O homem por trás do rei

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Editado: 13/01/2021 às 13h42



Tomamos nossos lugares à mesa e começamos o almoço com apenas mamãe, Martin e papai conversando entre si sobre mim, sobre o rei, sobre o príncipe, sobre o Palácio. A rainha não fazia questão nenhuma de entrar na conversa embora fosse convidada várias vezes, ela dava respostas curtas ao que era perguntada e voltava a comer, o rei não parecia muito confortável em seu lugar na cabeceira da mesa e eu só conseguia prestar atenção em Andrew que não comia direito porque não estava sabendo manusear uma colher tão grande.

Olhei em volta e, percebendo que não era notada, tomei a colher da mão da criança ao meu lado e recebi seu olhar assustado, apenas sorri para ele e fatiei o peixe em seu prato com a colher mesmo em seguida levei a sua boca. Ele mastigou e sorriu para mim em agradecimento.

- Túlio, chame a babá para ajudar Andrew - disse a rainha percebendo a situação.

Ergui meu olhar e percebi que tinha virado o centro das atenções.

- Não precisa, - interferi - não é incômodo nenhum. Ele só precisava que a comida ficasse em pedaços menores, agora já pode conseguir sozinho, não é lindinho? - indaguei ganhando seu positivo.

Essa foi minha resposta, mas na verdade queria dizer que era um absurdo dar uma colher tão grande para uma criança de quatro anos comer e sequer ter o trabalho de picar os pedaços grandes.

Andrew não precisou da minha ajuda com a sobremesa, mas não pode continuar conosco até o final. Depois que ele sujou o resto inteiro com mousse de chocolate a rainha pediu que o retirassem do salão e que ele terminasse a sobremesa em outro lugar, o que eu achei extremamente rude.

- Eu vou levar Gerard e Helena para ver as fotos históricas de família, enquanto isso o rei adoraria te levar para conhecer o Palácio. - disse Martin - Lucillie é muito curiosa sobre a residência real - contou ao rei.

Por um lado fiquei extremamente ansiosa para conhecer cada canto desse lugar, mas ao olhar para cima para ver o rei imaginei o quão desconfortável seria esse tour ao lado dele.

Talvez eu estivesse o julgando sem o conhecer, mas o rei sempre me pareceu muito sério e antipático. Desde que assumira o trono se mostrava muito discreto, nunca vazou nada sobre sua vida pessoal e só aparecia na TV para o pronunciamento real obrigatório. Não consigo imaginar alguém que assumiu um país com catorze anos tendo amigos, namorada ou vida social mesmo ele sendo rico, poderoso, famoso e bonito.

Caminhamos para além do salão de jantar enquanto meus pais saíam por outra porta ao lado de Martin, a rainha se despediu do almoço mais cedo, mas ninguém realmente se importou com sua ausência.

- Sua mãe é muito calada, né? - puxei assunto com os braços para trás.

- Ela é. Acho que puxei a ela- respondeu.

Surpreendi-me por ele não ter sido monossilábico.

O rei perdeu o pai na adolescência e a esposa quando tinha acabado de ter seu primeiro filho. Não sei se foram esses fatos trágicos ou era da sua personalidade ser tão retraído assim.

O segui para dentro de uma sala menor mais parecida com a ante-sala indefinida que tinha na entrada.

- Esta é a sala de chá, - apresentou - minha mãe gosta muito deste lugar, acho que só ela usa esse cômodo.

Já conheço o lugar que devo evitar.

Olhei em volta. O ambiente é bonito. Novamente cheio de tons de bege, um papel de parede florido e uma mesa um pouco grande para ser apenas para tomar chá.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora