressão está no seu rosto. - afastou um cachinho de perto da minha boca - Magnólia gosta de ter rainhas bonitas.

Peguei minha bolsa sobre o sofá da sala e parei ao lado de Túlio aguardando a maquiagem da minha mãe terminar.

- Prontinho. - ela disse - Vê se você gosta - lhe entregou um espelho e se virou para nós dois.

Os olhos de minha mãe brilharam com a visão de nós dois lado a lado, apoiou o rosto na palma da mão encantada e sorriu bobamente.

- Vocês combinam - disse ela como a sogra mais puxa-saco do mundo que ela é.

Revirei os olhos e apoiei a mão na testa para disfarçar a vergonha.

- É sua filha que torna a visão bonita, senhora Helena, não se engane - disse Túlio.

Já era o segundo elogio do dia e a gente nem saiu de casa ainda.

- Olha, pai, eu tenho bigode! - mostrou Andrew animado.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora