Lucillie

Um palácio, uma coroa e um marido

Editado: 20/01/2021 às 22h47

Eu nunca fui de ter muitos amigos, minhas amigas são minhas irmãs, todavia, com sorte, encontrei alguém que poderia muito bem ser uma das meninas Wittlock. Isto é, se fosse uma menina, claro. Renée estudou comigo e tem um futuro tão brilhante à vista, tanto que emendou o início do mestrado com o fim da graduação e está na Austrália agora, por isso não pôde vir para o casamento e eu nem sei quando o veria de novo.

Tentamos manter contato por mensagens. Só tentamos porque eu sou o tipo de pessoa que responde mensagens dois dias depois de recebidas. O principal ele sabe desde o início, desde então me chama de "minha rainha". Com o passar do tempo, eu fui descobrindo que a vida de majestade envolve muito sigilo e eu acabo não comentando de muita coisa, mas Renée não está interessado em assuntos políticos, está apostando todas as suas fichas que meu romance com Túlio vai dar certo.

- Romance! - bufei - Eu não sei o que tem de romântico nessa pilha de pastas que eu tenho que ler - mostrei o acúmulo de trabalho para a câmera do notebook.

- Lê junto com o rei, senta no colo de Vossa Majestade real e vai falando bem devagar e suave - ditou.

A explosão de gargalhadas fez bem para mim, percebi que tem um tempo que eu não rio com tanta vontade assim.

- Lucillie, você merece muito essa vida. Por tudo que você passou, por todo preconceito que você enfrentou para ter o diploma na mão. Você não poderia ter nada menos que um palácio, uma coroa, um marido gostoso e toda Magnólia se curvando para você - declarou.

- Bom, obrigada. - dei de ombros - Não que eu ache nada disso um trunfo. - vislumbrei todo meu quarto por cima da tela do notebook - Sinto sua falta, Rene - declarei.

Ele odiava que eu o chamasse assim, sem o acento e o sotaque francês, porém não pareceu se importar.

- Também sinto sua falta, minha rainha.

Dois toques na minha porta me fizeram encerrar a chamada de vídeo e liberar a entrada do meu esposo vestindo moletom apesar do calor.

- Atrapalho? - perguntou.

- Não, senta aqui - chamei batendo no meu colchão macio.

Meu quarto não é o mesmo de Elara, o quarto dela continua intacto e bem trancado. O casal real não dormia junto na residência oficial, talvez fosse hábito da realeza. Já o meu cantinho é apenas um lugar aconchegante com tamanho de salão de festas, meus livros não estão aqui, foram todos conduzidos para minha biblioteca particular.

- Atrasamos a nossa conversa, podemos conversar sobre isso agora - disse ele se sentando no local indicado com sua postura perfeita.

- A conversa de que você fala é o plano de recuperação fiscal ou...

- É sobre a gente - interrompeu-me.

Arregalei os olhos e recuei até que minhas costas se apoiassem na cabeceira da cama.

Adiamos esse assunto porque Andrew se acidentou no parquinho, ganhou um joelho ralado e alguns pontos em um machucado que ficou bem feio. Depois não tocamos mais naquela história, achei que Túlio não queria mais falar sobre isso e respeitei apesar de considerar importante.

- Eu não quero que pense que estou te regulando, só que, com Leda aqui aquele dia, percebi que teve tópicos que não tratamos antes do casamento - expliquei.

- Eu não tenho nada com ela - apressou-se em falar.

Digeri sua pressa em querer se explicar para mim.

- O ponto não é esse. - interferi - Eu não acho justo que nenhum de nós fique preso a essa relação, fidelidade só faz sentido com amor.

Pensei que o sorriso em seus lábios fosse de alívio, contudo ele parecia ter se divertido com o que disse.